Por Percival Puggina
"Ao bradarmos "BRASIL, PÁTRIA
EDUCADORA" estamos dizendo que a educação será a prioridade das
prioridades, mas também que devemos buscar, em todas as ações do governo, um
sentido formador, uma prática cidadã, um compromisso de ética e um sentimento
republicano". (Presidente Dilma, discurso de posse, 01/01/2015)
Como é inconsistente e distante da realidade o
compromisso do governo de Sua Excelência com a ética! E vale o mesmo para o
"sentimento republicano" e para a tal "prática cidadã",
seja lá isso o que for. Treze anos de governo petista só serviram para
desnortear moralmente a sociedade e semear descrédito nas instituições mediante
exemplos, palavras e atos. O governo mente, faz o que não deve, não faz o que
deve, cerca-se de péssimas companhias, ele mesmo é muito má companhia,
corrompe, se deixa corromper e acusa os demais daquilo que faz. Na inepta frase
presidencial, contudo, há outro aspecto e é nele que quero me deter.
A presidente disse que a educação será a prioridade
das prioridades e que para essa tarefa convergirão as ações do governo.
Aparentemente, ninguém a advertiu para o fato de que a sociedade não pediu ao
Estado para ser por ele "educada". O que a sociedade espera do
sistema público de ensino é que cumpra, dentro das salas de aula, nas escolas,
o papel de transmitir à juventude brasileira ensinamentos úteis à vida na
sociedade contemporânea e à realização das potencialidades de cada indivíduo.
Para variar, é tudo ao contrário do que a presidente e seu partido fazem. Por
isso seguimos dilapidando preciosos recursos humanos e perdendo tempo na
imprópria tarefa de "construir sujeitos" e de preparar "agentes
de transformação social"! Chega de construtivismo, de Paulo Freire e de
Emilia Ferreiro (até os argentinos já perceberam o estrago que o método da
conterrânea causou à alfabetização no seu país). "Chega de Piaget e de
Vygotski!", me assopra num antigo texto o sociólogo e jornalista José
Maria e Silva.
Eu sei que o parágrafo acima escandalizará setores do
meio acadêmico brasileiro, especialmente nos cursos voltados à formação de
professores. Eu sei. Ali, multidão de mestres e doutores ensina os futuros
professores dos nossos jovens que a transmissão de conhecimentos, de conteúdos,
será apenas parte, e parte pouco relevante, de seus quefazeres profissionais.
Por isso, em nosso país, não se ensina História, mas leituras ideologicamente
convenientes de fatos históricos. Não se ensina geografia, mas geografia
política em conformidade com a sociologia e com a política que convém ao uso
revolucionário da rede escolar. Pouco e mal se ensina língua portuguesa porque
o uso correto do idioma é instrumento de dominação e desrespeito à cultura do
"sujeito educando". E não se ensina matemática, talvez por ser
conteúdo exigente, que dispersa energias revolucionárias.
Aferir resultados é uma imposição da razão a toda
atividade humana. Não haveria de ser diferente no sistema de ensino. E o que
esse sistema proporciona ao Brasil é tão ruim que chega ao absurdo de repelir o
mérito e de manter um compromisso com a mediocridade, da base ao topo do
sistema. Enquanto na minha infância, no piso da pirâmide, as crianças eram
alfabetizadas em poucos meses, passadas seis décadas, esse objetivo não é
alcançado por muitos sequer em três anos. Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro
e da ONG Ação Educativa revelou, em 2012, que 38% dos estudantes universitários
não dominavam "habilidades básicas de leitura e escrita",
qualificando-se como analfabetos funcionais. No topo da pirâmide, na produção
acadêmica, o Brasil responde por apenas 1% da obra científica mundial de maior
qualidade, segundo a revista Nature. O Chile, com 8% da população brasileira,
produz mais artigos científicos do que o Brasil. No entanto, enquanto nós
gastamos nisso US$ 30 bi, o Chile gastou US$ 2 bi. A ineficiência no uso dos
recursos, entre 53 países analisados, nos coloca em 50º lugar.
Não vejo como se possa mudar essa realidade quando ela
decorre do projeto político, ideológico e pedagógico há muito em curso no
Brasil. Esse projeto, anterior ao PT, levou-o ao poder. Por isso, em relação ao
Plano Nacional de Educação, o próprio Lula reconheceu (leia aqui)
que ele é "a chance de começar uma revolução no país". A presidente
sabe disso tão bem quanto eu e você.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário