Por Fernanda Távora e Louise Rodrigues*
Ato público na OAB discutiu prisões arbitrárias de ativistas
Evento reuniu advogados, políticos, estudantes, sindicatos e
representantes de organizações não governamentais
Presente em um ato público, na sede da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB), no Centro do Rio, a deputada federal Janira Rocha (Psol), pode
ser indiciada por favorecimento ao ajudar a advogada Eloísa Samy e os ativistas
David Paixão e Camila Nascimento a saírem do consulado do Uruguai na noite
desta segunda-feira (21). Segundo o corregedor da Alerj, Comte Bittencourt, foi
emitido um ofício solicitando explicações sobre as acusações que pesam contra
Janira. Ainda de acordo com Comte Bittencourt, dependendo da resposta da
deputada, serão tomadas as "decisões cabíveis" na Corregedoria.
Ato público
Durante o ato público, foram feitas críticas à dificuldade
de acesso dos advogados dos ativistas aos autos dos processos. Ronaldo Cramer
destacou, durante a abertura da mesa, a presença da OAB durantes as
manifestações e a necessidade de amparar o trabalho dos advogados na defesa de
manifestantes. "O que vimos, de dez dias para cá, nos deixou muito
preocupados. Inquéritos sem provas, prisões, intimidação, e empecilho aos
advogados para acessarem o processo. Os advogados têm que conseguir atuar na
defesa de seus clientes. Querem impor medo na advocacia, mas eles não vão
conseguir. Contem conosco".
Wadh Damous, ex-presidente da OAB-RJ, disse que existem três
itens fundamentais em um processo para julgar e condenar alguém: relatório,
fundamentação e conclusão. "Hoje nós vemos que esses três itens estão
acrescidos de pressão social e pré-condenações. Os juízes estão chancelando uma
condenação previamente declarada. Não existe intimidação aos juízes, apenas
estamos chamando a atenção para o fato de que ninguém, está acima da lei, nem juízes
e nem o MP".
Nadine Borges, presidente da Comissão da Verdade do Rio de
Janeiro, Marcello Oliveira, da CAARJ, e Thiago José, da UNE, compararam o
momento atual com governos de ditadura e enfatizaram a supressão do habeas
corpus. Eles também criticaram o acesso da imprensa aos processo dos réus
diante da recusa do governo de conceder informações aos advogados. Thiago pediu
a desmilitarização da policia, a reforma do sistema carcerário, a extinção dos
resquícios da ditadura e que fosse feito um pacto pela democracia.
Em seguida, Marino Icaraí, advogado de quinze réus falou aos
presentes no ato. Ele contou que tem sido ameaçado no exercício do seu dever.
"Esse ato que está acontecendo aqui por que ele nos enche de coragem e
eleva a moral", disse Icaraí. O advogado contou que chegou a se abrigar na
OAB depois que começou a ser perseguido. “Vivemos tempos sombrios de uma
ditadura civil. Até hoje não tenho a integra dos processos. A polícia prende
para investigar e faz antecipação de juízo", contestou. O advogado contou
que manifestantes tiveram suas casas revistadas e foram levadas para a
delegacia, sem mandato, para depor como vitimas de busca e apreensão. “Nada
mais nada menos que o velho DOPS [se referindo ao Departamento de Ordem
Política e Social, um dos órgãos da ditadura militar] . Chamar esses
manifestantes para depor como vitimas é uma maldade inominável porque a
testemunha não pode evocar o direito de silêncio. Isso é ilegal”, protestou.
Logo depois, o advogado Rodrigo Mondego, que acompanhou a
ativista Eloísa ao Consulado do Uruguai, tomou a palavra. Bastante emocionado,
ele defendeu a liberdade de expressão e afirmou que o estado do Rio é o estado
que mais viola os direitos humanos. "Se manifestar é um direito
humano", reforçou Mondego. O advogado também condenou a perseguição aos
advogados e disse que diferente, de outros estados brasileiros, no Rio os
advogados não tiveram acesso ao Centro de Comando e Controle. Sobre Eloísa,
Mondego lembrou que a colega de profissão era uma das advogadas mais atuantes
nas manifestações e acolheu um menor abandonado. "Ela está sendo
perseguida. Esse é um caso simbólico da violação dos direitos dos
advogados", enfatizou. Rodrigo terminou sua fala gritando "Liberdade
para Elo".
O deputado Jean Wyllys (PSOL) foi breve em sua fala. Ele
explicou o processo do pedido no Ministério Público e classificou as prisões
preventivas e temporárias como um abuso. "A representação nasceu daí, com
o objetivo de protestar contra esse abuso e não de intimidar juízes. Não
estamos defendendo violência, estamos defendo princípios", esclareceu
Jean.
Fonte: Jornal do Brasil
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*Fernanda Távora e
Louise Rodrigues são do projeto de estágio do JB
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