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terça-feira, 6 de maio de 2014

Coronel Malhães — Entendi: a verdade só é verdadeira se coincidir com a versão dos… donos da verdade


Ah, então o caseiro do sítio de Paulo Malhães, Rogério Pires, agora nega que tenha participado da invasão da chácara do coronel, que resultou na sua morte — de ataque cardíaco, segundo o legista que examinou o corpo!? Bem feito, Reinaldo Azevedo! Quem mandou não ter escrito na hora aquele texto que veio à sua cabeça quando soube que uma comissão de senadores e um advogado visitariam o preso? E o que diria o texto? Que eu também negaria o crime se estivesse no lugar de Rogério, já que o grupo de senhores ilustres que o visitou queria justamente isso.

Vamos lá. Achei que não tinha entendido direito a notícia quando li, mas era isto mesmo: Rogério diz que ele não participou da invasão, mas que seus irmãos, sim. Ah, bom! Agora está tudo esclarecido. E como é que ele sabia disso? Porque reconheceu um deles pela tatuagem. Certo! Mas não acionou a polícia.

É surrealista. A polícia só chegou à confissão do caseiro — que agora ele nega ter existido — porque ele caiu em contradição. Essa contradição está na origem, então, ao menos da descoberta de que seus irmãos estão entre os invasores.

Rogério foi visitado na cadeia pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), João Capiberibe (PSB-AP) e Ana Rita (PT-ES) e pelo presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Wadih Damous. Eles foram lá buscar o que encontraram: a negativa do caseiro, que seria analfabeto. Ora, analfabetismo não é sinônimo de burrice.

Então ficamos assim: na hipótese dos doutores que lá estiveram, o caseiro é inocente; a morte é uma tramoia da extrema direita, herdeira da ditadura, e os irmãos do caseiro participaram da lambança. Então tá.

Também se faz estardalhaço porque a confissão do caseiro não teria sido feita na presença de um advogado. E daí? Desde quando é preciso haver um advogado para confessar um crime? Para que a confissão tenha valor em juízo, aí sim, é necessário que haja um defensor.

O fato é o seguinte: existe o exame do legista, mas a turma que quer ver uma conspiração não se conforma; existe a confissão, mas a turma que quer ver uma conspiração não se conforma; existe a participação dos irmãos do caseiro, o que nem ele próprio nega, mas a turma que quer ver uma conspiração não se conforma.

Esse é o espírito destes tempos de Comissão da Verdade. A verdade só é verdadeira se coincidir com a versão dos que se consideram… os donos da verdade!!!

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