A lama do Petrolão
chegou à linha de cintura de Dilma Rousseff depois do que disse o empreiteiro
Ricardo Pessoa. Alcançou a altura do pescoço presidencial depois do que o
neurônio solitário resolveu recitar em Nova York.
Quando não se sabe
o que fazer, melhor não fazer nada, repetia Dom João VI. Dilma faz declarações
destrambelhadas. E sempre consegue piorar o que está péssimo, confirmam três
momentos do falatório desastroso:
1. “Eu não respeito
delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me
transformar em uma delatora”.
A primeira frase
informa que Dilma resolveu esquecer que foi ela quem sancionou a Lei 12.850,
que estabeleceu em 2013 as regras atuais da colaboração premiada. Repita-se:
COLABORAÇÃO: a palavra “delação”, que não aparece uma única vez no texto, foi
uma esperteza pejorativa criada por jornalistas sem compromisso com a verdade.
A mesma frase revela que Dilma — a exemplo de Marcola, chefão do PCC — só
respeita criminosos que escondem as bandidagens que cometeram e a identidade
dos mandantes ou comparsas. Gente como João Vaccari Neto e Renato Duque, por
exemplo.
A segunda frase
sugere que Dilma não enxerga diferenças entre o governo que preside e o
chefiado pelo general Emílio Médici nos anos 70. A terceira insinua que os quadrilheiros presos em Curitiba têm
sido submetidos a selvagens sessões de tortura. Os carrascos são os homens da
lei que participam da Operação Lava Jato.
2. “Eu não aceito e
jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer
irregularidade. Primeiro porque não houve. Segundo, se insinuam, alguns têm
interesses políticos.”
A primeira e a segunda
frases, conjugadas, informam que a declarante não lembra que transformou a
larápia Erenice Guerra em melhor amiga, braço direito e depois sucessora na
chefia da Casa Civil; que nem sequer ouviu falar do dossiê forjado para
caluniar Fernando Henrique e Ruth Cardoso; que nunca participou de reuniões do
Conselho Administrativo da Petrobras por ela presidido anos a fio; que não sabe
quem é Lina Vieira; que ignora a existência de qualquer tramoia concebida para
revogar calotes fiscais da Famiglia Sarney; que nada fez para que o ministério
se assemelhasse a um viveiro de corruptos; que conhece só de vista o amigo de
infância Fernando Pimentel; que mete o nariz em tudo, mas é portadora de uma
disfunção olfativa que a impede de sentir cheiro de corrupção.
3. “Há um
personagem que a gente não gosta, porque as professoras nos ensinam a não
gostar dele. E ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator”.
Combinadas, as duas
frases informam que, na cabeça da Doutora em Nada, o Petrolão é a Inconfidência
Mineira do Brasil moderno, com Ricardo Pessoa no papel de Joaquim Silvério dos
Reis. Lula, claro, é Tiradentes. A declarante é a Marília de Dirceu. José Dirceu
é o Dirceu de Marília. E por aí vai. Os verdugos a serviço da Coroa portuguesa
são o juiz Sérgio Moro, os procuradores federais, os policiais federais
engajados na Operação Lava Jato, a elite golpista, a imprensa reacionária e,
claro, FHC.
Nesta segunda-feira,
aparentemente, Dilma tentou lançar-se candidata ao posto de Madre Teresa do Planalto. Acabou
transformando em certeza a suspeita encampada por 10 em 10 habitantes do país
que pensa: na mais branda das hipóteses, a presidente da República agiu anos a
fio como cúmplice e coiteira da quadrilha que consumou a maior ladroagem
ocorrida desde o Dia da Criação.
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