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sábado, 16 de agosto de 2014

O método PPP de escolher um candidato

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, 
Presidente do Pró-Vida deAnápolis

Na proximidade das eleições, é preciso oferecer aos cristãos um critério sólido para escolher os candidatos.

Se um edifício tem uma fachada linda, paredes bem resistentes, pilares grossos, mas não tem alicerce, ninguém de bom senso se atreverá a morar nele.

Assim, há candidatos com muitas qualidades humanas: capacidade de administração, boa retórica, boas relações com o público, preparo intelectual, mas nenhum cristão pode votar neles se houver falhas no que há de fundamental: o respeito à vida e à família.

Para escolher um candidato, é preciso examinar três coisas: primeiro, o seu Partido, segundo o seu Passado e, por último, as suas Promessas. É importante observar a ordem deste PPP. As Promessas estão em último lugar. Não devemos dar importância a elas se o Partido do candidato é antivida ou se o candidato no seu Passado favoreceu a cultura da morte.

1º) O Partido

A Igreja, justamente por ser católica, isto é, universal, não pode estar confinada a um partido político. Ela “não se confunde de modo algum com a comunidade política”[1] e admite que os cidadãos tenham “opiniões legítimas, mas discordantes entre si, sobre a organização da realidade temporal”[2].

Isso não significa, porém, que os fiéis católicos podem filiar-se a qualquer partido. Há partidos que abusam da pluralidade de opinião para defender atentados contra a lei moral, como o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo. “Faz parte da missão da Igreja emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas”[3].

Um exemplo de um partido incompatível com a moral cristã é o Partido dos Trabalhadores (PT). No 3º Congresso do PT, ocorrido entre agosto e setembro de 2007, foi aprovada a resolução “Por um Brasil de mulheres e homens livres e iguais”, que inclui a “defesa da autodeterminação das mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público”[4]. Todo candidato filiado ao PT é obrigado a acatar essa resolução. O Estatuto do PT põe como requisito para ser candidato pelo Partido “assinar e registrar em Cartório o ‘Compromisso Partidário do Candidato ou Candidata Petista’” (art. 140, c)[5]. Tal assinatura, diz o Estatuto, “indicará que o candidato ou candidata está previamente de acordo com as normas e resoluções do Partido, em relação tanto à campanha como ao exercício do mandato” (art. 140, §1º). Se o político contrariar uma resolução como essa, que apoia o aborto, “será passível de punição, que poderá ir da simples advertência até o desligamento do Partido com renúncia obrigatória ao mandato” (art. 140, §2º). Em 17 de setembro de 2009, dois deputados petistas (Luiz Bassuma e Henrique Afonso) foram punidos pelo Diretório Nacional. O motivo alegado é que eles “infringiram a ética-partidária ao ‘militarem’ contra resolução do 3º Congresso Nacional do PT a respeito da descriminalização do aborto”[6].

Não deve causar espanto que o PT aprove o aborto, uma vez que já no artigo 1º de seu Estatuto, tal partido se declara defensor de uma doutrina inúmeras vezes condenada pela Igreja: o socialismo[7].

Convém aqui recordar o ensinamento dos dois Papas canonizados pelo Papa Francisco: João XXIII e João Paulo II.

São João Paulo II explica que “o erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social. [...] O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral”[8].

O socialismo vê na criança por nascer algo que está subordinado à vontade da sociedade. Se for proveitosa para a sociedade, que nasça. Se for trazer ônus ao Estado, se trouxer mais custos que benefícios, que seja abortada.

Explica-se assim como há uma afinidade estreita entre o socialismo e a causa abortista. Não é à toa que o primeiro país do mundo a legalizar o aborto foi a Rússia, em 1920, logo após a revolução comunista de 1917. Não é à toa também que durante a vigência do nazismo (nacional socialismo), a Alemanha legalizou a prática do aborto com fins de purificação da raça (eugenia). Não é à toa que na China, que se tornou comunista desde a revolução de 1949, o aborto não é só permitido, mas até obrigatório como meio de controle de natalidade. E não é à toa que em Cuba, sob o regime dos irmãos Castro, ocorrem anualmente cerca de 66 abortos provocados para cada 100 partos![9]

Poderia haver um tipo de socialismo tão suave que pudesse ser aceito pelos cristãos? A essa pergunta, São João XXIII responde negativamente, recordando os ensinamentos de seu predecessor Pio XI: “Entre comunismo e cristianismo, o Pontífice declara novamente que a oposição é radical. E acrescenta não poder admitir-se de maneira alguma que os católicos adiram ao socialismo moderado”[10].

Eis a lista dos partidos políticos brasileiros que se declaram comunistas ou socialistas:
Partido dos Trabalhadores (PT) - 13
Partido Comunista Brasileiro (PCB) - 21
Partido Popular Socialista (PPS), sucessor do PCB - 23
Partido Comunista do Brasil (PC do B) - 65
Partido da Causa Operária (PCO) - 29
Partido Democrático Trabalhista (PDT) - 12
Partido da Mobilização Nacional (PMN) - 33
Partido Pátria Livre (PPL) - 54
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) - 50
Partido Socialista Brasileiro (PSB) - 40
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) - 16
Partido Verde (PV)[11] – 43

Exclua, portanto, os candidatos cujos números começam por

13, 21, 23, 65, 29, 12, 33, 54, 50, 40, 16 e 43.

Não votar em tais candidatos – mesmo que sejam seus amigos – é um ato de correção fraterna. Votar neles é ser cúmplice do erro que eles cometeram ao filiar-se a um partido anticristão.

2º) O Passado

Excluídos os candidatos pertencentes aos partidos acima, é preciso agora examinar o passado de cada candidato. Se ele já foi parlamentar, deve-se examinar como foi o seu voto nas questões relativas à vida e à família. Verifique, por exemplo[12]:

1) se em 02/03/2005 ele foi um dos deputados que votou contra ou a favor do artigo 5º da Lei de Biossegurança, que permite a destruição de embriões humanos.

2) se em 13/08/2008 ele foi um dos deputados que assinaram o Recurso 0201/08, de José Genoíno (PT/SP), solicitando que o projeto abortista PL 1135/91 não fosse arquivado, mas primeiro fosse apreciado pelo plenário da Câmara.

3) se em 28/05/2009 ele foi um dos deputados que assinaram a PEC 367/2009, pretendendo dar um terceiro mandato (pró-aborto) ao presidente Lula.

4) se em 19/05/2010 ele foi um dos deputados que votaram contra o Estatuto do Nascituro na Comissão de Seguridade Social e Família.

5) se em 22/04/2014 ele foi um dos senadores que votaram a favor da ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação.

3º) As Promessas

As promessas de defender a vida desde a concepção até a sua morte natural etc., ainda que sejam feitas por escrito e assinadas, só têm algum valor se o candidato já venceu as duas etapas anteriores: o Partido e o Passado. É totalmente inútil, por exemplo, que um candidato petista (que, portanto, já assinou o Compromisso Partidário do Candidato Petista em defesa do aborto) venha agora assinar um outro compromisso em defesa da vida. Cuidado, portanto, com os “pró-vida” de última hora!


Fonte: Julio Severo

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Notas:
[1] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, n. 76.
[2] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, n. 75.
[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 2246, citando “Gaudium et Spes, n. 76.
[4] Resoluções do 3º Congresso do PT, p. 82. in: http://old.pt.org.br/arquivos/Resolucoesdo3oCongressoPT.pdf
[5] Partido dos Trabalhadores. Estatuto, art. 140, c in: http://old.pt.org.br/arquivos/ESTATUTO_PT_2012_-_VERSAO_FINAL_registrada.pdf
[6] DN suspende direitos partidários de Luiz Bassuma e Henrique Afonso. Notícias. 17 set. 2009, in: http://www.pt.org.br/portalpt/documentos/dn-suspende-direitos-partidarios-de-luiz-bassuma-e-henrique-afonso-254.html
[7] “Art. 1º - O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs [...] com o objetivo de construir o socialismo democrático”.
[8] JOÃO PAULO II, Encíclica Centesimus annus, 1991, n. 13.
[9] Cf. Anuario Estadístico de Salud 2013, p. 166, in: http://files.sld.cu/dne/files/2014/05/anuario-2013-esp-e.pdf
[10] João XXIII, Encíclica Mater et magistra, 1961, n.º 31
[11] O PV não se declara socialista, mas em seu Programa defende o homossexualismo e a legalização do aborto (cf. http://pv.org.br/wp-content/uploads/2011/02/programa_web.pdf).
[12] Pode-se verificar isso clicando em “Como votaram”, no sítio do Pró-Vida de Anápolis: www.providaanapolis.org.br

Comentário de Julio Severo
Embora o alvo do artigo do Pe. Lodi sejam os católicos, o público em geral também pode se beneficiar de suas instruções, que são especialmente importantes para os católicos, considerando a hegemonia esquerdista da CNBB na Igreja Católica do Brasil.

Deputada que deu carona a black bloc é cortada do horário eleitoral
PSOL tenta se distanciar de deputada que ajudou black blocs


Janira Rocha, deputada estadual pelo PSOL
Janira Rocha, deputada estadual pelo PSOL 
(Carlo Wrede/Ag. O Dia/VEJA)
Janira Rocha ficou fora do horário eleitoral gratuito na TV e no rádio. Partido diz preferir dar espaço a candidaturas que "potencializem o desempenho" da sigla

A deputada estadual Janira Rocha (PSOL) ficou sem apoio do próprio partido para concorrer às eleições deste ano. Depois de dar carona a black blocs foragidos da Justiça, o que pode levá-la a enfrentar mais um processo por quebra de decoro, a parlamentar foi excluída nesta quinta-feira do horário eleitoral gratuito na televisão e no rádio.

Janira conseguiu 6.442 votos na eleição de 2010. Só foi eleita porque Marcelo Freixo obteve 177.253 votos e o partido conseguiu atingir o quociente eleitoral com votação suficiente para levar mais um deputado para a Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj). Desta vez, os dirigentes partidários não apostam na eleição de Janira. "Teremos 20 segundos em cada programa na televisão. Vamos concentrar a propaganda em um número menor de pessoas. Ela não teve grande votação em eleições passadas. Optamos por candidaturas que avaliamos que podem potencializar o desempenho do partido", afirmou Rogério Alimandro, presidente do PSOL no estado do Rio de Janeiro.

A exclusão do horário eleitoral motivou reclamações de Janira em uma rede social. "Isto ocorre porque pertenço, nos debates internos, à corrente minoritária aqui no Rio de Janeiro", afirmou a deputada.

A parlamentar já teve a conduta questionada até por correligionários. No dia 21 de julho, a deputada deu carona, em veículo oficial, à advogada Eloisa Samy e ao black bloc David Paixão para fugir de cerco policial no Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro. A dupla passou o dia no local à espera da análise de um pedido de refúgio político. Assim que a demanda foi rejeitada pelo Uruguai, partiram em fuga no carro da deputada. Isso evitou que a advogada foragida fosse presa – havia, no momento, um mandado de prisão preventiva contra ela. Depois, Eloisa conseguiu o direito de responder a processo por associação criminosa em liberdade. A conduta da Janira é analisada pela Corregedoria da Assembleia Legislativa e pode resultar na abertura de um processo por quebra de decoro.

Se for mesmo aberto o processo disciplinar, será a segunda ação por quebra de decoro em trâmite na Casa. Ela ainda vai ser julgada pela acusação de reter salários de funcionários comissionados. Também pode responder a processo penal pelo crime de favorecimento pessoal – a depender do parecer, ainda pendente, do procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Marfan Vieira.

Criminosos sedentos de justiça

Por Tiago Venson
 
Diz o ditado que as estradas para o inferno são pavimentadas com boas intenções. A mensagem é que a ninguém é facultada a prerrogativa de não observar as conseqüências de suas ações. A ninguém é dado o direito de esconder-se por detrás de belas palavras, por mais convincentes que sejam, e por mais que se acreditem nelas do fundo do coração.

Isso porque a fórmula para o reconhecimento do bem ou mal não é a beleza ou fealdade do discurso, mas os resultados que decorrem daquilo que se defende. “Pelos frutos, conhecereis a árvore”, já dizia Deus em pessoa.

Em âmbito do direito penal, são ubíquas as falas sobre o caráter malévolo das sanções, sobre a incapacidade regenerativa do cárcere, sobre a falência do sistema penitenciário. Essas idéias são tecidas de forma extremamente sedutora, de modo que sua disseminação é impressionante. Claro, à medida que se afastam de suas fontes originadoras – dos pensadores que inicialmente formulam tais discursos –, as teses vão perdendo a elegância, depois os contextos, a extensão e, por fim, tornam-se a mera expressão grosseira e ultra condensada do cerne da idéia. Quem nunca ouviu que “a prisão é uma escola para o crime”?

Essa assertiva nada mais é do que uma compactação de textos como o seguinte, do Juiz Federal Tourinho Filho ([i]):

A mídia induz o povo a acreditar que a questão da violência se resolve aumentando as penas e mandando o criminoso para a cadeia. Incute a idéia de que a paz se consegue aumentando-se o número de figuras delituosas.
É preciso desmistificar a ideia de que o direito penal (principalmente, a prisão) é a solução para a contenção da onda de criminalidade que invade, domina e sufoca a sociedade.([ii])

Não há como negar a habilidade do autor de uma redação que, em meia dúzia de linhas, consegue acumular a insinuação de que os discordantes são manipulados e ingênuos, reduzir as teses possíveis a um pobre preto e branco sem gradações intermediárias, fechar os olhos para a ausência de provas conclusivas quanto à questão discutida para, por fim, pular qualquer liame lógico e expor, como conclusão, em um tom impositivo, uma instrução explícita sobre o que os leitores devem fazer.

Sob essa avalanche erística, quem se lembraria de pensar que nunca viu, na imprensa, esse exército de jornalistas espumando em alaridos por lei e ordem, mas que, ao contrário, a coisa mais comum do mundo são matérias, filmes e artigos sobre o bandido “vítima da sociedade”?

Quem não gostaria de concordar com o autor para, no mesmo ato, sentir-se alçado a uma casta superior, uma categoria de esclarecidos que paira muito acima dos discursos midiáticos e enxerga, daquelas alturas, os longínquos horizontes onde um céu de misericórdia se funde com um mar de nitidez e certeza?

O apelo é reforçado devido ao fato de que tese segundo a qual o aumento do número de prisões não resulta na redução da criminalidade não é absurda, mas perfeitamente possível. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, a população carcerária aumentou 380,5% no período entre 1992 e 2012[iii] e, não obstante, os níveis de criminalidade continuam a subir. Ou seja, houve mais prisões e, ainda assim, mais crimes.

Além do mais, segundo o secretário-geral do mesmo órgão, a taxa de reincidência varia entre 60% a 70% ([iv]), o que demonstra que, realmente, no Brasil, o caráter reformador da pena é falho.

Como discordar, então, de idéias expressas pelas mais afiadas técnicas de convencimento, e ainda corroboradas por tais números?

Para isso, é preciso examinar a questão mais a fundo e ver que, entre o branco e o preto, há todo um espectro de cores.

Com base nos dados expostos, a conclusão inafastável é que é inviável asseverar o potencial de o aumento quantitativo de prisões reduzir a criminalidade. É possível que, por mais que se prendam, os índices de cometimento de delitos continuem a aumentar. Basta, para isso, que as motivações para a criminalidade sejam externas e alheias aos presídios ([v]).

Mais difícil, entretanto, é sustentar-se que a criminalidade aumenta devido ao incremento do número de prisões. Embora alguns defendam que o criminoso sai da cela pior do que entrou, não parece plausível afirmar que foi o grande número de segregações efetivadas que o fez optar pelo mundo do crime e ser preso pela primeira vez.

Porém, se ninguém sabe se o aumento da punição é capaz de reduzir os crimes, e se poucos afirmariam que os crimes ocorrem porque os criminosos são presos, todo mundo sabe que a impunidade é um estímulo fortíssimo ao cometimento deles ([vi]). Essa certeza é tão antiga quanto o anel de Giges.

E é exatamente na conclusão mais revestida de certeza que o Brasil mais falha.

Em relação aos homicídios, apenas 8% são punidos ([vii]). Dos 134.898 inquéritos por assassinatos iniciados até 31 de dezembro de 2007, apenas 31,94% foram concluídos até 2012 ([viii]) ([ix]).

Esses dados referem-se a crimes de homicídio, chocantes por natureza. Qual não será a proporção de prisões em outros, menos explícitos, como roubo ou furto, nos quais, em muitos casos a vítima, de tão descrente, nem perde tempo se dirigindo a uma delegacia para fazer o registro?

Acontece que nem mesmo essa minoria, essa amostra ínfima, de criminosos que é capturada e condenada, é devidamente punida. Claro, não se podem negar as situações precárias dos presídios, que transformam a curta pena em um “intensivo”. Quanto a isso, entretanto, não custa notar que aqueles que declararam guerra contra a punição dos criminosos combatem duramente cada projeto de construção de presídios, ao mesmo tempo em que acusam a desumanidade da superlotação das celas.

Incoerências à parte, imaginem que uma pessoa é condenada a 6 anos de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, e inicie sua pena em dezembro de 2011. Ela deveria ficar presa até dezembro de 2017, certo? Pois não é o que acontece...

Em vários estados do Brasil, o sistema carcerário sofre de um déficit de vagas em regime semiaberto ([x]). Como o condenado não pode ser punido além da condenação, se não houver vagas no regime estabelecido, ele é recolhido em regime aberto, ou seja, em casa de albergado (inexistente na maioria das comarcas brasileiras)([xi]), em prisão domiciliar, ou mesmo libertado mediante uso de tornozeleira eletrônica. Assim, dependendo da sorte de nosso detento-exemplo, ele vai para casa logo no primeiro dia.

Mas supondo que haja vaga no regime semiaberto, ainda assim a situação não é muito pior. Com 1/6 da pena, a Lei de Execuções Penais possibilita a progressão de regime. Ou seja, em dezembro de 2012, um ano após a condenação, ele tem direito de ir para casa - de albergado ou a dele próprio.

Além disso, em dezembro de 2013, a pena é encerrada, pois todo fim de ano a Presidência da República perdoa os presos que cumpriram 1/3 da pena (ou metade, se reincidente, dentre outras 18 hipóteses) ([xii]). Sim, o sujeito é condenado a seis anos de reclusão na iminência da virada para 2012, mas no final de 2013 ele está livre, leve e solto pelas ruas, perdoado do que fez ([xiii]).

Os efeitos nefastos dessa política de não punição são muito mais extensos do que a simples infusão de confiança no meliante, que reincide, de novo e de novo, enquanto sacode os ombros com um irônico “dá nada não”.

Segundo relatório produzido pelo Ministério da Justiça em 2012, no ano de 1990, a proporção de presos provisórios - aqueles reclusos sem condenação transitada em julgado - em relação à população carcerária, era de 18%. Em 2012, essa proporção aumentou para cerca de 40%. Em números absolutos, a elevação foi de impressionantes 1093% ([xiv]).

As cifras dão a indicação preocupante de que as autoridades judiciárias estão lançando mão aos últimos mecanismos disponíveis para evitar a completa extinção das punições no Brasil. Sabendo que, ainda que condenado, o criminoso não cumprirá a pena, a solução é decretar a prisão logo que iniciado o processo, na esperança de que ao menos um pouco da sanção seja executada.

Do mesmo modo, a partir do exame dos recursos que chegam às instâncias superiores, é possível observar que, provavelmente sob o mesmo raciocínio, progressões de regime e indultos são postergados, presos são recolhidos em regime mais gravoso até o surgimento de vagas, menores traficantes são internados, tudo sem amparo legal.

Não é necessário dizer que isso arruína a segurança jurídica. O uso indiscriminado das prisões cautelares é um convite a segregações injustas. A administração da execução penal fora dos termos estritos da lei transfere o fundamento da autoridade do magistrado do ordenamento jurídico para sua subjetiva boa intenção.

Mas o efeito deletério da impunidade também não se limita ao judiciário. Hoje são comuns os vídeos de desabafos de agentes de segurança pública, indignados com as prisões sucessivas dos mesmos indivíduos em intervalos ínfimos de tempo. Não é difícil prever que, mais hora, menos hora, a paciência dos policiais se acabará e eles começarão– se ainda não tiverem começado - a resolver o problema de uma forma menos ortodoxa.

Aliás, não é exatamente isso que tem feito a população, ao linchar e amarrar os alegados criminosos, buscando retomar, à força, o direito - e dever, frise-se - de punir, cedido ao Estado?

E assim, lentamente, vemos juízes, policiais e população se afastarem da lei para poderem, só assim, fazer justiça. É obvio que nenhuma justiça virá disso, mas sim uma sucessão de erros de julgamento que resultará exatamente no contrário.

Enquanto isso, os clamores pela redução das punições continuam sendo espalhados e atendidos. E sob tais pretextos, vamos nos tornando, todos, criminosos.



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Tiago Venson é analista judiciário.

Notas:
[i]Que, por sua vez, nada mais é do que uma compactação de discursos anteriores, de exaltação do lumpenproletariat, que datam, no Brasil, de ao menos 1930.
[ii]http://www.conjur.com.br/2013-fev-11/tourinho-neto-sou-garantista-porque-cumpro-constituicao
[iii]http://www.conjur.com.br/2013-fev-09/observatorio-constitucional-abuso-prisoes-provisorias-pais
[iv]http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/7797:cnj-apresenta-projeto-comecar-de-novo-a-juizes-das-varas-de-execucao-penal
[v]Alguns exemplos de tais motivações são a atratividade do lucro fácil, a ausência de valores morais, o materialismo excessivo, o vitimismo, o domínio do narcotráfico associado a uma subcultura de exaltação do modo de vida “ostentação” dos traficantes, etc.
[vi]De tudo isso se conclui que, se é possível que seja ruim punir, certamente é pior ainda não punir.
[vii]http://www.conjur.com.br/2011-mai-09/somente-homicidios-sao-resolvidos-50-mil-cometidos-pais
[viii]http://www.cnmp.mp.br/portal/images/stories/Enasp/relatorio_enasp_FINAL.pdf
[ix]Por concluídos entendem-se aqueles que resultaram em denúncia – gerando uma ação penal – ou em pedido de arquivamento – considerados casos perdidos.
[x]http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI194415,101048-Regime+semiaberto+praticamente+nao+existe+no+Brasil
[xi]http://s.conjur.com.br/dl/anteprojeto-reforma-lep.pdf
[xii]Ver o último Decreto Presidencial em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8172.htm
[xiii]De regra, são excluídos do benefício apenas os autores de crimes de tortura, terrorismo, tráfico e hediondos.
[xiv]http://www.conjur.com.br/2013-fev-09/observatorio-constitucional-abuso-prisoes-provisorias-pais

"O PARAÍSO PERDIDO"


"A Teologia da Libertação é mais importante que o marxismo para a revolução latino-americana" Fidel Castro, citado por Frei Betto em "O Paraíso perdido", pag. 166.

Paraíso perdido é o título de uma obra poética de John Milton sobre a tentação e queda de Adão e Eva. E é, também, o título de um livro de memórias gastronômicas e de militância comunista em que Frei Betto descreve suas andanças pela América Latina e Leste Europeu nos anos 80.

São mais de 400 páginas relatando dezenas, talvez mais de uma centena de viagens e itinerários em contato com lideranças católicas e governos comunistas, cumprindo dois objetivos: aproximar os católicos do comunismo e apresentar a Teologia da Libertação (TL) às lideranças comunistas. Muitas dessas viagens tiveram Cuba como destino e Fidel como figura central. Ao longo dessa jornada em que o frei vendia mercadoria avariada para os dois lados, ele e Fidel se tornaram amigos.

O relato se encerra pouco após a queda do Muro de Berlim, com o desfazimento da União Soviética. As longas páginas finais em que discorre sobre a perda do "paraíso", podem ser resumidas nestas palavras do autor: "Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida social. Essa revolução cultural certamente é mais difícil que a primeira, a social. Talvez por isso o socialismo tenha desabado como um castelo de cartas no Leste Europeu. Saciou a fome de pão, mas não a de beleza. Erradicou-se a miséria, mas não se logrou que as pessoas cultivassem sentimentos altruístas, valores éticos, atitudes de compaixão e solidariedade”.

Ora, economias comunistas são estéreis. Não saciam a fome de pão. E a fome de beleza, a cultura de valores, compaixão e solidariedade, jamais foi gerada sob o materialismo de tal regime. Sem qualquer exceção, onde ele se instalou, avançou com ferocidade contra tudo que os poderia produzir. Família, liberdades, religiões e seus valores foram sempre espezinhados sob o tacão do Estado totalitário. Quem quiser detalhes, informe-se sobre o que aconteceu com padres, bispos, cardeais, instituições religiosas na Hungria do cardeal Jószef Mindzensty, na Tchecoeslováquia do cardeal Josef Beran, na Polônia do cardeal Wyszynski, na Ucrânia do arcebispo Josyf Slipyj, na Iugoslávia, do arcebispo Stepinac. O comunismo foi, sempre, uma usina de mártires.

Aliás, Nero, Décio, Diocleciano e Galério foram mais moderados e indulgentes com os cristãos do que os governantes comunistas. "Qual o produto de tantos anos de trabalho do frei?" indagará o leitor. Pois é. Ele foi razoavelmente bem sucedido em levar a desgraça do comunismo aos cristãos. E fracassou totalmente em levar o "cristianismo" da TL às elites do comunismo. Apesar disso, a Teologia da Libertação volta a ganhar vida e adeptos no ambiente católico.



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Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

SÃO PAULO: Padilha (PT), o “poste” de Lula, no fundo do poço nas pesquisas, pede mais cobertura à Rede Globo. Ah, ver certas coisas não têm preço…


Padilha come cachorro quente com Dilma enquanto faz campanha em Osasco: candidato do PT continua perto do traço (Foto: O Globo)
Padilha come cachorro quente com Dilma enquanto faz campanha
 em Osasco: candidato do PT continua perto do traço (Foto: O Globo)
O comando da campanha eleitoral do candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, está pedindo à Rede Globo que reformule seus critérios da cobertura diária que confere aos aspirantes ao Palácio dos Bandeirantes. A Globo decidiu que somente faz a cobertura diária de candidatos com intençao de voto acima de 6%.

Quando a assessoria de Padilha encaminhou a solicitação à direção paulista da Globo, o candidato exibia miseráveis 4% de intenção de voto na mais recente pesquisa Datafolha. O instituto divulgou outro levantamento hoje, e Padilha continua chapinhando: agora, são 5%, enquanto o governador Geraldo Alckmin subiu de 54% para 55% e continuaria sendo eleito no primeiro turno, uma vez que seu competidor mais direto, Paulo Skaf, do PMDB, se manteve estacionado em 16%.

Dias atrás, o Deus do lulalato, com sua tradicional polidez e linguagem elevada, acusou a Rede Globo de “fazer sacanagem” contra Padilha, não obstante o candidato não se enquadrar nos critérios da emissora, inteiramente razoáveis, anunciados antes do início de sua cobertura eleitoral e vigentes desde há duas eleições – que incluem atribuir cobertura semanal aos candidatos que alcancem pelo menos 3% nas pesquisas (no caso, apenas Padilha).

O pedido à Globo partiu do presidente estadual do PT paulista, Emídio de Souza, que, citando até a Constituição, lançou argumentos como o de que os critérios adotados “podem incorrer em injustiça” e “prejudicar o processo democrático”.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a Globo respondeu que “os critérios de cobertura das eleições nacional e de São Paulo são absolutamente os mesmos das eleições de 2010″ (sobre os quais, diga-se, o PT na época não disse um pio) e ainda acrescentou: “Sendo que, por ter um número menor de candidatos em São Paulo, em vez de Padilha ter apenas uma cobertura semanal, tem duas”.

Ou seja, além de não “sacanear” o candidato de Lula, a Globo acaba presenteando-o com uma tremenda colher de chá.

De tudo isso, o que tenho a dizer é o seguinte: depois da arrogância de Lula, achando que elege “um poste” até para o Palácio dos Bandeirantes, ver o ex-presidento chiar porque seu “poste” não sai do fundo do buraco nas pesquisas, e apreciar o PT se contorcendo para fazer um pedido à Globo NÃO TEM PREÇO!

Para fechar o post, acrescento que o que a Globo pretende é ter um compromisso com a informação – mas não com a irrelevância.

Na rota do desastre

Por Luiz Sérgio Silveira Costa
 
Miriam Leitão não foi à/ao psiquiatra. O resultado foi que o desvario e a doença voltaram a se manifestar. Na sua coluna do dia 14, comentando a lamentável e trágica ausência de Eduardo Campos (1), escreveu: O Brasil tem essa escassez de bons quadros políticos por alguns motivos sobre os quais devemos refletir. A razão original, sem dúvida, é a ditadura. O longo período de cassações e autoritarismo interrompeu carreiras, desviou e dizimou lideranças e impediu o aparecimento de novos líderes. E (arre)matou: Dado que o passado não podemos mudar – a ditadura ocorreu e deixou suas sequelas insanáveis, algo imutável -, temos que trabalhar para superar o desânimo que tem afastado os jovens da política.

A ditadura acabou em 1985, há quase trinta anos, e ela continua tendo assombrações, fruto dessa mente recalcada... Não há lideranças novas porque o povo não quer. O exemplo emblemático é o de Arruda, candidato a governador de Brasília. Filmado e reprisado recebendo bolos de dinheiro desviado, processado pela lerda Justiça, tem maioria nas pesquisas de voto, porque o povo o quer, certamente pensando em alguma benesse indevida. Esse é o povo brasileiro, eu em primeiro, o País que se exploda, em sua escancarada vira-latice!

Por falar em Justiça, no dia 15 foi a vez de o novo presidente do STF, o notório e piedoso Lewandowski, defender aumento de salário para os magistrados, justamente a classe de servidores do Estado mais aquinhoada nesse quesito, cujo começo de carreira os contempla com... “míseros” R$ 24 mil! E é só o começo! E os magistrados estão peitando o Congresso para criar o adicional por tempo de serviço, mais um penduricalho que, certamente, vão julgar que estará fora do teto constitucional!

Lembrando Miriam Leitão, no caso da Justiça, não faltam novas lideranças que queiram receber esse salário que, convenhamos, deve realmente ser pouco, pois há os que precisam de mais, e se corrompem, como o Lalau. Lewandowski ainda atribuiu aos 18 mil juízes que atuam silenciosamente, sem que ninguém perceba, em condições ruins, inclusive salariais, o fato de o Brasil ser ainda uma ilha de tranquilidade, num mundo extremamente conflagrado....

Apesar da desfaçatez sobre os salários, acertou na tranquilidade. Enquanto o Arruda segue firme na corrida, a Justiça se arrasta – como disse Gil “como a procissão, que nem cobra pelo chão” -, com seus demasiados escalões e inúmeros recursos, agravos, embargos e procrastinações, com o País se destruindo moral e eticamente, enquanto os juízes permanecem na sua tranquilidade insular, o que não parece ser verdade, pois estão intranquilos quanto aos seus salários....

Por que Lewandoswski não perorou sobre isso?

Por que não falou sobre a vergonha que são os precatórios, em que o povo que é punido indevidamente pelo Estado leva anos e anos para receber, com muitos morrendo pelo caminho sem obter a devida reparação?

Por que, com o poder que tem sobre os congressistas, a maioria com rabo preso na Justiça, não insta o Legislativo a votar leis que modernizem as leis e a processualística e tornem a Justiça ágil?

Por que não pensar no País e nos desfavorecidos, em vez de apenas no aumento voraz de suas regalias e benesses?

Quê condições ruins são essas, com esses palácios de granito e luxuosos gabinetes, especialmente nos escalões superiores?

Enquanto na Argentina os abutres são externos, aqui eles são internos. E no seu vôo, sob a égide da cupidez, da vaidade, da desfaçatez e do impatriotismo, não conseguem visualizar que estão “seguindo na Echo Uno, na pista 35”...

Aécio Neves disse que a morte de Eduardo Campos foi irreparável e incompreensível. 

Comungo dessa dor e dos adjetivos. Chego, mais uma vez, a duvidar da infinita bondade de Deus. Quantos canalhas não poderiam ter sido escolhidos, mas Deus resolveu enlutar famílias decentes e tornar o  Brasil menos esperançoso...


Fonte: Alerta Total

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Luiz Sérgio Silveira Costa é Almirante reformado.

Videntes teriam previsto a morte de Eduardo Campos


Desde que o peso da trágica manhã da última quarta-feira (13) recaiu sobre a população brasileira, um vídeo ganhou forças na internet e espantou até os mais céticos. Aos cinco minutos de uma entrevista, no programa Arena SBT, o paranaense Carlinhos Vidente teria revelado quem seria o futuro presidente do Brasil e quem ocuparia o segundo e terceiro lugar do pódio eleitoral: “Primeiro lugar: Aécio Neves; Segundo Lugar: Dilma Rousseff; Terceiro lugar: Marina Silva e aquele candidato de Pernambuco”. O vidente, que havia acertado a goleada do Brasil pela Alemanha, ainda fez uma declaração bombástica: “A partir do dia 13, agora, o Brasil vira um caos”, afirmou.

Vidente Carlinhos.
Vidente Carlinhos
Como muitas coisas que caem na internet e são viralizadas, muita gente sequer checou a data em que o programa foi ao ar. Na verdade, a entrevista foi feita em 12 de julho deste ano, o que significa que o “caos” previsto deveria se iniciar no dia seguinte ao do encontro. Nos comentários do vídeo, através do YouTube, muitos internautas questionaram o motivo pelo qual o nome de Marina foi citado como terceiro lugar e não o de Eduardo: “Fica claro no vídeo que ele não citou o Eduardo Campos, só a Marina Silva, porque não lembrou do nome dele – afinal, ele fala da Marina Silva ‘e o candidato de Pernambuco’. Se ele estivesse prevendo a morte de Campos, não falaria isto. Tem gente que gosta de ver pelo em ovo”, criticou um internauta.

Internautas questionam a veracidade da notícia. Foto: Reprodução/Youtube
Internautas questionam a veracidade da notícia. Foto: Reprodução/Youtube
Por outro lado, uma carta, supostamente escrita em 2005, a próprio punho, pelo vidente Jucelino Nóbrega, registrada em cartório e enviada ao governo de Pernambuco, previa com clareza e exatidão o acidente com o avião de Eduardo Campos. Jucelino teria enviado a carta em 15/06/2005, aos cuidados de Campos, que na época nem governador era, relatando que ele seria candidato a presidente do Brasil e que sofreria um acidente aéreo em Santos, no dia 13 de agosto de 2014. Ele ainda previu que o acidente aconteceria devido a uma sabotagem na aeronave do ex-governador. Não se sabe se a carta chegou a ser lida por alguma entidade em Pernambuco ou que nenhuma fonte tenha recebido a tal previsão, muito menos se esta chegou a ser entregue a Eduardo.

Suposta carta prevê, nove anos antes, a morte de Eduardo Campos.
Suposta carta prevê, nove anos antes, a morte de Eduardo Campos.
Jucelino é conhecido pelo alto grau de acerto de suas previsões e detalhes minuciosos dos acontecimentos previstos.

Quando o jornalismo ignora a essência da ética e se iguala ao vilipêndio ao cadáver

Por Ucho Haddad

ucho_25Mais um acidente aéreo. Desta vez com uma figura pública, um político conhecido. O desfecho é a morte. De novo entra em cena a repugnante e desumana indústria do furo de reportagem, da notícia exclusiva, do exercício do “achismo”. Como se a dor que emana de uma tragédia pudesse ser refém da informação exclusiva. De uma hora para a outra a imprensa brasileira transforma-se em celeiro de especialistas em determinado assunto. Todo mundo sabe sobre o tema, a ponto de levar o incauto cidadão a acreditar que tudo é verdade. Mas muito do que se noticia não passa de mera especulação.

Durante anos a fio fui acusado de ser um falso jornalista apenas porque não tive a oportunidade de colocar no fundo do armário um canudo aveludado com um pedaço de pergaminho recheado de letras góticas e com a inscrição diploma universitário. Acusavam-me de desconhecer o significado da ética, pois afinal de contas não havia esquentado o banco da escola. Depois de tudo que vi e vivi ao longo de mais de trinta anos de profissão, só me resta agradecer aos céus e dizer: que bom que não perdi meu tempo correndo atrás de um canudo apenas para aprender o que é ética. Isso o meu pai – que começou a vida como um reles engraxate e dela despediu-se na esteira de um acidente aéreo – me ensinou com invejável competência.

A notícia sobre o acidente com o avião que transportava o presidenciável Eduardo Campos ainda repercutia em todo o País quando começaram a surgir as primeiras ilações jornalísticas. Daquele momento em diante passou a reinar a guerra pela audiência, pelo maior número de leitores, pelo crescimento das “curtidas” nos posts publicados nas redes sociais. Sobravam, como ainda sobram, afirmações criminosas e oportunistas. A esses bandoleiros da comunicação pouco importa a dor dos familiares das vítimas. O importante é ouvir o tilintar da caixa registradora. Mais audiência significa mais dinheiro. Dentro dos padrões da ética midiática, que por sorte desconheço, é permitido faturar aos bolhões diante de um cadáver.

A obrigação por uma informação dita exclusiva é algo tão degradante, que até mesmo um cipoal de absurdos rende notícias. Isso é o que se pode chamar de ética. Jornalistas experimentados ousaram levar ao ar depoimentos esdrúxulos que nem mesmo uma criança seria capaz de acreditar. Bombeiros, policiais e legistas avançaram na madrugada desta quinta-feira, 14 de agosto, à procura de pedaços dos corpos das sete pessoas que morreram na queda do avião, mas instantes após o acidente surgiram oportunistas de todos os naipes. Desde os que garantem que uma bola de fogo sobrevoou o céu da cidade de Santos, antes da tragédia, até os que viram o corpo de Eduardo Campos intacto.

Que no planeta sobram loucos por todos os lados não é novidade, mas é preciso saber o que entende sobre ética o jornalista que leva ao ar uma entrevista em que um tresloucado qualquer afirma ter aberto os olhos de Eduardo Campos e constatado que os mesmos eram verdes. Possivelmente porque isso é jornalismo responsável e ético. Não há outra explicação. Mas o festival de sandices midiáticas não parou por aí. Como nas reticências de uma tragédia a ordem é tirar uma casquinha, enquanto meia dúzia fatura como pode, um jornalista deu ouvidos a outro amalucado, que na sequência do clarão provocado pela queda da aeronave mergulhou e ficou três minutos debaixo d’água. Um recorde digno de registro no Guiness Book.

Na proa dessa nau do descaso está o conglomerado de comunicação comandado pela família Marinho. A Vênus Platinada e todos os seus penduricalhos comunicativos têm se dedicado, desde instantes após o acidente, a querer descobrir o que ocasionou a tragédia. Assim como no Brasil existem perto de 200 milhões de técnicos de futebol, no reino dos Marinho há mais especialistas em aviação do que aviões no Brasil. Eis a receita para um jornalismo ético e de qualidade.

O mais bizarro nessa epopeia é a disposição dos jornalistas “globelezas” para destruir marcas consagradas no momento de um acidente. Quando nada de extraordinário acontece no cotidiano em termos de informação, a emissora leva ao ar suas matérias sem qualquer menção a marcas e nomes de empresas. Até porque, no “universo global” isso só acontece mediante pagamento. É o tal do merchandising. No momento de uma tragédia como a que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas, a emissora não se esforça para esconder marcas, a exemplo do que faz em reportagens e entrevistas. Em meio ao lamacento turbilhão de informações baseadas no “achismo”, alcançadas foram as marcas da fabricante da aeronave e da empresa de fretamento aéreo que apenas se incumbiu de fazer o preâmbulo do voo. Esse tipo de comportamento condenável já foi objeto de muitas críticas de minha parte, mas esses proxenetas da informação parecem não se emendar. Querem faturar a todo tempo, inclusive quando reputações por eles combalidas precisam ser resgatadas.

Mas esse comportamento esdrúxulo e condenável não é exclusividade da “Velha Senhora” da televisão brasileira. Outros veículos de comunicação também dotam esse modus operandi na busca pelo inusitado, pelo exclusivo, pelo furo de reportagem. Há jornais que mantêm em seus quadros jornalistas que inventam entrevistas, há outros que incensam profissionais que chamam de loucos os profissionais concorrentes que saem à frente com alguma informação. Certa feita, por ter focado meus esforços na direção de um banqueiro oportunista, fui chamado de esquizofrênico. Acusavam-me os geniais herdeiros de Gutenberg de ter inventado um inimigo para com ele guerrear diariamente. Quando o tal banqueiro foi preso, limitaram-se, depois de alguns dias, a pedir desculpas. Certo de que não sofro de esquizofrenia, limitei-me a ter pena de um jornalista diplomado incompetente e que vive à sobra de um livro fracassado e que não sai das prateleiras das livrarias.

Voltando à tragédia que tirou a vida de Eduardo Campos, dos integrantes da sua equipe de campanha e dos dois pilotos, manterei a coerência e o respeito aos familiares, que nesse momento devem estar divididos entre a dor descomunal e os pensamentos para supor o que aconteceu nos minutos finais antes da queda da aeronave. O que a imprensa brasileira vem fazendo é torturar as famílias com informações descabidas e que não passam de meras suposições, obras do “achismo” boquirroto que domina essa barafunda chamada Brasil.

O mais interessante é que esses mesmos veículos de comunicação, escorando-se sobre o jornalismo supostamente ético, evitam emitir opiniões mais aprofundadas sobre fatos concretos, como, por exemplo, o caos na economia, os seguidos escândalos de corrupção, o superfaturamento de obras. Quando o fazem é pela necessidade de conseguir uma manchete para o dia seguinte. Na sequência deixam de lado não apenas o assunto em si, mas uma nação desprotegida e que continua a ser corroída pelos desmandos dos governantes.

A esses rufiões da notícia, assíduos frequentadores dos bataclãs da informação, deixo uma célebre e lapidar frase de Oscar Wilde: “Os loucos às vezes se curam. Os imbecis nunca”.


Fonte: ucho.info


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Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

Marina será a candidata do PSB à Presidência

Por VEJA

Marina Silva acena como candidata a vice-presidente pelo PSB na chapa de Eduardo Campos, em Brasília
Marina Silva acena como candidata a vice-presidente pelo PSB 
na chapa de Eduardo Campos, em Brasília 
(Ueslei Marcelino/Reuters/VEJA)
Marina Silva será mesmo candidata a Presidência pelo PSB, em substituição a Eduardo Campos. A informação foi divulgada neste sábado pelo site do jornal Folha de S. Paulo, que ouviu o novo presidente do PSB, Roberto Amaral. A candidatura de Marina contempla nosso projeto. Será uma solução de continuidade. O PSB indicará o novo vice", disse Amaral. A legenda deve fazer a confirmação oficial da candidatura na próxima quarta-feira.

Na sexta-feira, a ex-senadora havia dado aval ao comando do PSB para realizar uma consulta interna no partido sobre sua entrada na disputa à Presidência, em substituição a Campos, morto em acidente aéreo na última quarta-feira. Lideranças do PSB estiveram na casa de Marina, em São Paulo, e trataram do assunto.

A comitiva enviada à casa de Marina foi capitaneada por Amaral, além da deputada Luiza Erundina (SP), do secretário-geral da sigla, Carlos Siqueira, e de Walter Feldman, conselheiro da ex-senadora e responsável pela "ponte" entre o PSB e os "marineiros" da Rede Sustentabilidade.

Na rápida conversa, Marina autorizou o partido a realizar a consulta interna sobre o apoio à candidatura – e ouviu do grupo que as lideranças majoritárias já manifestaram apoio a ela, classificada como "o caminho natural". Segundo aliados da ex-senadora, ela só aceitaria a candidatura se seu nome for aclamado pelo partido.

Além disso, Marian fazia questão de fechar questão antes com os dirigentes de sua Rede. O principal temor de Marina é que os já complicados arranjos nos palanques estaduais se deteriorassem. Desde a quinta-feira, lideranças regionais do PSB, partido que durante anos orbitou os governos Lula e Dilma Rousseff, foram procuradas por petistas numa tentativa de reaproximação.


Amiga da família de Eduardo Campos, Marina segue para Recife na manha deste sábado para o velório de Campos e permanecerá lá até enterro do ex-governador pernambucano, no domingo.

A morte de Eduardo Campos




A eventual candidatura de Marina Silva em substituição ao falecido Eduardo Campos pode garantir o segundo turno. Se for outro o substituto, o PT poderá ganhar ainda no primeiro turno.

Marina anuncia ao mundo que está sofrendo mais do que a viúva. Não dá!


Desculpem a crueza, mas não tenho paciência para mistificações. Leio na Folha a seguinte informação, de Mônica Bergamo. Prestem atenção. Volto em seguida.

A ex-senadora Marina Silva (PSB-AC) telefonou ontem para Renata Campos, viúva do ex-presidenciável Eduardo Campos.

Foi a primeira vez que as duas se falaram depois do acidente que matou o ex-governador.
A conversa durou mais de uma hora e foi bastante emotiva.

Renata contou à candidata como estava cuidando dos filhos e como os quatro mais velhos tinham reações distintas diante da tragédia.

Houve momentos de descontração em que as duas rememoraram episódios divertidos da campanha.

De acordo com relatos que Marina fez a interlocutores, a viúva estava serena e firme, a ponto de consolar a ex-senadora.

“Eu quero te agradecer por você me dar esse momento. Eu liguei para te confortar e, na verdade, quem me confortou foi você com a sua tranquilidade e a sua força. Você é muito corajosa”, teria dito Marina.

De acordo com testemunhas, as duas não conversaram sobre campanha eleitoral.

Voltei

Não tenho dúvida de que Mônica Bergamo apurou exatamente o que está aí. Ocorrem-me algumas coisas. Vamos a elas:
1: era uma conversa privada, entre Marina e Renata;
2: Renata não falou com a imprensa, como se sabe;
3: logo, quem falou “a interlocutores”, que, por sua vez, falaram com a imprensa, foi… Marina Silva, este ser que flana acima do mundo, sem maldades.

Sinceramente… Eu estou entendendo direito ou Marina, segundo a informação divulgada por seus “interlocutores” pretende sofrer mais do que a viúva, mãe de cinco filhos. Não é preciso ser muito rigoroso para considerar indecoroso esse tipo de vazamento de “informação”. Não estou criticando a jornalista, não — até porque, quando acho que é o caso, critico. Cumpre a sua função e informa.

O que me incomoda, meus caros, é que Marina está, vamos dizer, se comportando como a viúva política. E viúvas, como se sabe, reivindicam, por força de sua condição, o espólio.

Com a devida vênia, esse tipo de informação me causa mais repulsa do que admiração.

De Lula para Dilma, em 13 de junho de 2014: ‘Eles não sabem que nós seremos capazes de fazê, democraticamente, pra fazê com que você seja a nossa presidenta por mais quatro anos neste país’



O animador de auditórios amestrados vai despejando frases sem pé nem cabeça enquanto zanza atrás da mesa no palco. Estaciona perto da nuca de Dilma Rousseff, põe a mão esquerda no ombro da afilhada e empunha com a direita o microfone . Então, mirando a cabeça da candidata, Lula rosna o que é simultaneamente uma palavra de ordem e a palavra do mestre a seus discípulos: “Eles não sabem que nós seremos capazes de fazê, democraticamente, pra fazê com que você seja nossa presidenta por mais quatro anos neste país”.

Se a polícia cumprisse o seu dever e a Justiça valesse para todos, o que fizeram de lá para cá o chefe supremo e seus devotos teria ampliado notavelmente a bancada da seita na Papuda. Nos últimos dois meses, anotações nos prontuários companheiros confirmam que, para o bando disfarçado de partido, só é proibido perder a eleição. O resto pode. A turma acredita que pode, por exemplo, estuprar a CPI da Petrobras, violar a internet para difamar jornalistas independentes, forçar também o TCU a inocentar culpados ou chantagear bancos que alertam os clientes para os fracassos da política econômica sem rumo nem juízo. Fora o resto.

Em nações civilizadas, pecados bem mais leves dão cadeia. No Brasil, os fora da lei fantasiados de pais da pátria seguem em liberdade, prontos para atravessar pelo menos mais dois meses fazendo coisas de que até Deus duvida.

Que vergonha, senadora Kátia Abreu!


No dia 12 de agosto a senadora Kátia Abreu postou em sua página oficial do Facebook a seguinte mensagem e foto:

A presidente Dilma Rousseff sempre manteve as portas abertas para todos os setores. Ela comprova que oferecer políticas adequadas, construídas a partir do diálogo, é fundamental para promover o crescimento do País. Por isso, o meu apoio incondicional para presidente do Brasil é para Dilma, a mulher que seguiu mudando o Brasil e agora também vai nos ajudar a transformar o nosso querido Tocantins.

Katia Abreu

Que papelão, dona Kátia! Portas abertas? Estamos falando da mesma pessoa, a presidente Dilma, aquela que é conhecida por sua arrogância e sua agressividade em reuniões? Aquela que se reúne com 30 grandes empresários e acha que isso é “escutar o mercado”? Aquela que usou o BNDES para a seleção dos “campeões nacionais” e acabou produzindo um fenômeno como Eike Batista, fazendo ainda com que os grandes empresários “investissem” em lobby em vez de produtividade?

Políticas adequadas por meio de diálogos? Só se for o “diálogo” dela com ela mesma em frente a um espelho! Que políticas adequadas foram essas, que trouxeram nossa economia à beira do abismo, com estagnação do crescimento e elevada inflação, além de setores importantes totalmente desorganizados e com rombos bilionários?

Seu apoio é “incondicional”, senadora? Quer dizer que não importa a quantidade de “malfeitos” que vêm à tona, os infindáveis escândalos, a aliança com o que há de mais nefasto na geopolítica, que Dilma poderá contar sempre com seu entusiasmado apoio?

Dilma, a mulher que mudou o país? De fato, mas para pior! Ou a senadora acha que as coisas vão bem por aqui? Quer defender o voto em Dilma para “continuar mudando”? Até chegarmos no modelo argentino ou venezuelano? É isso que o Brasil precisa?

Senadora, compreendo seu medo de Marina Silva, agora a provável candidata após a trágica e infeliz morte de Eduardo Campos. Compreendo, ainda, os limites da política partidária nesse país, e sua dificuldade em compor com o PSDB de Aécio Neves, caminho natural para alguém que sempre defendeu o que a senhora defendeu em seus discursos, artigos e mesmo prática política.

Mas não posso aceitar ou perdoar uma traição dessas! Saiba que muitos brasileiros de direita, defensores da propriedade privada, inclusive rural, que combateram sempre a ameaça socialista, os invasores do MST, as lideranças “indígenas” que colocam em risco muitas fazendas, tinham em sua pessoa uma esperança. Alguns chegavam a imaginá-la uma espécie de Thatcher tupiniquim.

Como defendê-la agora? Como explicar para essa gente toda suas palavras e ações? Como dizer que aquela Kátia Abreu, outrora uma firme combatente em nome do capitalismo e da economia de mercado, debandou-se para o lado de lá, apoiando com tanta paixão um partido golpista, do Foro de São Paulo, camarada da ditadura cubana, irmão dos invasores do MST?

Eu não consigo, confesso. Posso apenas lamentar profundamente sua guinada rumo ao que há de pior na política nacional. O Brasil continua em busca de uma estadista…