Como vocês sabem, se a população sai às ruas para pedir a
cabeça de um presidente, muitas vezes ela consegue. Aconteceu desta vez na
Guatemala. É aquele pequeno país da América Central, bem em baixo do México.
O presidente Otto Pérez Molina renunciou ontem à noite,
depois de semanas de manifestações. Pérez Molina é um corrupto sem-vergonha.
Desviou uma fortuna da alfândega guatemalteca. Mas a vice-presidente, Roxana
Baldetti, não assumiu no lugar dele. Ela está na cadeia. Foi condenada por
envolvimento no mesmo escândalo. O país será governado por um novo vice. E, por
coincidência, tem eleição presidencial, agora no domingo.
A Guatemala é o país de maior população na América Central.
São 14 milhões de habitantes. E é também o país mais pobre, com as maiores
taxas de miséria e de mortalidade infantil. É um país infeliz, cheio de
desgraças políticas.
Nos anos 40, havia um ditador que na prática reinstituiu a
escravidão. Proibia que os camponeses das plantações de banana deixassem o
emprego sem a autorização dos patrões. A banana era a maior riqueza da
Guatemala, controlada por uma companhia americana, a United Fruit. Pois foi
contra isso que o país elegeu um presidente de esquerda, o primeiro presidente
de esquerda da América Latina. Foi Jacobo Arbenz, derrubado num golpe de
Estado, patrocinado pelos americanos, em 1954.
Depois disso, foi uma sucessão de banhos de sangue. Até a
Guerra Civil que terminou só há 20 anos. Nela morreram 200 mil pessoas. Eram
sobretudo índios, descendentes dos Maias. O grande carrasco se chamava general
Ifraim Rios Montt, ditador apoiado pelos Estados Unidos.
A violência foi a causa indireta de dois Prêmios Nobel que o
país recebeu. Tem o Nobel de Literatura, para o Miguel Angel Astúrias, que
descreve a opressão em seus romances. E o Nobel da Paz, para uma militante de
direitos humanos, Rigoberta Menchú. Aqui, no Brasil, também tem povo nas ruas,
pedindo a saída de uma presidente. Mas nós nunca tivemos um Prêmio Nobel.
É assim que o mundo gira.
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