Por Luis Dufaur
A ciberguerra deixou de ser ficção
e invadiu a vida diária.
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O Exército Popular de Libertação da China comunista tornou público que
entraria na “guerra digital”, registrou a revista Atlântico.
O pretexto alegado foi que “forças hostis do Ocidente e uma minoria de
traidores ideológicos” apontados com o dedo são “inimigos” que usam a Internet
para atacar o Partido Comunista Chinês.
Para tentar compreender esta “declaração de guerra” com argumentos tão
confusos, a revista entrevistou o Prof. Emmanuel Lincot, do Institut
Catholique de Paris, especialista em história política e cultural da China
contemporânea.
Na verdade, a projetada guerra do Exército chinês através dos canais da
Internet é bem conhecida. Sua fabulosa “Muralha de Fogo” virtual
já censura, hostiliza e sabota as informações na rede mundial, com especial
foco nas comunicações chinesas.
A publicação militar veio apenas reconhecer o fato. Mas, por que fazê-lo agora?
Segundo o especialista Emmanuel Lincot, o uso da ciberguerra é pregado
abertamente pelos estrategistas maoístas desde a Guerra do Golfo. Especialmente
no livro A guerra fora dos limites, de Qiao Liang e Wang Xiangsui (La
guerre hors limites, Paris, Rivages, 2003).
O objetivo sempre foi desmantelar a vantagem dos EUA nesses meios de
comunicação e implantar a hegemonia ideológica maoísta.
Do outro lado na aparência há mais um usuário.
Na realidade
há um militar visando conquistar
a mente da vítima.
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A iniciativa chinesa transforma um terreno cultural de livre troca de
informações e ideias num campo de guerra “híbrida”, onde recorre à sedução
psicológica e ao assédio subreptício e deletério dos usuários.
A China entende que a rede planetária permite que um participante se transforme
em beligerante e então emprega sorrateiramente meios de sugestão nunca antes
imaginados.
Para a China, a ciberguerra tem objetivos muito concretos: controlar as
informações, sobretudo as que podem acessar seus súditos, confundir os
adversários, e garantir interesses vitais de domínio mental e controle policial
dos dissidentes nas áreas controladas pelo regime.
A China e os EUA tiveram encontros periódicos para controlar a cibersegurança.
Mas nada disso interessa à China.
Está na natureza profunda de um regime autoritário julgar-se eximido de
qualquer limitação para consolidar sua ditadura.
O anúncio da ciberguerra chinesa aconteceu num momento em que o regime
dá extraordinários sinais de debilidade, empreende expurgos maciços nas
fileiras do Partido e acentua as perseguições contra os cristãos identificados
como dissidentes.
O próprio Exército Popular corre o risco de ser expurgado internamente, de onde
a denúncia de “traidores ideológicos” que estariam minando o regime.
Segundo Lincot, uma cortina de ferro numérica já desceu sobre a China. Baidu e
Huawei são dois grandes grupos informáticos dependentes de Pequim que baniram o
Google e outros gigantes ocidentais.
A conquista das mentes pela ideologia
niveladora e
iguálitaria.
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Os efeitos políticos foram imediatos. A censura fez da Revolução dos pára-sóis
no Taiwan e dos guarda-chuvas em Hong Kong, duas desconhecidas no continente
vermelho.
Um gigantesco dispositivo de peneiragem da informação funciona de uma ponta a
outra da China. O Estado-Partido vive obcecado por fantasmas após a queda da
URSS.
O enrijecimento chinês na esfera virtual pode ter consequências nefastas na
economia mundial. Hoje há 2 bilhões de internautas, 5 bilhões de celulares e 5
trilhões de dólares em propriedade intelectual. Se isso passar a ser alvo de
uma sabotagem com intenções ideológicas, o estrago será incontável.
Roger Faligot calculou que o Exército vermelho formou 40.000 especialistas na
manipulação das ciberarmas. Os ataques podem partir de simples computadores com
programas especiais, enlouquecer mercados, empresas, exércitos, redes sociais,
sabotando ou divulgando informações desestabilizadoras.
Em outubro 2014, segundo a empresa de segurança Novetta,
corroborada pela FBI, o programa chinês Axiom havia atingido
43.000 computadores em seis anos.
Nessa fase, o programa visou o furto de informações para conseguir cumprir o
plano quinquenal em matéria de meio-ambiente, energia e defesa. O programa
continua sob Xi Jinping, que pensa em reforçá-lo no campo cultural.
Mais de 40.000 homens trabalham para modelar
a Internet
segundo Pequim.
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A China visa prioritariamente instalar “desinformações úteis” à sua imagem em
Universidades, mídia, indústrias da imagem e da música.
Esse estratagema pode revelar-se mais insidioso do que a própria ameaça
terrorista brutal e primitiva. A Europa deveria tomar medidas rápidas e
eficazes, sobretudo em matéria de inteligência econômica, diz Lincot.
Precisamos proteger absoluta e urgentemente nossas universidades, nossa
indústria cultural, porém não fazemos isso, deplora o especialista.
A China não visa restringir a Internet para os seus cidadãos.
Pelo contrário, trabalha para difundi-la até nas mais remotas províncias. O que
ela quer émanipular as informações que essa rede passa, a fim de modelar e
controlar as mentes e para isso é necessário que todos tenham conexão e
depositem seus dados na rede.
Os dirigentes do Partido Comunista Chinês chamam isso de “garantir a
coesão nacional”: que todos pensem como o Big Brother de Pequim quer que pense.
O socialismo chinês aspiraria obter assim o que Mao não conseguiu chacinando
cem milhões de intelectuais e proprietários: que desapareçam as
desigualdades naturais pela extinção dos pensamentos desiguais.
Para o comunismo maoísta igualitário isso é uma “guerra” decisiva,
que corresponde à lógica e ao vocabulário marxista-leninista, mas que
não deve ficar clara para suas vítimas atuais ou potenciais.
E isso não é um objetivo só para atingir o interior da China;
é para o mundo inteiro.
No Ocidente eles aguardam muito da pregação contra as desigualdades e contra a
pobreza.
Especialmente quando esse trabalho ideológico não é feito em nome do comunismo
explícito, mas da religião, da teologia ou dos direitos humanos.
Fonte: Pesadelo Chinês
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