Por Percival Puggina
Solidariedade é um
estado de espírito que nos envolve com aflições alheias. Não é apenas
condolência, mas algo “sólido”, que nos leva a ajudar concretamente os demais.
A palavra é muito cara ao cristianismo, cuja doutrina a define como expressão
social da caridade, amor ao próximo em dimensão comunitária.
Tenho ouvido falar em
“solidariedade a Cuba”. Que significa isso, quando se manifesta em partidos
políticos e atos de apoio ao regime? Solidariedade só pode existir em relação a
pessoas ou grupos que sofrem, como é o caso do povo daquele país. A ligação
sentimental de alguém ou de algum governo com a tirania que escraviza a ilha há
56 anos tem outro nome e é bem feio. Define, aliás, o que vem fazendo a
esquerda mundial, desde o dia 2 de dezembro de 1961, quando Fidel descantou o
verso da revolução e proclamou: “Soy marxista-leninista!”.
A partir de então nunca lhe faltou “solidariedade” para
fuzilar milhares de seus conterrâneos, encarcerar dezenas de milhares de
pessoas apenas por divergirem do governo, manter a população refém, sem
liberdade de opinião, sem espaço para oposição, sem judiciário independente.
Convalidar isso é solidariedade? O regime cubano manda prender por qualquer
motivo, sentencia a longas penas e, de modo medieval, persegue as famílias dos
que dele dissentem. Descaradamente, concede aos estrangeiros direitos e
liberdades que veda a seus próprios cidadãos! Durante décadas, foi “solidário”
com os soviéticos, a ponto de enviar milhares de jovens para morrer em
revoluções comunistas. Sim, leitor, Fidel, o falso paladino da autonomia, muito
se intrometeu em revoluções mundo afora, conforme exigisse a geopolítica da
URSS.
Solidariedade que mereça a dignidade do termo deve convergir
para os que sofrem a repressão porque não se calam. E para os que não sofrem a
repressão porque se calam. Uns e outros, merecem a solidariedade que não
alcança as masmorras de um regime que perdeu o senso moral.
A mesma insólita afeição, aliás, é tributada à ditadura
comunista bolivariana e não revela qualquer consideração pelas dificuldades que
os venezuelanos enfrentam. O compadecimento das pessoas de bem deve convergir
para esse povo, em suas crescentes carências e perda de direitos. Nunca para o
fanfarrão Chávez e seu ainda mais ridículo herdeiro. Solidariedade foi o que
faltou às senhoras Mitzy Capriles e Lilian Tintori, cujos maridos foram presos
por Maduro. Ambas vieram buscar ajuda da presidente Dilma, mas foram recebidas
pelo sub do sub, a quem transmitiram apelo que entrou por um ouvido e saiu pelo
outro.
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