Por Percival Puggina
Nosso jornalismo, há muitas décadas, foi tomado de assalto
pelos que chamo "pedagogos da opinião pública". Por sua visibilidade,
do alto de suas posições nos meios de comunicação, sentem-se como mestres em
salas de aula, praticando contra a opinião pública o mesmo abuso mental que
tantos professores praticam com os alunos, mediante influência e poder. Uns e
outros, pedagogos da opinião pública e professores militantes, operavam antes
de o PT nascer e prepararam dedicadamente seu caminho ao poder. Era na base do
nós e eles. Simples assim: a esquerda era o bem e, fora dela, nada haveria que
prestasse.
Algumas coisas sobre si mesmos eles já compreenderam,
ao longo dos últimos meses. Seu prestígio despencou junto com o daqueles a quem
emprestavam ou vendiam apoio. Seus discípulos já lhes viram as costas. São
formadores de opinião que não formam opinião alguma e cujas manifestações
exigem enorme esforço mental. Não é fácil parecer que não fazem exatamente
aquilo que estão fazendo, mas "pegaria mal" se fizessem.
Exemplifico. Os pedagogos da opinião pública não são
contra as passeatas. Mas ensinam que "Impeachment-já!" recusa o ritmo
constitucional que aponta para a sequência crime, acusação, julgamento e (só
então) impeachment. Entenderam? Segundo eles, os manifestantes deveriam sair às
ruas, Brasil afora, levando faixas mais ou menos assim:
"Impeachment, se possível, quando possível!". Quem
carregaria uma peça dessas? Animados com uma candura e uma doçura que exige um
canavial inteiro propõem "menos ódio" nas manifestações. Engraçado,
não é mesmo? Que fim levou a boa e velha indignação pela qual tanto cobravam
quando serviam ao PT oposicionista? Agora, a justa indignação virou ódio?
Sentimento maligno, politicamente hediondo, pimenta que arde no olho?
Eles nos ensinam, também, que o "Fora
Dilma!" é frase autoritária. Diagnosticam que ela fere a legitimidade do
mandato da presidente. Como pode alguém dizer "Fora Dilma!", seis
meses depois de a presidente ter sido eleita com maioria de votos?
É a pedagogia da conformidade bovina. Se for assim e para
isso, a gente fica em casa assistindo um filmezinho, que é exatamente o desejo
por trás dessa pedagogia para boi no cercado.
Falemos, então em legitimidade, jornalista pedagogo
militante. De que legitimidade falas quando te referes ao atual mandato da
presidente? Da legitimidade alcançada com votos atraídos pelo festival de
mentiras, mistificações e falsidades que se derramou pelo país em 2014? Da
legitimidade via votos comprados com bilhões de nosso dinheiro? Da legitimidade
alcançada com ameaças de que um festival de desgraças se abateria sobre o país
em caso de vitória da oposição (para logo após a adotar aquelas mesmas medidas
contra as quais verberava)? Da legitimidade via urnas eletrônicas? Via
Smartmatic? Via apuração sigilosa? Da legitimidade de quem agora não
arregimenta mais do que 7% dos eleitores?
O povo não estaria nas ruas se não se sentisse enganado,
ultrajado e furtado! Aprendam isso e aprendam a ouvir o povo, em vez de apenas
falar-lhe. Aproveitem do caráter, este sim pedagógico, das manifestações dos
últimos meses. E com o que ainda lhes reste de consciência, arrependam-se do
que ajudaram a produzir no país. O preço desse constrangedor serviço está sendo
pago com corrupção em proporções jamais vistas, com recessão, inflação,
desemprego, carestia, perda de credibilidade nacional e humilhação perante as
demais nações. Está de bom tamanho?
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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