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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dilma afunda cada vez mais na negociata de Pasadena. Todas as versões dadas pelo Planalto estão sendo desmontadas.

O Jornal Nacional mostrou, em primeira mão, ontem, o conteúdo de dois documentos sobre o processo da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras. São relatórios de empresas contratadas para avaliar o negócio antes que ele fosse concretizado. E as duas deixaram muito claro para a Petrobras que não tiveram tempo e informações suficientes pra fazer a avaliação. E alertavam para riscos.

Mesmo assim, a empresa brasileira concretizou a compra, que acabou se tornando um péssimo negócio. O parecer confidencial foi entregue à Petrobras em janeiro de 2006, um mês antes da aprovação da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Foi feito pela BDO, uma empresa de auditoria que atua em 140 países.

A empresa fez um levantamento na contabilidade e nos valores de estoques e equipamentos, avaliados pela Astra Oil. Os auditores encontraram 40 pontos questionáveis, perguntas sem resposta. A BDO questiona, por exemplo, o fato de a Astra Oil dizer que seus equipamentos valem US$ 33 milhões, sem informar quais são, quantos são, o tipo e o tempo de uso. No relatório, em inglês, a consultoria afirma que é preciso obter uma lista detalhada para justificar esse valor.

A consultoria também questiona o valor de US$ 189 milhões fixado para o estoque de óleo da refinaria. A BDO diz que o contrato não detalha o tamanho desse estoque. A BDO alerta: a refinaria passou por disputas trabalhistas e precisa se adequar às leis ambientais, o que pode gerar novas despesas. O relatório recomenda expressamente: é preciso colocar limites! Uma consultoria desse tipo é feita para evitar riscos e prejuízos, e cabia à Petrobras seguir ou não as recomendações.

Metade da refinaria foi comprada em 2006, e a outra metade em 2012. A Petrobras gastou, no total, cerca de US$ 1,3 bilhão, ou mais de R$ 2,9 bilhões, por uma refinaria que valia, em 2005, US$ 42,5 milhões. Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração da Petrobras, declarou, em nota, que apoiou a compra com base em um resumo técnico que trazia "informações incompletas", e “omitia qualquer referência às cláusulas", "que se fossem conhecidas, seguramente não seriam aprovadas pelo Conselho de Administração da Petrobras".

O Jornal Nacional também teve acesso ao documento feito pelo Citigroup - que tem sido usado pelo governo como um atestado de defesa da compra da refinaria. Mas não é isso que o relatório contém. O Palácio do Planalto chegou a citar a avaliação em uma cartilha, que encaminhou a deputados aliados para que eles unificassem o discurso a favor do negócio.

O documento a que o Jornal Nacional teve acesso é confidencial. A data é de 1° de fevereiro de 2006, mesmo mês em que a compra de Pasadena foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras.São três páginas, em inglês, enviadas à direção da Petrobras. E quase todo o conteúdo é dedicado a ressalvas sobre a metodologia e os critérios usados pelo Citigroup.

Os técnicos admitem que somente conversaram com diretores e representantes da Petrobras e examinaram previsões financeiras disponibilizadas pela diretoria da estatal. O documento diz: "Nós não fizemos e não nos foi fornecida uma avaliação independente". E destaca: "Nós não fizemos inspeções na refinaria de Pasadena, no Texas". "E nossa opinião é baseada, necessariamente, em dados fornecidos para nós". O Citigroup informa que, por causa disso, "confia que a Petrobras não tenha omitido informações relevantes ao grupo".

São dez parágrafos. Nove dedicados a ressalva, e apenas um, no fim do relatório, se limitando a dizer que o preço foi justo do ponto de vista financeiro. O Citigroup não opinou sobre outros termos do negócio. E alerta que o documento deveria servir ao quadro de diretores da Petrobras somente para nortear a avaliação da compra. O parecer não poderia ser citado publicamente sem o consentimento do Citigroup.

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