Por Percival Puggina
Há alguns meses, uma dupla de vagabundos me encostou
uma pistola na barriga e exigiu a chave do carro. Ainda sob o impacto do
acontecido, fomos, minha mulher e eu, à delegacia mais próxima relatar a
ocorrência. Era o que se impunha fazer naquele momento e esperávamos, ademais,
que a notificação urgente possibilitasse - quem sabe? - recuperar o que nos
haviam roubado. Mas isso não aconteceu.
Estou convicto de que tivemos um comportamento normal. É o
que se faz em tais circunstâncias. Reage-se indo à polícia. Espera-se que os
criminosos sejam apanhados. Exige-se que as quadrilhas sejam trancafiadas.
Diante do que acabo de descrever, impõem-se inquietante
questão: por que, diabos, quando na condição de cidadãos que veem o país ir à
gaita, tantos se recusam a admitir que estão sendo roubados? Por que, após
serem ludibriados com mentiras, muitos se mantêm defendendo os mentirosos? Que
síndrome de Estocolmo (1) social e economicamente sinistra é essa que ainda sai
às ruas, assina colunas de jornais, esgrima comentários no rádio e na tevê e se
entrincheira nas redes sociais para defender o governo? Agem como vítimas que,
após o dano sofrido, saem conversando amavelmente, abraçadas com quem as
prejudicou - "Bye, bye, voltem sempre!". (1)Essa síndrome designa o
vínculo emocional com os sequestradores, desenvolvida pelos sequestrados
durante um roubo a banco na capital da Suécia em 1973.
Recebi, ontem um levantamento segundo o qual, somando-se os
filiados ao Partido dos Trabalhadores com os militantes do MST, Via Campesina,
MTST, UNE e ONGs financiadas pelo governo federal, acrescidos dos blogueiros,
MAVs pagos pelo partido e titulares de cargos de confiança, chega-se a umas 15
milhões de pessoas, ou seja a 7% do eleitorado. E esse seria, portanto, o piso
da aprovação ao governo.
No entanto, os números parecem um pouco inflados. Há gente
que não se enquadra em qualquer dessas categorias e se conta entre os tais 7%.
Quando milhões saem às ruas em centenas de cidades do país, expressando a
natural indignação de quem se percebe roubado, ludibriado e vítima de
estelionato eleitoral, os protetores do governo tratam de desqualificar suas
admiráveis manifestações. Afirmam que são mobilizações exclusivas da classe
média, como se um governo que fez mais da metade dos votos e em poucos meses
cai para 7% de aprovação, não tivesse perdido apoio de todas as classes sociais.
Nestes dias, o petismo busca salvação no andar mais elevado
dos poderes de Estado, reunindo homens da estirpe de Lula, Sarney, Renan,
Jucá, Barbalho. Janta com ministros do STF! Encontra-se secreta e casualmente
com Lewandowsky na cidade do Porto. Usa e abusa dos nossos recursos, aumentando
os gastos com a publicidade oficial para domar a mídia e distribuindo favores
aos currais eleitorais do Norte e do Nordeste.
E tem buscado, inutilmente, arregimentar apoios, também, no
andar térreo, convocando os "exércitos" de Stédile (MST) e de Vagner
Freitas (CUT). Que fiasco! Para cada cem manifestantes do dia 16, o governo
conseguiu, no dia 20, transportar e colocar nas ruas uns 4 ou 5 gatos pingados,
que se moviam em visível constrangimento e com a animação de velório de monge
budista. Não é humano, não é natural, não é normal, aplaudir corrupção,
inflação, desemprego, carestia, recessão e incompetência. Quando isso acontece,
ou há interesses em jogo, ou é síndrome de Estocolmo.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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