O comunista quer controlar até o nosso futebol.
Fonte: Estadão
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“Se colocarem o
governo federal para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará
areia.” - Milton Friedman
Parece piada. Mas no Brasil as coisas são assim mesmo: você
começa duvidando, achando que é uma brincadeira, e depois recolhe o queixo no
chão ao descobrir que falavam a sério. Foi minha sensação ao ler no Estadão que
Aldo Rebelo, o ministro dos Esportes, acha que é papel do estado cuidar do
futebol brasileiro:
Dois dias depois da humilhação do Brasil na Copa, o governo
anuncia que quer assumir parte das funções de legislar sobre o futebol, exige
mudanças na estrutura do esporte e rejeita a ideia de que a CBF pode, sem
participação estatal, administrar o setor.
A Fifa proíbe que governos promovam qualquer intervenção nas
federações nacionais, sob a ameaça de expulsar o país das Copas. Mas Brasília
estima que existe espaço para agir.
“Eu sempre defendi que o Estado não fosse excluído por
completo do futebol”, disse Aldo Rebelo, ministro dos Esportes. “É uma
intervenção indireta”. Segundo ele, existe áreas de “interesse público” e uma mudança pode alcançar até mesmo a CBF.
“Isso se houver uma reforma na lei que de ao estado a
atribuição de regular. A Lei Pelé tirou do estado qualquer tipo de poder de
atribuição e poder de intervenção. Ela determinou a prática do esporte como
algo privado, atribuição do mundo privado e isso só pode ser modificado se a
legislação também for modificada”, declarou.
“Se depender de mim, não teríamos tirado o estado
completamente dessa atribuição. Se depender de mim, parte dessa atribuição deve
voltar”, defendeu Aldo Rebelo.
Se há um “esporte” nacional que tem ainda mais fãs do que o
futebol, é a estatolatria, a arte de delegar tudo ao estado, visto sempre de
forma idealizada, como um ente formado por santos clarividentes, abnegados e
onipotentes. Há um problema? Então a solução é uma nova lei, ou mais
intervenção estatal. Isso é uma doença, uma patologia nacional.
A “lição” que o ministro comunista tirou da goleada foi
essa: faltou estado! Nada a ver com a falta de treinos, com o estilo
“paternalista” do técnico, com a negligência, a esperança acima do trabalho
árduo, a escalação equivocada, etc. O problema é que o estado não estava
tomando conta da coisa! Qual o próximo passo? Criar o programa “Mais Jogadores”
e importar atletas cubanos?
Curiosamente, o estado alemão não se mete na seleção do
país, mas isso não a impediu de meter a humilhante goleada na nossa. Outra
curiosidade bastante irônica: todas as áreas em que o Brasil é lanterna mundial
são justamente aquelas com mais controle estatal, como educação, saúde,
infraestrutura e segurança. Coincidência?
Aldo quer rever até mesmo essa coisa de “exportar”
jogadores: ”Precisamos discutir a legislação do ponto de vista de trabalho de
menores. Somos exportadores de matéria prima e somos importadores de produto
acabado”. Ora, ministro da foice e do martelo, isso se deve aos incentivos em
jogo! Os atletas migram para onde há melhores condições de carreira.
Assim como há o “brain drain” quando se trata de atividades
intelectuais, com os melhores cérebros atraídos pelas universidades de ponta
dos países desenvolvidos, há também o “body drain”, quando atletas são
convidados para jogar em países cujo ambiente esportivo é melhor.
Sabe qual a solução, ministro? Melhorar as condições
internas! E sabe como se faz isso? Dica: não passa por mais intervenção estatal
ou medidas “protecionistas”, que apenas retirariam as liberdades básicas dos
jogadores; e sim pela redução de tantos obstáculos criados pelo próprio
governo!
De certa forma, o nosso futebol é um microcosmo de nosso
país: tomado por bandidos, cartolas, incompetentes, com raras exceções. O
jeitinho e a malandragem imperam, e falta profissionalismo. Acreditar que a
estatização vai resolver isso é realmente tão absurdo, mas tão absurdo, que só
poderia sair da caixola de alguém que ainda pertence a um partido que tem
comunista no nome, em pleno século 21!
Por favor, ministro, vamos aprender realmente alguma lição
com isso tudo. Chega de “soluções mágicas”, de sensacionalismo, demagogia,
intervencionismo estatal. Essa mania de querer controlar tudo de cima para
baixo é bizarra. Está na hora de valorizar mais a liberdade.
Incluir até o futebol no discurso nacionalista, para
justificar intervenções estatais com base no argumento de “interesse nacional”
e “setor estratégico”, seria hilário, não fosse trágico. Se o estado realmente
se intrometer no assunto, aí é que não ganharemos mais nada. Nem da seleção do
Butão!
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