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sábado, 12 de dezembro de 2015
Um Cunha no comando da Câmara é tão intragável quanto uma Dilma na Presidência
Nas manifestações deste 13 de dezembro, a voz da rua precisa
transformar em quarteto a trinca de campeões de impopularidade. “Fora Dilma!”,
“Fora Lula”, “Fora PT!”, continuarão clamando as multidões fartas de
incompetência e ladroagem. Muito justo. Mas chegou a hora do “Fora Cunha!”.
Primeiro, porque um Eduardo Cunha no comando da Câmara é
algo tão intragável quanto uma Dilma Rousseff na chefia do Executivo. Segundo,
porque o “Fora Cunha!” desmontará de vez a farsa forjada pelo Planalto para
tentar reduzir o processo de impeachment a um duelo entre dois pecadores sem
salvação.
A esperteza vai morrer de inanição. O que está em curso é um
confronto entre uma governante fora da lei e o Brasil decente. É um embate
entre uma nulidade destrambelhada e o estado democrático de direito. O Brasil
ficará bem menos cafajeste com o sepultamento simultâneo da dupla na vala comum
reservada aos embusteiros.
Lula usou o São Francisco para inventar a obra que vira ruína sem ter existido
Graças à prisão de quatro executivos de empresas que andaram
pescando quilos de dinheiro às margens do São Francisco, a milagrosa
transposição das águas acaba de transferir-se do cartório onde jaz o Brasil
Maravilha para o noticiário político-policial. Agonizante desde os trabalhos de
parto, o que deveria ser a obra do século é hoje o mais recente esqueleto do
acervo acumulado pelo escândalo do milênio. A extravagância fluvial nem
precisou ser inaugurada para transformar-se num portentoso símbolo da Era da
Mediocridade. E numa prova de que, num momento infeliz da nossa história, o
povo brasileiro desempenhou aplicadamente o papel de otário.
Em 2004, estacionado no Ceará, o palanque ambulante jurou
que até 2006 seria materializado um dos grandes sonhos de Dom Pedro II (ou
“Predo”, na pronúncia do Pedro III de botequim). “Muitas vezes a coisa pública
foi tratada no Brasil como se fosse uma coisa de amigos, um clube de amigos, e
não uma coisa pública de verdade”, ensinou Lula durante a discurseira ufanista.
Como o gênio da raça descobrira que a coisa pública deve ser tratada como coisa
pública, sobravam as verbas que sempre faltaram. “Dinheiro não vai faltar”,
gabou-se o maior dos governantes desde Tomé de Souza.
Na campanha presidencial de 2006, o aspirante a um segundo
mandato não pronunciou uma única e escassa palavra sobre a multiplicação das
águas que continuavam onde sempre estiveram. A vitória nas urnas refrescou-lhe
a a memória. Sem apresentar justificativas para os dois anos de atravo, avisou
que ainda faltavam quatro para que o sertão virasse mar. “Em 2010, um
nordestino pobre vai fazer o que nem um imperador conseguiu”, recomeçou a
lengalenga. O vídeo abaixo mostra os capítulos seguintes da farsa.
Em 2010, o padrinho avisou que a transposição seria
inaugurada pela afilhada dali a dois anos. Em 2012, Dilma prometeu concluir em
dezembro “a primeira fase” da proeza invisível a olho nu. O resto teria de
esperar até 2014. Convidado a explicar-se durante a campanha pela reeleição, o
poste fabricado por Lula descobriu que a coisa era complicada demais para ser feita
tão em pouco tempo. “Houve uma subestimação da obra”, escapuliu a doutora em
nada que subestima obras e a inteligência da plateia.
Em 2015, Lula ressuscitou a tapeação ao som da lira do
delírio. De novo, repetiu que os brasileiros ficarão grávidos de orgulho
patriótico quando puderem contemplar o colosso “que nem Dom Pedro II conseguiu
realizar”. A nova etapa da Operação Lava Jato, apropriadamente batizada de
Operação Vidas Secas, já apurou ladroagens que somam pelo menos R$ 200 milhões,
embolsados por banqueiros amigos e empreiteiros de estimação do chefe supremo.
Ainda é cedo para calcular com precisão o produto do roubo.
Também não tem preço o assombro parido por Lula às margens
do São Francisco. O fundador do império do embuste inventou uma espécie de obra
que enriquece meio mundo antes de virar ruína sem ter existido.