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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Como a Guatemala derrubou um presidente corrupto



Como vocês sabem, se a população sai às ruas para pedir a cabeça de um presidente, muitas vezes ela consegue. Aconteceu desta vez na Guatemala. É aquele pequeno país da América Central, bem em baixo do México.

O presidente Otto Pérez Molina renunciou ontem à noite, depois de semanas de manifestações. Pérez Molina é um corrupto sem-vergonha. Desviou uma fortuna da alfândega guatemalteca. Mas a vice-presidente, Roxana Baldetti, não assumiu no lugar dele. Ela está na cadeia. Foi condenada por envolvimento no mesmo escândalo. O país será governado por um novo vice. E, por coincidência, tem eleição presidencial, agora no domingo.

A Guatemala é o país de maior população na América Central. São 14 milhões de habitantes. E é também o país mais pobre, com as maiores taxas de miséria e de mortalidade infantil. É um país infeliz, cheio de desgraças políticas.

Nos anos 40, havia um ditador que na prática reinstituiu a escravidão. Proibia que os camponeses das plantações de banana deixassem o emprego sem a autorização dos patrões. A banana era a maior riqueza da Guatemala, controlada por uma companhia americana, a United Fruit. Pois foi contra isso que o país elegeu um presidente de esquerda, o primeiro presidente de esquerda da América Latina. Foi Jacobo Arbenz, derrubado num golpe de Estado, patrocinado pelos americanos, em 1954.

Depois disso, foi uma sucessão de banhos de sangue. Até a Guerra Civil que terminou só há 20 anos. Nela morreram 200 mil pessoas. Eram sobretudo índios, descendentes dos Maias. O grande carrasco se chamava general Ifraim Rios Montt, ditador apoiado pelos Estados Unidos.

A violência foi a causa indireta de dois Prêmios Nobel que o país recebeu. Tem o Nobel de Literatura, para o Miguel Angel Astúrias, que descreve a opressão em seus romances. E o Nobel da Paz, para uma militante de direitos humanos, Rigoberta Menchú. Aqui, no Brasil, também tem povo nas ruas, pedindo a saída de uma presidente. Mas nós nunca tivemos um Prêmio Nobel.

É assim que o mundo gira.

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