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quarta-feira, 15 de julho de 2015

UMA QUESTÃO DE HÁBITO


Ao analisarmos as raízes da formação da nacionalidade brasileira podemos afirmar que esta Colônia portuguesa tinha todas as condições para dar errado como um país de dimensões continentais. E por quê?

Fomos “descobertos” no meio de uma crise mundial, envolvendo disputas entre duas Nações detentoras do direito de dividir o mundo como suas propriedades. Entretanto, as disputas por poder naquela época fizeram surgir discordâncias oficiais e as consequentes ações ilegais, ditas como piratarias, na busca de tesouros e matérias-primas.

Para que um país com todas as características de continente pudesse ser povoado foi preciso estimular a migração trazendo braços para o trabalho. No caso do Brasil, a mão de obra usada foi a escrava, tendo infelizmente ocorrido da forma mais degradante possível. Centenas de milhares de africanos foram retirados à força de suas tribos e famílias e transportados para um local onde eram tratados piores do que animais.

Mesmo com este tratamento, com o passar dos tempos (quase três séculos) e com os hábitos formados pelos colonizadores e demais moradores, estes imigrantes e outros que vieram de vários continentes por razões as mais diversas possíveis, puderam se adaptar e mostrar suas capacidades, permitindo que suas culturas integrassem o cadinho cultural de uma Nação independente. Todos queriam simplesmente viver em paz com suas famílias, seus bens pessoais e com liberdades de trabalho e de religião.

Assim, a sociedade criada inicialmente sob condições adversas formou uma população que se tornou um sonho de consumo para muitas outras espalhadas no Mundo. Os Europeus, acreditamos que ainda sonham em vir morar no país das praias, do Sol o ano inteiro, do carnaval e do futebol.

Se bem que no futebol estamos com uma geração que está nos deixando quase esquecidos desta característica nacional. Grande parte da população já incorporou o voleibol como sendo uma preferência nacional. Afinal de contas, com estes jogadores temos visto um time com o hábito de ser vencedor. E assim podermos esquecer parte de nossas limitações internas.

Sempre foi assim. Aliás, citam alguns estudiosos que os brasileiros trabalham no intervalo das festas nacionais, entendendo-se que não somente os dias de carnaval assim sejam considerados. Nos dias de jogos da seleção brasileira de futebol o país sempre parava para vibrar. Mas, nas manifestações de 2013, durante a Copa das Confederações e em 2014 durante a Copa do Mundo, brasileiros mostraram que os descontentamentos haviam extrapolado os limites da tolerância e os cidadãos de todos os matizes foram às ruas para protestar, mesmo em dia de jogo da seleção.

Assim sendo, voltamos a citar a importância de adquirirmos hábitos sadios nas nossas vidas.

A derrota no jogo contra a Alemanha foi entendida como uma derrota numa batalha pela sobrevivência do orgulho nacional. E vejam que nem nos lembramos de que estamos mais do que derrotados nos hábitos de educar, de ensinar, de trabalhar, de respeitar as Leis do país ou simplesmente de sermos cidadãos honrados e éticos.

Os seguidos escândalos na política levaram o atual governo a uma aceitação nunca antes sentida. E mesmo assim, quase sem representatividade, as pessoas e os cargos se mantêm no poder. Viramos motivo de gozação para a mídia e para os demais países.

A pergunta que não se cala é: como um povo aceita que pessoas envolvidas em denúncias se conservem em seus cargos durante as investigações?

Os cidadãos de menor renda se calaram aos atuais desmandos políticos, por causa da concessão de um auxílio chamado de Bolsa Família. Que hábito mais nocivo ao trabalhador. Na verdade não passa de uma moeda eleitoreira e não um benefício social. Pessoas deixam de ir trabalhar para ganhar um salário em troca de uma contrapartida em manter os filhos matriculados nas escolas. Ora, isto é uma “obrigação” de pai e mãe, não cabendo nenhuma compensação financeira, não é mesmo?

A mão de obra para serviços gerais passou a ser bastante escassa até o corrente ano, estando numa fase de transição, pela redução das concessões e também pelo crescente desemprego. Não podemos aceitar que homens e mulheres deixem de ir trabalhar somente por receberem um benefício social sem a contrapartida do esforço pessoal.

A Presidente do Brasil, numa declaração feita durante uma viagem ao exterior, afirmou que “não confiava na delação premiada”. Ora vejam, mais um péssimo hábito de desacreditar uma Lei nacional que ela mesma havia sancionado. Já somos conhecidos como “o País em que uma Lei pode ou não pegar”.

Onde iremos parar? A mídia esqueceu de comentar que a Lei de Responsabilidade Fiscal também foi desobedecida pela equipe do Governo Federal no ano de 2014 e, caso não fossem as insistentes ações de poucos setores da oposição e da imprensa, tal hábito poderia, e pode se transformar em mais um costume negativo.

As ações estão sob avaliação no Tribunal de Contas da União e esperamos que a Lei seja cumprida e que a justiça seja feita para podermos comemorar a Constituição Federal pela independência dos Poderes.

Os escândalos de corrupção parecem que não param. A cada semana ligamos as televisões para saber qual a denúncia da hora ou do dia. E o pior é que, mesmo para aqueles que já foram identificados como culpados, julgados e condenados, vemos os mesmos fora das prisões e com regalias que são inaceitáveis numa democracia. Afinal de contas, roubaram dinheiro público para benefício pessoal.

Finalizando comentamos que a pior crise vivenciada nos dias de hoje é uma crise de ética e moral. Merecemos sim voltar a sentir orgulho de sermos brasileiros e sabermos que as Leis existem para serem cumpridas por todos e todas, sem discriminação de nenhuma espécie.


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Eliéser Girão Monteiro Filho é General de Brigada.

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