Por Carlos Brickmann
No Brasil, ensinava o ministro Pedro Malan, até o passado é
imprevisível. Mas o futuro já dá para prever: basta olhar hoje pela janela,
abrir os ouvidos à voz das ruas, dar uma volta com a manifestação Fora Dilma.
Caso a manifestação seja pequena, os bons acertos do Governo com Guerreiros do
Povo Brasileiro como Renan Calheiros, Guilherme Boulos, do MTST, e Wagner
Freitas, o presidente da CUT que se imagina comandante supremo dos exércitos
bolivarianos, permitirão à presidente Guerreira da Pátria Brasileira
arrastar-se até pelo menos a próxima crise (como a da CPI do BNDES, por
exemplo; ou, já iniciada, a investigação da Polícia Federal sobre o custo da
Arena Pernambuco, construída pela Odebrecht, e que certamente não se limitará a
um único Estado, nem a um só estádio). Uma grande manifestação enfraquecerá
ainda mais quem já está fraca. E os índices de popularidade de Dilma não têm
mais como emagrecer.
Os seres vivos (e políticos são muito mais vivos) têm como
principal instinto o da sobrevivência. Governo que disponha de cargos a
distribuir tem lá seus atrativos. Isso, entretanto, só vale longe das eleições:
em anos eleitorais, como 2016, Governo fraco é evitado como doença contagiosa.
Político adora vencedores e foge de quem depende de um Renan para sobreviver
mais algum tempo. Muda de lado, e logo. Collor, aliás, se apoiava em Renan. E
Renan o abandonou.
Em resumo, se a manifestação for um sucesso, até o Barba a
porá de molho.
De crise…
Neste momento, a propósito, é bom manter as barbas de molho.
A Polícia Federal invadiu na sexta-feira escritórios da Odebrecht em seis
Estados – Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito
Federal – na Operação Fair-play (jogo limpo). O objetivo é apurar se houve
fraude na concorrência e superfaturamento na Arena Pernambuco, construída no
Governo Eduardo Campos (PSB) para a Copa do Mundo. Investiga-se direcionamento
da concorrência, em benefício da Odebrecht, e superfaturamento entre R$ 40 e R$
75 milhões. E por que escritórios da empresa em outros Estados também foram
vasculhados? Segundo a Polícia Federal, para comparar os preços cobrados nos
quatro estádios construídos pela Odebrecht para a Copa.
Só mais um problema: há suspeitas de superfaturamento em
outros estádios. E, em pelo menos um deles, o do Corinthians, o presidente Lula
ajudou o dirigente corinthiano Andrés Sanchez, que contou a história, a
resolver problemas.
…em crise
O deputado Arnaldo Jordy (PPS-Pará), requereu à CPI do BNDES
a convocação do ex-presidente Lula e de seu filho Fábio Luís Lula da Silva.
É a primeira vez em que alguém, numa CPI, tenta investigar
um integrante da família de Lula.
A lei, ora a lei
O presidente da CUT, Wagner Freitas, na frente da presidente
da República, ameaçou pegar em armas com finalidade política. Não importa o que
moveu o presidente da CUT a usar essa inaceitável linguagem bélica: caberia à
presidente cumprir a lei, oficiando ao procurador-geral da República para
investigar o caso. Dilma preferiu rir de alegria diante da ameaça de luta
armada.
A frase de Freitas: “Nós somos trabalhadores. Somos
defensores da unidade nacional. Isso implica ir para as ruas entrincheirados,
de armas na mão, se deitar e lutar, se tentarem tirar a presidente. Nós seremos
o exército que vamos enfrentar essa burguesia”.
Alô, Ministério Público Federal! Tudo normal, dentro da lei?
Aplausos pagos
A Marcha das Margaridas, promovida pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Contag, em apoio à presidente Dilma
Rousseff, é estranhíssima: primeiro, porque a manifestação em favor do Governo
foi paga pelos cofres públicos: R$ 400 mil da Caixa, R$ 400 mil do BNDES e R$
55 mil da Itaipu Binacional. A manifestação em apoio a Dilma atraiu 15 mil
pessoas, ao custo, portanto, de R$ 57 por pessoa, fora lanchinho e
refrigerantes – tudo tirado do seu, do meu, do nosso dinheiro.
Segundo, porque os recursos saídos da área econômica do
Governo foram usados para hostilizar o chefe da área econômica do Governo. O
grito era Fora Cunha, Fora Levy. Cá entre nós, pode dar certo?
Brasil, um retrato
Campo Grande, uma bela cidade, é capital do Mato Grosso do
Sul. O prefeito Alcides Bernal, do PP, perdeu o mandato por corrupção. O vice
Gilmar Olarte, também do PP, assumiu, mas está sujeito à cassação por corrupção
(a Câmara Municipal o enviou à Comissão Processante por 29×0), e o Ministério
Público o processa por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. O seguinte na
linha de sucessão é o presidente da Câmara, Mário César Oliveira da Fonseca, do
PMDB, que está sendo investigado pela Polícia Federal na Operação Lama
Asfáltica.
Só? Não! Em junho de 2014, o vereador Mário César teve o
mandato cassado pela juíza eleitoral Elisabeth Rosa Baisch, por abuso de poder
econômico durante a campanha. Mário César recorreu, venceu e foi reconduzido ao
cargo.
Esperemos o próximo capítulo. O correspondente desta coluna
em Campo Grande, um excelente jornalista, Paulo Renato Coelho Neto, se mantém
sempre alerta.
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Carlos Brickmann é jornalista e consultor de
comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe
e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede
Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da
Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial,
editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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