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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Muçulmanos não ameaçam os valores cristãos



Um fantasma circula na Europa. É o fantasma do preconceito contra os muçulmanos. O anti-islamismo é um racismo tão horroroso quanto o preconceito contra os judeus. O anti-islamismo se agravou com a chegada dos refugiados da Síria e do Iraque. Pelas últimas estatísticas, já foram 330 mil este ano.

A situação é particularmente grave na Hungria, onde o primeiro-ministro, Viktor Orban, disse que não quer saber de muçulmanos no país dele. Na Polônia, o governo reagiu quase do mesmo jeito. O anti-islamismo teve três etapas na história recente da Europa. A primeira começou há uns 70 anos, quando as economias mais industrializadas precisavam de mão-de-obra barata. Foram os turcos na Alemanha, que hoje representam quase 4 por cento da população. Ou os paquistaneses no Reino Unido, com quase 5 por cento. Ou então os 8 por cento de marroquinos e argelinos, na atual população da França.

A segunda etapa aconteceu com o 11 de setembro, depois dos atos terroristas da Al Qaeda. O muçulmano inspirava medo. E a terceira etapa começou com a crise dos refugiados. Foi por causa deles que grupos de extrema direita convocaram, há alguns meses, manifestações na Alemanha, na Inglaterra e na Dinamarca.

Na Polônia, 44 por cento da população tem uma ideia preconceituosa dos muçulmanos. Em toda a Europa, eles são suspeitos de simpatias pelo terrorismo. Atribuem a eles clichês absurdos, como a ideia de que a religião deles permite maltratar as mulheres, e praticar nelas a mutilação sexual.

O ser humano é um bicho capaz de atitudes irracionais e mesquinhas. Não existe racismo do bem. Não existe racismo defensável. E também não adianta argumentar que os valores cristãos estejam ameaçados pelos muçulmanos. Isso é uma mentira antropológica, é uma mentira histórica, é uma mentira política. E isso também prova até que ponto podemos descambar para a maldade, sob o pretexto idiota de proteger a nossa civilização.

É assim que o mundo gira.

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