Por Percival Puggina
Fiódor Dostoiévski (1821 - 1881)
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A tarefa de
fazer com que muitos creiam não é apenas missão religiosa. É, também, essência
da política como arte de conquistar apoios para alcançar e manter o poder. Há
sistemas políticos nos quais as pessoas creem em partidos e suas ideias, visões
de mundo, perspectivas históricas, valores e em como isso se projeta nos anos
por vir. E há sistemas, como o nosso presidencialismo, em que a crença dos
eleitores recai sobre as pessoas dos candidatos. É fácil compreender que isso
nos faz mais vulneráveis à mentira como forma de angariar apoios. Quanto mais
ingênuo o eleitor, quanto mais carente do benefício pessoal que lhe possa advir
do poder público, mais sensível ele se torna a mentiras e mistificações. Nas
nossas disputas políticas, a verdade é mais inoportuna do que a mentira.
Em Irmãos
Karamazov, Dostoievski ensina: "O homem que mente para si mesmo e
escuta as próprias mentiras chega a um ponto em que não pode distinguir a
verdade e a mentira dentro de si ou ao redor de si, e assim perde todo o
respeito por si mesmo e pelos outros".
Após seu depoimento
nas instalações da PF em Congonhas, durante a entrevista que virou discurso, o
ex-presidente era imagem viva e falante do desastre exposto por Dostoievski.
Lula apelou para todo o seu repertório de artimanhas. Quero destacar a que é
mais repetida, ao longo dessa infinita série de escândalos. Segundo o governo,
a promissora condução petista dos negócios nacionais seria antagonizada por uma
elite que não tolera a prosperidade dos mais pobres.
Lula, Dilma, o governo
e seus partidos prestariam enorme serviço à saúde pública se apontassem quais
brasileiros desejam que os pobres continuem pobres e morram na miséria. Essas
pessoas, certamente pouquíssimas caso existam, deveriam ser identificadas e
tratadas porque portadoras de um desejo anormal, desumano e masoquista. Ninguém
mentalmente sadio quer viver sitiado pela miséria e suas vexatórias
consequências que o governo sequer minimamente conseguiu abrandar.
A esse respeito, o
senso comum grita contra a algaravia de Lula: nada é tão honestamente benéfico
ao bem de cada um do que o bem de todos! Nada é mais conveniente à prosperidade
de cada um do que a prosperidade de todos! São dois axiomas que dispensam
provas. Eis por que o desastre ético e técnico da gestão petista nos leva a
sonhar com educação promovendo o desenvolvimento das potencialidades da
juventude, população ativa ganhando a vida e gerando riqueza, produção,
consumo, empregos, PIB crescendo, inflação caindo e as pessoas podendo cuidar
bem de si mesmas. Quem não quiser isso é doido. E quem acusa 90% da população
ser contra isso é o quê, Dostoievski?
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Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora
e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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