Por Percival Puggina
A presidente Dilma veio às falas e se declarou
indignada. Ela, indignada. E nós, o quê? Nós, constrangidos a conviver com
recessão, inflação e corrupção. Nós, sentenciados a acatar aumentos de
impostos, solução indicada por quem sequer entendeu a natureza do problema.
Somos notificados, nós, em cadeia nacional, de que a presidente está braba...
Ora, leitores, o Brasil cansou de Dilma, do seu
partido, das enrolações, das mentiras e das mistificações que mantêm o PT no
poder.
Hoje à tarde, quinta-feira (3), assisti a leitura do pedido
de impeachment ao plenário da Câmara dos Deputados. Estarrecedora a lista de
crimes de responsabilidade fiscal praticados pelo governo! Na origem de cada um
deles a mesma motivação: ocultação da realidade, dissimulação dos fatos,
enganação. A tais práticas, lembremo-nos, era dado o nome de “contabilidade
criativa”. Valha-nos Deus!
A presidente espera enfrentar a crise acusando a oposição de
conspirar contra o interesse público. Mas quem agiu prolongada e
determinadamente contra a nação, olhos postos apenas no interesse próprio e nas
parcerias ideológicas? Quem fez o diabo e todos os diabinhos possíveis para
vencer a eleição gerando o caos subsequente, jogando o país em mais uma década
perdida?
O Brasil precisa de união nacional para enfrentar a crise. A
presidente não perdeu apenas 70% dos votos que fez no ano passado. Por não
respeitar o interesse público, por valorizar mais a reeleição do que o bem do
país, ela perdeu o respeito do país. E não há, tampouco, como seu partido
unificar qualquer coisa politicamente consistente. Enquanto o governo jogava o
país na valeta da estrada por onde outros avançam, o partido governante
entesourava e tratava de dedicar o Estado, o governo e a administração à tarefa
de construir conflitos e impor suas pautas.
A unidade, em torno de Dilma Rousseff, só pode ser na tarefa
de nos enganarmos uns aos outros para que, ao final, estejamos todos vivendo o
mesmo delírio. E a unidade, em torno do PT, é a guerra de todos contra todos, é
a simultaneidade dos ódios provocados e a explosão de todos os conflitos
existentes, inventados e ainda por inventar.
O impeachment no qual o país depositou suas esperanças neste ano que chega ao
fim foi posto em marcha. Ao longo das próximas décadas estaremos falando destes
dias, destas semanas, e saberemos que, em 2015, o povo brasileiro mobilizou-se
para que se cumprisse a Constituição e fossem afastados do poder aqueles que se
uniram na mentira e nela se abastaram.
Tanto semearam divisão que acabaram unindo o país contra si.
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Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora
e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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