Fonte: Band
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Não é de hoje que as nossas instituições gozam de pouca
credibilidade. O tema é batido: a justiça é lenta e falha, os políticos são
corruptos, a polícia abusa do poder. Dito isso, e parafraseando um famoso
metalúrgico, nunca antes na história deste país se viu um clima de tanta
desesperança com nossas instituições e nosso futuro. O metalúrgico tem boa
parcela de culpa.
Não, o PT não inventou nada disso, e os problemas nacionais
não começaram em 2003 com Lula. Mas os petistas são responsáveis, sim, pelo
agravamento da situação. Ao colocar as expectativas de muitos lá em cima, após
décadas monopolizando a bandeira da ética na política, e ao se mostrar
simplesmente o mais cínico e corrupto de todos os partidos, o PT colaborou
muito para o esgarçamento social completo. O editorial do GLOBO de hoje concorda:
Há uma séria questão nisso tudo que é a percepção popular —
mesmo que não seja verbalizada por todos — da falência de instituições. A
situação se agrava com o péssimo exemplo dado por partidos políticos, do PT ao
PSDB, pelo envolvimento de correligionários em casos de corrupção. O mau
exemplo do PT chega a ser mais daninho, por ter conquistado o poder com a aura
de extrema seriedade e honestidade. Ao trair as promessas de defesa
intransigente da ética, dá grande contribuição, infelizmente, ao descrédito da
população diante dos poderes constituídos. Não há culpado único por todo este
drama social.
Após o escândalo do mensalão, abriram-se as comportas do
cinismo e passou a valer tudo para se perpetuar no poder. É verdade que os
eleitores têm culpa também. Dizem que cada povo tem o governo que merece. Pode
ser. E eu mesmo apontei várias vezes o dedo para as escolhas que estavam sendo
feitas, desprezando-se totalmente as questões éticas. Quando Dilma foi eleita,
mesmo após claro abuso da máquina estatal em uma “democracia suja”, escrevi no
GLOBO:
O dia 2 de novembro foi escolhido como data oficial para a
homenagem aos mortos. Gostaria de prestar aqui minha homenagem ao mais recente
defunto brasileiro: a Ética. Seu falecimento gerou profunda tristeza em milhões
de brasileiros. Não foi morte acidental, mas homicídio. Cinqüenta e cinco
milhões de brasileiros executaram a Ética a queima-roupa, no dia 31 de outubro.
As armas usadas: as urnas.
Em sua coluna desta terça, Arnaldo Jabor escreveu talvez seu
melhor artigo dos últimos anos, ao fazer um diagnóstico dos motivos pelos quais
o Brasil “está com ódio de si mesmo”. O país, por meio da maioria dos
eleitores, acabou trilhando um caminho que nos trouxe até aqui, em meio a esse
clima de anomia, de desesperança, de raiva, intolerância e ódio. Ele diz:
O Brasil está irreconhecível. Nunca pensei que a
incompetência casada com o delírio ideológico promoveria este caos. Há uma
mutação histórica em andamento. Não é uma fase transitória; nos últimos 12
anos, os donos do poder estão a criar um sinistro “espírito do tempo” que
talvez seja irreversível. A velha “esquerda” sempre foi um sarapatel de
populismo, getulismo tardio, leninismo de galinheiro e agora um
desenvolvimentismo fora de época. A velha “direita”, o atraso feudal de nossos
patrimonialistas, sempre loteou o Estado pelos interesses oligárquicos.
A chegada do PT ao governo reuniu em frente única os dois
desvios : a aliança das oligarquias com o patrimonialismo do Estado petista.
Foi o pior cenário para o retrocesso a que assistimos.
Invocando a profecia de Lévi-Strauss, Jabor alerta que
podemos chegar a barbárie sem conhecer a civilização. Junto ao clima de ódio,
há a mentalidade fatalista sendo alimentada, aquela que afirma a
inevitabilidade de nossa desgraça. Recebo muitas mensagens de leitores com esse
tom, alegando que só resta ir embora, e o último que sair que apague a luz. É a
morte de qualquer esperança, a última que morre – e com boa razão: sem ela, o
que resta? O niilismo, o caos!
O Brasil mergulhou com o PT na era do maniqueísmo também:
tudo se resume ao “nós contra eles”. Toda crítica construtiva ao governo foi
tratada como ataque de um inimigo da nação. A imprensa, que mostrava os
escândalos, trazendo luz como detergente das impurezas, era tratada como
“partido de oposição”, uma “mídia conservadora e golpista”.
O PT conseguiu o impensável: em véspera de Copa do Mundo,
que será realizada no Brasil, nunca se viu um clima de tanta indiferença. Não
há ruas pintadas, bandeiras penduradas, mascotes, nem mesmo febre de álbum de
figurinhas, apesar de toda a campanha. Há a indiferença, ou mesmo a incerteza
diante de várias ameaças de protestos e manifestações. O PT levou tão adiante o
“pão & circo” que o tiro saiu pela culatra e o povo cansou. Jabor conclui:
E o pior é que, por trás da cultura do crime e da corrupção,
consolida-se a cultura da mentira, do bolivarianismo, da preguiça incompetente
e da irresponsabilidade pública.
O Brasil está sofrendo uma mutação gravíssima, e nossas
cabeças também. É preciso tirar do poder esses caras que se julgam os “sujeitos
da história”. Até que são mesmo, só que de uma história suja e calamitosa.
Não há como discordar. O Brasil precisa resgatar alguma
esperança no futuro, acreditar que um país desenvolvido se constrói
solidificando as instituições republicanas, e que isso depende de nós, pois
nada em nossos genes nos impede disso. É preciso dizer não ao fatalismo
derrotista. É preciso enfrentar a ameaça com coragem e derrotá-la.
Muitos, com razão, consideram as próximas eleições talvez a
última chance de virar o jogo. Caso contrário, a Venezuela vem aí. Vamos
aceitar isso passivamente? Ou vamos arregaçar as mangas e lutar para salvar
nossa democracia?
Segue, para quem não viu ainda, a homenagem que
fiz a todos aqueles que não desistiram e pretendem lutar pela liberdade:
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