Por Carlos I. S. Azambuja
Em fins de agosto de 1995 - 16 anos após a Anistia concedida
no governo do presidente Figueiredo -, foi enviado ao Congresso Nacional pelo
governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, um projeto de lei dispondo
sobre “o reconhecimento das pessoas desaparecidas em razão de participação, ou
acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro
de 1961 a 15 de agosto de 1979”.
Segundo esse projeto, foi criada uma Comissão Especial,
composta por 7 membros, “de livre escolha e designação do Presidente da
República”, com a atribuição de proceder ao reconhecimento dessas pessoas que
tenham falecido, de causas não naturais, “em dependências policiais ou
assemelhadas”.
Ao projeto foi anexada uma relação com os nomes de 136
pessoas consideradas desaparecidas no período definido de 18 anos (1961 a
1979). Os familiares desses desaparecidos, segundo o projeto, teriam direito a
uma indenização, a título reparatório, variável entre 100 mil e 150 mil reais,
conforme o caso. Em maio de 1998, com o decorrer dos trabalhos da Comissão, a
relação de desaparecidos já continha os nomes de 224 pessoas. No mesmo sentido,
a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados elaborou uma relação
paralela, com 288 nomes.
O projeto da Comissão foi redigido pela Secretaria de
Direitos Humanos do Ministério da Justiça, todavia, as relações de
desaparecidos políticos começaram a ser confeccionadas no governo Itamar
Franco, quando o Ministro da Justiça era o Sr. Maurício Corrêa, com base em
consultas aos Ministérios Militares, às associações de familiares de mortos e
desaparecidos políticos e em denúncias de organismos nacionais e internacionais
defensores dos direitos humanos.
Deve ficar claro que a grande maioria das pessoas cujos
nomes constam na relação de desaparecidos não desempenhava quaisquer atividades
políticas, e sim pegaram em armas para, através da tática de realizar
seqüestros de diplomatas, aviões, assaltos a bancos e estabelecimentos
comerciais, roubo de armas, muitos com assassinatos à mão armada, atentados a
bomba contra quartéis e “justiçamentos” – até mesmo de seus próprios
companheiros -, bem como a tentativa da implantação da guerrilha urbana e rural
no país. Esse é um fato histórico, que não pode ser mascarado.
Na relação dos desaparecidos políticos que acompanhou o
projeto constavam os nomes e profissões de 59 guerrilheiros considerados
desaparecidos no Araguaia, com a profissão e data de desaparecimento de cada um
deles, no período de 1972 a 1974.
De conformidade com essa relação, mais de 50% dos
guerrilheiros mandados para a Selva Amazônica pela direção do Partido Comunista
do Brasil, a fim de implantar o embrião da guerra popular prolongada, era
composta por estudantes universitários e secundaristas.
A propósito dos objetivos da Comissão de Desaparecidos
Políticos, já está mais do que caracterizado que a “experiência” posta em
prática pelo Partido Comunista do Brasil que resultou na insana Guerrilha do
Araguaia não foi uma reação ao Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de
1968, como a esquerda e muitos historiadores apregoam. Ela teve início ainda no
governo João Goulart, em fevereiro de 1962, quando um grupo de dirigentes e militantes
do Partido Comunista Brasileiro, inconformado com a tática de “linha pacífica”
para a tomada do poder, criou o Partido Comunista do Brasil, com a finalidade
de partir para formas superiores de luta, eufemismo designativo de violência
armada. Não existia, então, nenhuma ditadura militar.
Também já foi escrito e é um fato histórico que ainda no
governo Goulart, em 29 de março de 1964, dois dias antes da Revolução, um
primeiro grupo de militantes do PC do B foi mandado à China, a fim de receber
treinamento militar na Academia Militar de Pequim; e que, já em fins de 1966,
esse grupo de militantes, retornado da China, foi deslocado para o Brasil
Central a fim de montar a chamada “Área Estratégica”, embrião da guerra popular
prolongada. Tudo, portanto, antes do Ato Institucional nº 5.
Optar pela forma de luta armada no campo, realizar
treinamento militar em país comunista e internar-se na selva amazônica, foi uma
decisão do núcleo seleto de comunistas que constituiu e passou a dirigir o
Partido Comunista do Brasil. Os que assim decidiram é que deveriam ser
responsabilizados pelas mortes ou desaparecimentos na tresloucada empreitada do
Araguaia.
Não apenas o Partido Comunista do Brasil, mas também
diversos outros partidos, grupos, organizações e seitas da esquerda
radicalizada não hesitaram em promover a violência armada. Para dar combate à
tática que utilizavam - assaltos a bancos e a estabelecimentos comerciais,
atentados a quartéis, seqüestros de pessoas e aviões comerciais, roubos de
armamento, assassinatos de alguns de seus próprios companheiros, denominados de
“justiçamentos” -, o governo viu-se na contingência de apelar para as Forças
Armadas, constitucionalmente responsáveis pela manutenção da LEI e da ORDEM.
A LEI e a ORDEM foram restabelecidas, sendo as guerrilhas,
urbana e rural, eliminadas na guerra suja então travada. Pouco tempo depois, em
agosto de 1979, o governo decidiu pela concessão de uma Anistia a todos os que
haviam sido condenados ou estavam presos por participação na violência armada
ou, de forma pacífica, nos movimentos e partidos clandestinos de oposição. O
objetivo da anistia foi o de pacificar o país e estender o manto do
esquecimento sobre aqueles anos de chumbo.
Ou seja, todos aqueles que estavam condenados ou
simplesmente presos, ainda submetidos a processos, foram libertados. E agora os
que, todavia, na louca empreitada perderam a vida, tiveram seus familiares
recompensados financeiramente.
Para a concessão dessas recompensas, no entanto, não deixa
de ser ridícula e extemporânea a insinuação dos que redigiram o projeto criando
a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos de que os guerrilheiros do
Araguaia estavam sob a custódia do Estado ou em “dependências policiais ou
assemelhadas”.
Não deixam também de ser extravagantes as alegações da
Comissão de Mortos e Desaparecidos para recompensar as famílias de diversos
guerrilheiros urbanos, definindo que foram mortos em “dependências policiais ou
assemelhadas” ou em “lugares sujeitos à administração militar”, artifícios
utilizados para inúmeros casos, como os de Carlos Lamarca, morto no sertão
baiano - cuja viúva já recebia pensão militar - e Carlos Marighela, morto em
via pública, no centro de São Paulo, traído, deliberadamente ou não, pelos seus
camaradas do Convento dos Dominicanos e muitos outros, reconhecidamente mortos
nas ruas, em confrontos com a polícia.
Rosalino Souza, o “Mundico”, da Guerrilha do Araguaia,
“justiçado” por seus companheiros, teve seu nome incluído na relação de
Desaparecidos Políticos.
Mas isso ainda é pouco, para quem parece querer mais. A
Comissão, criada em agosto de 1995, continua funcionando e julga não ter ainda
concluído seus trabalhos, que não disfarçam um acerto de contas com o passado.
Integram essa Comissão, na condição de representantes dos
familiares, Iara Xavier Pereira e Suzana Kiniger.
Quem são essas senhoras?
- Iara Xavier Pereira pertence a uma família de militantes
da violência armada. Seu pai, João Batista Xavier Pereira, sua mãe, Zilda Paula
Xavier Pereira, e seus irmãos, Alex de Paula Xavier Pereira e Iuri Xavier
Pereira, foram militantes da Ação Libertadora Nacional.
Iara, Alex de Paula, Iuri e Zilda, receberam treinamento
militar em Cuba.
Alex de Paula e Iuri participaram de mais de 40 ações
terroristas. Iuri, inclusive, foi um dos que participaram do “julgamento” pela
chamada “Justiça Revolucionária”, que condenou à morte sob a acusação de
“vacilação”, o seu companheiro Márcio Leite Toledo, “justiçado” em 26 de março
de 1971, nas ruas de São Paulo.
Alex e Iuri foram mortos, em 1972, em confronto com a
polícia. Alex de Paula em 29 de janeiro de 1972, juntamente com o também
terrorista Gelson Reicher; e Iuri em 14 de junho de 1972, juntamente com seus
companheiros Ana Maria Nacinovic Corrêa e Marcos Nonato Fonseca.
Segundo está registrado nas páginas 296, 297 e 298 do livro
“Mulheres que Foram à Luta Armada”, editado em 1998, “Iara, ora com um 38, ora
com um 32 - às vezes com uma metralhadora - participou de algumas ações
armadas: expropriou carros, assaltou firmas (...) Iara é econômica no que diz
respeito aos detalhes das ações, pois ela ocupa, nestes anos do governo
Fernando Henrique Cardoso, posição de destaque junto à Comissão de Mortos e
Desaparecidos Políticos, a responsável pelas indenizações do Estado aos familiares
dos rapazes e moças que morreram na luta”.
Iara Xavier Pereira foi casada com Arnaldo Cardoso Rocha,
militante da ALN, também morto em confronto com a polícia nas ruas de São
Paulo, em 15 de março de 1973. O jornal “O Estado de São Paulo” de 16 de março
de 1973 noticiou a morte: “Três terroristas que lideraram a ação que provocou a
morte do português proprietário do restaurante Varella, na Mooca, foram mortos
na tarde de ontem durante tiroteio com agentes dos órgãos de segurança, na rua
Caquito, no bairro da Penha”. Nesse sentido, a rua Caquito, no bairro da Penha,
teria sido considerada uma “área sujeita à administração militar” ou uma
“dependência militar ou assemelhada”?
Após a morte do marido, Iara viajou para o Chile, e daí,
novamente, para Cuba.
A outra “representante das famílias” na Comissão, Suzana
Kiniger, ou Suzana Lisboa, foi também militante da ALN, juntamente com seu
marido Luiz Eurico Tejera Lisboa. Ambos receberam também treinamento militar na
ilha de Fidel Castro. Luiz Eurico apareceu morto, em circunstâncias
misteriosas, em São Paulo, em 1972.
Os familiares de Alex de Paula Xavier Pereira, Iuri Xavier
Pereira, Arnaldo Cardoso Rocha e Luiz Eurico Tejera Lisboa – que são Iara e
Suzana -, foram recompensados pela Comissão de Desaparecidos Políticos.
Em agosto de 1996, A Comissão cometeu outro absurdo. Decidiu
conceder indenização de 100 mil reais aos beneficiários do Coronel Aviador
Alfeu de Alcântara Monteiro, morto em 31 de março de 1964 com um tiro de
pistola dentro de um quartel da Aeronáutica em Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
cuja viúva já recebia pensão militar.
A respeito de seu voto favorável nesse processo, o General
Osvaldo Pereira Gomes, representante das Forças Armadas na Comissão de
Desaparecidos Políticos, autocriticou-se em entrevista ao jornal “Folha de São
Paulo” de 7 de junho de 1998. Disse ele: “(...) Houve o caso de um militar
janguista que se rebelou num quartel do Rio Grande do Sul. Ele foi morto, e a
Comissão votou o processo em que ele teria levado 16 tiros pelas costas. Era o
coronel Alfeu de Alcântara Monteiro. O pedido de indenização foi aceito. Eu
mesmo aprovei o caso. Na verdade, depois de o caso ser apurado, fui descobrir
que o coronel não tinha levado 16 tiros pelas costas, mas sim um tiro, após um
tiroteio (...) O que foi para o relatório ‘Brasil Nunca Mais’ foi essa versão
de 16 tiros pelas costas, o que é uma inverdade. Houve muitos casos como esse.
Havia inclusive uma combinação entre os presos para eles orquestrarem
determinados depoimentos. Como exemplo, há o caso do general Fayad. Vários
presos políticos combinaram em falar que todos foram torturados por ele (...)”.
A VERDADE é que o Coronel Alfeu de Alcântara Monteiro, um
Oficial janguista, recusou-se a passar o comando da então 5ª Zona Aérea para o
Brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley e reagiu, dando um tiro de pistola
no Brigadeiro, causando-lhe um ferimento na face. Um Coronel, que acompanhava o
Brigadeiro Wanderley, reagiu, matando com um tiro o Coronel Alfeu. Foi
instaurado um Inquérito Policial Militar, sendo o Coronel absolvido pelo STM.
As dúvidas do general Osvaldo Pereira Gomes sobre esse
processo, antes da votação, para que pudesse dar seu voto com absoluto
conhecimento de causa, como é o mínimo que a sociedade exige de qualquer Juiz,
seriam dirimidas se, simplesmente, tivesse consultado o Inquérito Policial
Militar acima referido, arquivado no STM. Mas parece que preferiu informar-se
no “Relatório Brasil Nunca Mais”, redigido pela Arquidiocese de São Paulo.
A “Comissão de Desaparecidos Políticos” continua, até hoje
distribuindo indenizações.
Quem foi o idiota que disse que o crime não compensa?
Não é altamente edificante conhecer um pouco da VERDADE
HISTÓRICA?
Fonte: A Verdade Sufocada
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