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domingo, 5 de julho de 2015

E OS ADVERSÁRIOS DO CONSUMO, O QUE DIZEM?


A indústria automobilística registrou no primeiro semestre do ano uma queda de 20% em suas vendas e avalia que em fins de dezembro esse percentual chegue a 23%. Neste momento, 325 mil veículos estão estocados nos pátios das fábricas e 35,8 mil trabalhadores, ou 25% de todos os recursos humanos das montadoras, estão em férias coletivas, licença ou suspensão dos contratos de trabalho.

Enquanto, no primeiro trimestre do ano, o consumo das famílias caiu 1,5%, os indicadores da intenção de consumo sinalizam para uma trajetória de ainda menor e, portanto, para menores vendas. Segundo pesquisa da Fecomercio/SP, a intenção de consumo das famílias caiu 26,3% em 12 meses. No varejo paulista, o mais dinâmico do país, as vendas caíram 12% no mês de abril quando comparadas com o mesmo mês de 2014.

Na outra ponta do novelo em que o governo enredou a economia nacional, o desemprego, entre maio de 2014 e maio de 2015, subiu de 4,6% para 6,7% e o IBGE informa que o número de pessoas à procura de vaga chegou a 1,6 milhão, com crescimento de 39% em relação a igual período do ano passado. Dezesseis por cento são jovens.

Quando as coisas iam bem, o governo festejava como seus os números mensais do crescimento do emprego. Era como se cada vaga fosse aberta não pela ação empreendedora dos empresários, mas por decisões do governo. Sabe-se hoje, pela evidência dos fatos, que o governo petista foi um desastre marcado pela irresponsabilidade fiscal e pela decadência moral. Agora, quem desemprega são as empresas. Ah!

Além dos que vicejam à sombra do governo e a tudo aplaudem, há um grupo de pessoas, raramente mencionadas, que devem estar especialmente exultantes com os males da economia brasileira. Quem são? Você já as ouviu falando. Criticam a sociedade de consumo. Não se desgostam com as filas de Cuba e da Venezuela. Sonham com uma sociedade de demandas mínimas. Talvez seu modelo de vida pudesse ser representado pelas comunidades menonitas, mundialmente conhecidas como amish, que rejeitam os bens produzidos pela indústria e pela tecnologia. Os amish brasileiros, porém, são fake, vão às compras como todo mundo e certamente gostam de ganhar presentes. Mas condenam a sociedade de consumo, típica do capitalismo.

Seus motivos são ideológicos. Como resulta impossível comparar os bens sociais, tecnológicos, científicos, culturais e econômicos do capitalismo com os do socialismo e do comunismo, eles rejeitam o efeito para reprovar a causa. Esquecem-se de que empregados e desempregados, empreendedores de todos os níveis, e até os servidores públicos cujo pagamento depende dos impostos incidentes sobre a riqueza gerada no país, estão torcendo para que se retomem as condições necessárias ao crescimento da produção e da demanda. Ninguém quer viver como amish! Por que será que os países comunistas estão completamente fora dos fluxos migratórios de que hoje tanto se ocupam os governos do Ocidente?

Por uma questão de justiça, em tempos de crise, assim como os eleitores do PT deveriam pagar mais impostos para cobrir os estragos do governo que elegeram e reelegeram, os adversários do consumo alheio deveriam ser priorizados na hora do desemprego, não é mesmo?



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Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

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