Por Percival Puggina
"A Teologia da Libertação é mais importante que o
marxismo para a revolução latino-americana" Fidel Castro, citado por Frei
Betto em "O Paraíso perdido", pag. 166.
Paraíso perdido é o título de uma obra poética de John
Milton sobre a tentação e queda de Adão e Eva. E é, também, o título de um
livro de memórias gastronômicas e de militância comunista em que Frei Betto
descreve suas andanças pela América Latina e Leste Europeu nos anos 80.
São mais de 400 páginas relatando dezenas, talvez mais de
uma centena de viagens e itinerários em contato com lideranças católicas e
governos comunistas, cumprindo dois objetivos: aproximar os católicos do
comunismo e apresentar a Teologia da Libertação (TL) às lideranças comunistas.
Muitas dessas viagens tiveram Cuba como destino e Fidel como figura central. Ao
longo dessa jornada em que o frei vendia mercadoria avariada para os dois
lados, ele e Fidel se tornaram amigos.
O relato se encerra pouco após a queda do Muro de Berlim,
com o desfazimento da União Soviética. As longas páginas finais em que discorre
sobre a perda do "paraíso", podem ser resumidas nestas palavras do
autor: "Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida
social. Essa revolução cultural certamente é mais difícil que a primeira, a
social. Talvez por isso o socialismo tenha desabado como um castelo de cartas
no Leste Europeu. Saciou a fome de pão, mas não a de beleza. Erradicou-se a miséria,
mas não se logrou que as pessoas cultivassem sentimentos altruístas, valores
éticos, atitudes de compaixão e solidariedade”.
Ora, economias comunistas são estéreis. Não saciam a fome de
pão. E a fome de beleza, a cultura de valores, compaixão e solidariedade,
jamais foi gerada sob o materialismo de tal regime. Sem qualquer exceção, onde
ele se instalou, avançou com ferocidade contra tudo que os poderia produzir.
Família, liberdades, religiões e seus valores foram sempre espezinhados sob o
tacão do Estado totalitário. Quem quiser detalhes, informe-se sobre o que
aconteceu com padres, bispos, cardeais, instituições religiosas na Hungria do
cardeal Jószef Mindzensty, na Tchecoeslováquia do cardeal Josef Beran, na
Polônia do cardeal Wyszynski, na Ucrânia do arcebispo Josyf Slipyj, na
Iugoslávia, do arcebispo Stepinac. O comunismo foi, sempre, uma usina de
mártires.
Aliás, Nero, Décio, Diocleciano e Galério foram mais
moderados e indulgentes com os cristãos do que os governantes comunistas.
"Qual o produto de tantos anos de trabalho do frei?" indagará o
leitor. Pois é. Ele foi razoavelmente bem sucedido em levar a desgraça do
comunismo aos cristãos. E fracassou totalmente em levar o
"cristianismo" da TL às elites do comunismo. Apesar disso, a Teologia
da Libertação volta a ganhar vida e adeptos no ambiente católico.
_____________
Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor,
titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais
e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário