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sexta-feira, 4 de setembro de 2015
O impacto na economia com os boatos sobre a permanência de Joaquim Levy
A volatilidade do dólar hoje esteve muito relacionada aos
rumores quanto á posição de Levy no governo. Logo na abertura dos negócios a
cotação disparou, no embalo da especulação quanto à possível saída do ministro
da Fazenda, diante da incapacidade de o governo executar o ajuste fiscal. Levy,
chamado de mãos de tesoura, como observou o Financial Times, estaria queimando
muito a própria imagem.
Afinal, um governo que manda para o Congresso uma proposta
orçamentária já prevendo déficit no próximo ano é um governo que quer continuar
gastando. Isso pegou muito mal aqui e no exterior. Fez com que o Brasil já
passasse a ser tratado como um país sem grau de investimento, sem o selo de bom
pagador.
O mercado, desde a semana passada, já está antecipando o
rebaixamento do País pelas agências de classificação de risco. Mas, em meio ao
nervosismo, começou a circular a conversa de que Dilma teria sido alertada por
banqueiro quanto ao risco de o Brasil sofrer um ataque especulativo, com saída
mais pesada de investimentos e desdobramentos mais sérios para a economia, caso
Levy abandonasse mesmo o barco, por se sentir isolado, sem espaço para
trabalhar. Conversa que coincidiu com a mudança na agenda, internacional, do
ministro, que deveria estar na Turquia, e confirmação da reunião com Dilma, no
Palácio do Planalto.
Resta ver o que vai acontecer, de fato. Discurso já não
adianta muito. Não basta prestigiar o ministro. Técnico de futebol também é
elogiado antes de cair. É preciso mostrar resultado. Aí é que a coisa complica.
Por mais que o ministro seja respeitado pelo currículo que tem, o governo está
numa enrascada. A presidente Dilma está enfraquecida, sem força política e,
talvez, até sem disposição pra fazer os cortes necessários para viabilizar uma
meta de superávit das contas públicas. Meta que ainda possa salvar o País do
rebaixamento. Ontem mesmo ela admitiu que pra melhorar as contas poderíamos ter
mais aumento de impostos, sem descartar inclusive a volta da CPMF, que foi
idéia do Planejamento.
Aliás, em vários embates, Nelson Barbosa é que tem tido mais
apoio, como naquele primeiro corte do orçamento, na redução da meta fiscal...
Coube a ele o anúncio da intenção do governo de reduzir o número de
ministérios, o que ainda não aconteceu. Mesmo que se tente fortalecer a posição
de Levy, difícil imaginar que ele possa mesmo ter força pra fazer o que tem de
ser feito, com o governo fragilizado como está.
No vídeo, a especialista em pedaladas bandidas jura que as contas públicas vão muito bem. É hora de despejar do Planalto quem vive mentindo para manter o emprego
Em 15 de outubro de 2013, durante uma visita a Salvador, Dilma
Rousseff não escondeu a irritação ao topar com outro jornalista interessado em
saber se a gastança do governo ficaria abaixo da receita. Claro que sim, rosnou
a especialista em esconder rombos obscenos com pedaladas fiscais e outras
mágicas de picadeiro.
“Contas públicas absolutamente em ordem”, mente no vídeo a
supergerente de araque antes de desferir um vigoroso pontapé na verdade:
“Quando que o Brasil teve 378… entre 376 e 78 bilhões de dólares de reserva…”,
fantasia nossa Angela Merkel de botequim. Passados menos de dois anos, a farsa
está em frangalhos.
O Orçamento esburacado pela incompetência, pela leviandade e
pela corrupção provou que os pagadores de impostos são lesados e iludidos há
quase 13 anos. Colocada na alça de mira da Justiça Eleitoral, do Tribunal de
Contas da União e da Operação Lava Jato, repelida por mais de 80% da nação
exausta de lulopetismo, Dilma foi obrigada a admitir o naufrágio.
O Brasil Maravilha só existiu na imaginação dos poderosos
embusteiros. É hora de sepultar em cova rasa a criatura e seus criadores. É
preciso despejar do gabinete no Planalto, o quanto antes, quem conta mentiras o
tempo todo para permanecer no emprego que jamais mereceu.
Dilma e Renan prometem salvação mútua. Só esqueceram de acertar o jogo com Moro
Dilma e Renan prometem salvação mútua. Só esqueceram de
acertar o jogo com o juiz da Lava Jato Sergio Moro. Não adianta um acordo duplo
se há um terceiro personagem que pode te prender. Além disso, a dívida de Renan
com a presidente está quase paga.
Como a Guatemala derrubou um presidente corrupto
Como vocês sabem, se a população sai às ruas para pedir a
cabeça de um presidente, muitas vezes ela consegue. Aconteceu desta vez na
Guatemala. É aquele pequeno país da América Central, bem em baixo do México.
O presidente Otto Pérez Molina renunciou ontem à noite,
depois de semanas de manifestações. Pérez Molina é um corrupto sem-vergonha.
Desviou uma fortuna da alfândega guatemalteca. Mas a vice-presidente, Roxana
Baldetti, não assumiu no lugar dele. Ela está na cadeia. Foi condenada por
envolvimento no mesmo escândalo. O país será governado por um novo vice. E, por
coincidência, tem eleição presidencial, agora no domingo.
A Guatemala é o país de maior população na América Central.
São 14 milhões de habitantes. E é também o país mais pobre, com as maiores
taxas de miséria e de mortalidade infantil. É um país infeliz, cheio de
desgraças políticas.
Nos anos 40, havia um ditador que na prática reinstituiu a
escravidão. Proibia que os camponeses das plantações de banana deixassem o
emprego sem a autorização dos patrões. A banana era a maior riqueza da
Guatemala, controlada por uma companhia americana, a United Fruit. Pois foi
contra isso que o país elegeu um presidente de esquerda, o primeiro presidente
de esquerda da América Latina. Foi Jacobo Arbenz, derrubado num golpe de
Estado, patrocinado pelos americanos, em 1954.
Depois disso, foi uma sucessão de banhos de sangue. Até a
Guerra Civil que terminou só há 20 anos. Nela morreram 200 mil pessoas. Eram
sobretudo índios, descendentes dos Maias. O grande carrasco se chamava general
Ifraim Rios Montt, ditador apoiado pelos Estados Unidos.
A violência foi a causa indireta de dois Prêmios Nobel que o
país recebeu. Tem o Nobel de Literatura, para o Miguel Angel Astúrias, que
descreve a opressão em seus romances. E o Nobel da Paz, para uma militante de
direitos humanos, Rigoberta Menchú. Aqui, no Brasil, também tem povo nas ruas,
pedindo a saída de uma presidente. Mas nós nunca tivemos um Prêmio Nobel.
É assim que o mundo gira.