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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

País pacífico não é país desarmado

Por Alte Esq (Ref) Mario Cesar Flores
Ex-Ministro da Marinha

Em exposição no Clube da Aeronáutica, Rio de Janeiro, na campanha presidencial de 2010 (ou 2002, já não lembro) o então candidato José Serra proferiu esta frase: “país pacífico não é país desarmado”. A ideia responde à realidade, mas sua aplicação - o que seria armado / desarmado - varia de país a país e deve ser ponderada pelo que influencia, ou possa vir a influenciar no futuro imaginável. A inserção do país no cenário internacional e a própria segurança interna, onde ela é insegura Envolvidos nas tropelias globais, a percepção dos EUA sobre o que é estar armado ou desarmado é obviamente distinta, por exemplo, da percepção do Uruguai, que se preocupa com o mundo, mas não pode interferir significativamente. O Brasil se situa no difuso nível médio do quadro, ora mais, ora menos envolvido em suas nuanças variáveis.

O foco deste artigo é exatamente a avaliação desse envolvimento: natureza e probabilidade de problemas capazes de exigir o uso do poder militar e interesses e vulnerabilidades nacionais neles implicados. Essa avaliação deve ser a base conceitual do poder militar: sua configuração e prioridades nela incidentes, organização, distribuição geográfica e dimensões. Nos países democráticos é assunto em que os militares são apoiados pelo sentimento da sociedade, refletido em manifestações de intelectuais, mídia, diplomatas e, principalmente, de políticos ou de instituições políticas.

O Brasil está longe desse paradigma.  A segurança nacional lato senso e a defesa nacional propriamente dita - essa, em alguns países a preocupação protagônica e em outros praticamente inexistente - são temas alheios à nossa grande massa. Tangenciam rara e superficialmente o interesse dos brasileiros culturalmente credenciados e o dos políticos institucionalmente comprometidos a dar-lhes atenção. Uma ou outra instituição, geralmente universitária ou que reflete interesse econômico - da indústria de defesa, por exemplo-  dá-lhe eventualmente alguma atenção, sem profundidade.

Na segurança interna, em que já ocorreram atuações militares decisivas - no pós-república, em conflitos hoje inimagináveis, como Canudos, Contestado e a revolução paulista de 1932 -, volta e meia é aventado o emprego das Forças Armadas, agora na segurança pública, da alçada policial, embora possa caber-lhes contribuição episódica e até decisiva, respeitados os preceitos constitucionais que a regulam. As circunstâncias indicam o uso interno adequado: o Exército dos EUA atendia no século XIX a missão interna então a importante, o apoio à weaternização; atende agora a externa e está presente no mundo,

Voltando à defesa nacional: sem ameaça claramente perceptível, que preocupe no curto / médio prazo, a defesa nacional está praticamente alijada do pensamento brasileiro. Ressalta, em particular, o descaso ou o quase total (?) desinteresse do nosso mundo político que, vale repetir, num país democrático deve refletir a sociedade - ou, quando ela é apática, até substituí-la, já que a representa. Desinteresse político estimulado pela apatia cultural, mas também porque a defesa nacional, ignorada no ânimo societário, não inspira retorno nas eleições...

Da ausência de atenção nacional - sempre em realce a ausência de atenção política - resulta que os militares se vêem praticamente sozinhos no trato do assunto. Emerge aí uma questão delicada: no vácuo do desamparo conceitual político e societário, nosso poder militar vem sendo naturalmente orientado pelas visões profissionais das Forças, pelo que significa para elas a defesa nacional e estar o país armado ou desramado. Por mais que ideias e projetos desenvolvidos nas instituições militares respondam competentemente ao potencial de atribulações em que a atuação militar possa ser necessária, por mais que alicerçadas no estudo criterioso e no comedimento responsável, a realidade é que elas carecem de suporte no sentimento nacional e, principalmente, no elenco das preocupações políticas. Não se apoiam numa lógica política fundamentada - o “porque, para o que” - e isso ocorre não por relutância dos militares em considerá-la e sim por não existir tal lógica. A inconsistência turbulenta do suporte orçamentário aos projetos de preparo militar, complexos, caros e de longo prazo – o “com o que, como” -, que respondem àquelas visões profissionais, é também, além das agruras fiscais do Estado, efeito do descompromisso da política com a defesa e o preparo militar. Vale perguntar: se as agruras fiscais forem controladas haverá mais atenção política para a defesa...?

A mídia compartilha da apatia: pouco se dedica ao tema e quando o aborda, geralmente o faz sem profundidade, por vezes refletindo interesse econômico, quando não com algum preconceito. Exemplo emblemático: em notícia sobre assalto a caixa eletrônica em praia de São Paulo, comentarista da TV pergunta (citação de memória): onde estava a Marinha, quando os assaltantes fugiam em lanchas? Preocupada com o submarino nuclear... Deveria estar preocupada com a patrulha policial de praias com caixas eletrônicas?

A mudança do modelo alienado é complexa, passa por revisão cultural e política que não acontece de um dia para o outro. Mas se queremos um Brasil pacífico, sensata e comedidamente armado em coerência com a criteriosa avaliação de sua presença no atribulado mundo do século XXI, a defesa nacional precisa ser objeto de atenção do nosso mundo político, superado o descaso hoje prevalecente,

Essa evolução é pouco provável enquanto nossa política prosseguir envolvida nos meandros de crises políticas, econômicas e morais, na disputa por cargos / sinecuras da máquina pública, nas turbulências da improbidade e/ou da incompetência e nas trapalhadas fiscais, que tumultuam o dia a dia político em detrimento de grandes e complexas questões nacionais - entre elas a refletida no título deste artigo.


Fonte: Clube Naval

Responsabilidade Criminal

Por General Gilberto Pimentel
Presidente do Clube Militar

Quem pode duvidar que uma das mais importantes e delicadas tarefas de um governante, em especial numa democracia, seja a escolha dos seus auxiliares? É uma responsabilidade e tanto. Se falha nesse mister ele vai pagar caro, nas urnas quando se constata a pura incompetência dos escolhidos, ou em outras instâncias, incluída aí a criminal, se os danos causados aos governados for produto de dolo, que é definido como a violação consciente da lei, por ação ou omissão. Há, nesse caso, pleno conhecimento do crime que está sendo praticado.

Para conhecimento dos menos informados, é muito importante enfatizar que o Presidente da República do Brasil dispõe de um eficiente e muito bem montado sistema de inteligência capaz de assessorá-lo com alta margem de confiabilidade quanto aos antecedentes dos indicados aos postos da administração pública, não somente quanto a aspectos relativos à sua honestidade, honradez, mas até mesmo quanto à experiência e competência para o exercício do cargo.

Equívocos eventuais existem e sempre existirão. Esses devem ser vistos como exceções. Desenganos e desilusões são próprios da natureza humana. O caso em questão, no entanto, é absolutamente único. Sem precedentes. O presidente Lula, nos seus dois mandatos, nomeou para os mais altos postos de mando a pior espécie de gente que se possa imaginar.

Os mais influentes e poderosos deles estiveram sempre no seu entorno imediato, em postos chaves, muitas vezes dentro do próprio Palácio, vizinhos do seu gabinete. Também no seu círculo de amizades pessoais, funcionou assim. Empresários hoje envolvidos em atos de corrupção gozavam da prerrogativa do acesso livre ao ambiente de trabalho presidencial.

A lista dos marginais é longa, conhecida de todos, e seria exaustivo repeti-la na oportunidade. Alguns deles foram alcançados pelo Mensalão, outros pela operação Lava-Jato, e outros, ainda, nos dois escândalos. Parte cumpre pena ou já cumpriu e muitos, ainda, permanecem sob investigação.

Ladrões dos cofres públicos, distribuídos cirurgicamente em todas as instâncias do governo, quebraram o País, apoiados no maior esquema de corrupção conhecido e montado a partir da esfera oficial do Poder. Algo inacreditável que ainda está para ser avaliado em toda a sua extensão.

Inúteis os argumentos e equações para explicar a crise atribuindo-a a causas externas ou quaisquer outros fatores. O sentimento geral da Nação, excluídos os ingênuos e mal-intencionados, é de que a tragédia econômica é, sobretudo, produto do roubo. Foram bilhões de dólares. Mais, talvez, do que tenta hoje o governo arrancar do povo empobrecido sob a forma de impostos para tapar os buracos que ele próprio ocasionou.

Outro sentimento coletivo é o de que o presidente Lula tem, sim, contas a pagar por tudo o que ocorreu durante os mandatos que exerceu. E muitas contas! O que resta e se impõe é apurar o grau de seu envolvimento pessoal nos crimes praticados. Se ex-presidentes não podem ser julgados por crimes de responsabilidade, como deliberou recentemente a Justiça, eles podem e devem, como qualquer mortal, ser responsabilizados por crimes comuns que tenham praticado.

Há muito Lula deveria estar sendo investigado.


Vamos botar o cabresto no Estado Corrupto?

 
Soou como piada a ameaça de que o brutal corte no orçamento da União, que atinge violentamente o Judiciário, pode prejudicar as próximas eleições, a ponto de o Tribunal Superior Eleitoral desistir de adotar as modernosas urnas eletrônicas sem direito a impressão de voto para auditoria de recontagem. Se o TSE estiver falando sério, o suposto retorno ao passado pode representar um avanço, se o cidadão-eleitor-contribuinte voltar a ter a chance de controlar o processo eleitoral. Há vários pleitos somos reféns de um processo que proclama resultados que não podem ser questionados.

Outra boa notícia? O Jornalista Cláudio Tognoli já antecipou que o lobista Hamylton Pinheiro Padilha Júnior, que está em regime de delação premiada, vai contar tudo o que sabe desde Lula, no esquema africano que mexe com bilhões em negócios com o candidato a ex-banqueiro André Esteves, que já estaria curtindo as mordomias de ficar preso em Bangu 8, no Rio de Janeiro, comendo bacalhau do Antiquarius em vez de filar a boia pobre da cadeia. A  deplorável foto de um André, abatido com o uniforme verde do sistema penitenciário fluminense, tem um significado: ele está prestes a ser forçado a perder seus negócios mais lucrativos. Esteves parece ser a bola da vez escolhida pela máquina de moer gente das gestapos tupiniquins.

Além do homem bomba Hamylton, os acordos de leniência da Andrade Gutierrez tendem a produzir um efeito explosivo sobre as cúpulas do PT e, sobretudo, do PMDB. Tudo tem a ver com a denúncia do Procurador-Geral da República contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o poderoso senador paraense Jader Barbalho. Daqui a pouco, a prisão de Delcídio vai parecer um ato de rotina no País dos Políticos Corruptos. Rodrigo Janot corre para pedir o afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara. Imagina como fica, perante o mundo, um Brasil com seus chefes do legislativo cotados para passar temporadas na prisão.

Patético mesmo é saber que Delcídio Amaral classificou de "covardia atroz" a decisão da cúpula do PT de abandoná-lo e expulsá-lo do partido. Delcídio estaria com muita raiva de Lula. Tomara que a bronca seja real e se transforme em uma bela delação premiada que jogue o petismo no ventilador. Outro que pode fazer o mesmo é o ex-vice-presidente da Câmara, André Vargas, que continua preso na Lava Jato, sem previsão de saída. O maçom André ainda não teria aberto o bico porque seus aliados e familiares continuam prestigiados pelos esquemas de poder e favorecimento. Se essa maré mudar de repente, André parte para a delação...

Legal seria que o desgoverno seguisse a dica de Roberto Jefferson, na mais recente postagem em seu blog: Segundo Dilma, "faz-se o diabo na eleição". Como ela vendeu a alma ao coisa ruim na eleição de 2014, agora ele cobra a conta. O governo acabou, arrasta-se como cadáver pelas ruas do país, e já cheira mal. O PT conseguiu fazer do país um cambalacho onde poderes e agentes econômicos sucumbem ao menor indício de suspeita. Só fazem negar, mas a verdade emerge com a força de um tsunami. Corrupção sempre existiu, mas o partido do "Brahma" montou uma quadrilha que saqueou o país. Para o bem do Brasil, que renunciem Dilma, Eduardo Cunha e Renan Calheiros.

Vale repetir por 13 x 13: Em meio à crise estrutural, enquanto o modelo estatal brasileiro não mudar, implantando mecanismos eficazes e transparentes de controle pdo cidadão sobre as engrenagens da máquina pública, as organizações criminosas continuarão mandando e desmandando no Brasil. Não adianta fazer prisões espetaculares de empresários e alguns políticos, se não for alterado o sistema de representação e o funcionamento político do Estado.

A corrupção sistêmica tende a perdurar, porque é camaleônica: adapta-se à excessiva burocracia cartorial, ao exagero legal e ao absurdo esquema tributário (92 impostos, taxas, contribuições, fora as milhares de instruções normativas, medidas provisórias e infindáveis portarias ministeriais). A única notícia boa é que a maioria dos brasileiros começa a ficar pt da vida com a corrupção e os corruptos. Isto é bom, porque pode forçar as mudanças necessárias. Tomara!


Porcaria Orçamentária     



Uma nota para eles


Presos a eles mesmos

Cunha é a maior pedra no caminho do impeachment



Faz quase um ano que Eduardo Cunha trata como bandos de otários tanto a bancada governista quanto a bancada oposicionista na Câmara. Conforme a direção dos ventos, ora finge que vai aceitar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, ora finge que vai ajudá-la a permanecer no emprego. Esse pêndulo oportunista se tornou a grande pedra no caminho que leva ao afastamento da governante desgovernada.


Para remover tal obstáculo, basta que o Brasil decente reprise a mobilização que, há uma semana, obrigou o Senado a sepultar a conspiração urdida por Renan Calheiros para socorrer o colega presidiário Delcídio do Amaral. A Câmara também não resistirá à pressão dos milhões de indignados. Eduardo Cunha e Dilma merecem ser reunidos na boleia do mesmo caminhão de mudança. Brasileiros honestos não têm bandidos de estimação.