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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os jihadistas tupiniquins.


Estamos a menos de dois meses das eleições. Mas não parece. Há um clima de desânimo, de desinteresse, de enfado. Acreditava-se que, após o fim da Copa do Mundo, as atenções estivessem concentradas no processo eleitoral. Ledo engano. A pasmaceira continua a mesma. Agora, o divisor de águas é o horário gratuito que começa dia 19. Para o PT, este é o clima ideal para a eleição presidencial. Quanto menor o interesse popular, maior a chance de permanecer mais um quadriênio no poder. O partido tem, inclusive, estimulado discretamente campanha pelo voto nulo ou branco. Sabe que muitos eleitores estão desanimados com a política, justamente com as mazelas produzidas pelo próprio petismo.

A desmoralização das instituições foi sistematicamente praticada pelo partido. A compra de maioria na Câmara dos Deputados, que deu origem ao processo do mensalão, foi apenas o primeiro passo. Tivemos a transformação do STF em um puxadinho do Palácio do Planalto. O Executivo virou um grande balcão de negócios e passou a ter controle dos outros dois poderes. Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum pudor.

Não há área do governo que nos últimos anos tenha permanecido ilesa frente à sanha petista. Todos os setores da administração pública foram tomados e aparelhados pelo partido. Os bancos, as empresas estatais e até as agências reguladoras se transformaram em correrias de transmissão dos seus interesses partidários.

Imaginava-se que, após a condenação dos mensaleiros, o ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu bel-prazer pudesse, ao menos, diminuir. Nada disso. Os episódios envolvendo a Petrobras demonstram justamente o contrário. E mais: neste caso levaram ao descrédito total os trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e desmoralizaram mais uma vez o Legislativo.

As ações seguem um plano de que o partido é o elemento central da política, nada pode ocorrer sem a sua anuência. Esta estrutura tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes. A insistência em impor o projeto dos conselhos populares – uma espécie de sovietes dos trópicos – faz parte desta visão de mundo autoritária.

O maior obstáculo para o PT é a existência do Estado Democrático de Direito. O partido tem como objetivo estratégico miná-lo diuturnamente. Suas ações chocam-se com a “institucionalidade burguesa”.

O PT usará de todos os meios para se manter no poder. Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como era do seu interesse. Mas com a permanência de Dilma em um patamar que vai levar a eleição para o segundo turno – isto hoje é líquido e certo -, o partido vai abrir a sua caixa de ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.

O uso da internet para desqualificar seus opositores é realizado há um bom tempo. O PT tem um verdadeiro exército de jihadistas prontos para o ataque. O recente episódio de mudanças no perfil de jornalistas na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem por aí. O auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo turno, onde uma calúnia tem muito mais efeito eleitoral, principalmente se divulgada às vésperas da eleição.

As modificações ocorridas no Tribunal Superior Eleitoral passaram em branco. É bom que a oposição fique atenta, pois quem vai presidir a eleição é um ex-funcionário do Partido dos Trabalhadores e ex-advogado de um sentenciado no processo do mensalão, José Dirceu. O presidente do TSE é o ministro Dias Toffolli.

Neste processo chama a atenção a ação de Lula, seu líder máximo – e único, na verdade. Tem se mantido – até o momento – discreto na campanha eleitoral. Visitou alguns estados e mesmo em São Paulo tem participado pouco das atividades. Pode ser que tenha sentido um cheiro de derrota no ar e está buscando preservar sua figura. No caso da eleição paulista, isto já é definitivo. Seu candidato já está derrotado. Esperto como é, pode já estar iniciando a campanha de 2018. E com o figurino de salvador da pátria.

Frente a este quadro é que a oposição precisa exercer o seu papel. Nesta eleição tem agido com mais consistência, buscando alianças regionais e um discurso mais simples e compreensível para o eleitor. Tem atuado melhor, mas distante do que se espera de uma oposição no grave momento histórico que vivemos.

Eduardo Campos tenta – mas tem muita dificuldade – de encarnar o figurino oposicionista. Afinal, permaneceu mais de um decênio apoiando o governo, inclusive exercendo função ministerial. Mas teve ousadia em se lançar candidato.

É Aécio Neves que tem de exercer o papel de opositor do petismo. Tem se esforçado, é verdade, porém a campanha ainda não empolgou. Conseguiu habilmente construir bons palanques estaduais. Diversamente de 2010 rachou o apoio petista no trio de ferro da política brasileira. Em Minas Gerais deve ter uma grande vitória. Em São Paulo, se conseguir colar a sua candidatura à de Geraldo Alckmin, pode ter a maior vitória do partido no estado desde o restabelecimento das eleições diretas. Conseguiu um raro feito no Rio de Janeiro, rachando o bloco de apoio à petista que foi importante em 2010. Deve surpreender no Nordeste tendo uma boa votação, rompendo com o domínio petista, como na Bahia. Mas ainda é pouco.

A máquina autoritária petista pode ser derrotada. Os dois próximos meses são decisivos. O PT vai usar todas as suas armas. Sabe que é uma batalha de vida ou morte, pois longe do aparelho de Estado não consegue mais sobreviver.



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Marco Antonio Villa é historiador.

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