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terça-feira, 19 de maio de 2015

O tempo da colheita...

Por Robson Merola de Campos

Tem sido recorrente nos últimos meses os pedidos populares de intervenção militar no Brasil. Basta entrar-se nas redes sociais para se confirmar isso. Nas manifestações de 15/03 e 12/04 foram vistas centenas de faixas e cartazes nas ruas exigindo a “volta” dos militares. Entre as pessoas que pedem a intervenção militar estão homens, mulheres, jovens, idosos, professores, bancários, empresários, profissionais liberais, donas de casa, chefes de família, funcionários das mais diversas categorias e matizes, ricos, pobres, moradores de todas as regiões do Brasil, brancos, negros, pardos, descendentes de europeus, latinos e africanos, enfim, uma miscelânea de pessoas que só poderia ser possível mesmo no Brasil. Curiosamente, apenas uma categoria de brasileiros tem se mantido alheio a tal debate: os próprios militares, especialmente aqueles em serviço ativo. Pelo menos publicamente. Nas casernas, entretanto, o assunto fervilha, como, aliás, no restante do Brasil.

A pergunta que deve ser feita, e sobre a qual devemos refletir é: por que uma parcela significativa da população tem exigido a chamada “intervenção constitucional militar”?

Seria em virtude do fato de que os militares têm hoje no Brasil o maior arsenal bélico? Isso, mesmo se considerarmos o arsenal nas mãos do crime (des)organizado. Sabe-se que o cidadão de bem, para possuir legalmente uma arma em casa, para sua proteção e para proteção de sua família tem que se submeter-se a um calvário longo e sob diversos aspectos até mesmo humilhante. Seria então por isso? Os militares serem o braço armado da população? Nesse caso, se considerarmos apenas a questão das armas à disposição, seria lícito imaginar-se que os cidadãos poderiam também estar clamando pela intervenção das nossas polícias, militar, civil, federal, rodoviária etc. Como tal clamor não existe, podemos então concluir que o fator “poder de fogo” não é, de per si, o motivo do chamamento popular.

Vejamos outro motivo: o Brasil vive e viveu nos últimos doze anos um período em que o ciclo de governantes tem paulatinamente se dedicado a implantar aqui uma cultura voltada à instalação de um socialismo pan-americano que quer, em verdade, tentar salvar conceitos e ideologias há muito ultrapassadas e sepultadas pela história. Como os militares em 1964 impediram que os comunistas dessem um golpe de esquerda no Brasil seria natural voltar-se a eles para pedir que façam o mesmo. Ocorre que o regime atual teve início há mais de doze anos. Seria então de se supor que tal clamor deveria ter começado lá atrás, e não somente agora. Afinal de contas, o Foro de São Paulo foi criado no início dos anos 1990. E antes mesmo da primeira eleição presidencial vencida pelo PT ele já era de conhecimento público. Infelizmente, e isso perdura até hoje, não o é do grande público. A mídia televisiva insiste em ignorar o tema. E aqui abro um parêntese:

(Imagine um programa como o “Fantástico” ou “Globo Repórter” da Rede Globo, ou o “Domingo Espetacular” da Rede Record, ou um “Conexão Repórter” do SBT sobre o tema. No dia seguinte, outros milhões de brasileiros acordariam do torpor em que nos encontramos e passariam a olhar com outros olhos o governo que aí está, entendendo as suas reais finalidades).

Fecho o parêntese. É de se supor, portanto, que esse talvez também não seja o motivo determinante.

Seria então, o motivo do clamor pela volta dos militares os equívocos econômicos da última administração da presidente Dilma Rousseff? Com seu estilo de gerente tomou para si as rédeas da economia e deu no que deu: naufragou e levou junto, para o abismo submarino, o Brasil. Ora, o último governo militar, do Presidente João Batista Figueiredo enfrentou grande turbulência na economia. A crise mundial de 1979 cobrou seu preço aqui no Brasil também, e começamos a conviver com uma inflação galopante, que, nos governos civis seguintes, é bom que se frise, chegou ao patamar de inacreditáveis 1800% ao ano. Entretanto, justiça seja feita, no Governo do Presidente Emílio Garrastazu Médici, a inflação era pequena e em contra partida o crescimento espantoso do Brasil (mais de 10% ao ano) passou a ser chamado de Milagre Brasileiro. Antes que a discussão se instale, esclareço: não creio que sejam os indicadores econômicos a sustentar o clamor pelo retorno dos militares.

Busquemos outros motivos: seria a segurança pública do Brasil daqueles dias? Quando você podia sair nas ruas tranquilamente à noite sem correr o risco de ser assaltado? Ou o fato dos brasileiros daquele tempo terem mais amor à Pátria, quando os desfiles de Sete de Setembro eram motivo de orgulho para aqueles que participavam? Será que se clama pelo retorno dos militares devido à censura daqueles anos? Sim senhor, amigo leitor, censura, pois naquela época não se via tanta obscenidade nas novelas, nem em propagandas... Nessa mesma linha de raciocínio podemos também citar o fato de que naquela época havia respeito quase místico à figura da autoridade, tanto a paterna e familiar, quanto de professores, chefes etc. Era impensável um aluno responder um professor. Dar-lhe um soco ou quebrar-lhe o nariz era inimaginável... E ainda, porque naqueles dias, bandido ia para a cadeia e lá permanecia, sem as tantas benesses hoje existentes...?

Se formos aqui continuarmos a elaborar os motivos – e as comparações – pelos quais uma parcela significativa da população quer o retorno dos militares faríamos uma lista sem fim. E tal lista acabaria por cometer injustiças. Tanto a favor como contra tais argumentos.

Mas em verdade, na minha íntima convicção, creio que existe um denominador em comum entre todos aqueles que querem a chamada “intervenção constitucional militar”. É que o brasileiro dos dias atuais se cansou de ver a forma como o Brasil, e ele mesmo, cidadão, está sendo tratado. Cansou-se do descaso e da mentira. Cansou-se da corrupção e de ver que quem ocupa o Planalto pensa que ele é bobo. Cansou-se do desmando e do marketing eleitoral. Cansou-se dos crimes de lesa pátria. Cansou-se de perceber que o seu grito, perante as instituições, está ecoando no vazio. Exemplifico com um único argumento: a alta cúpula dos senadores do PSDB preferiu participar de uma festa em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Nova Iorque do que ralar durante mais de oito horas em uma comissão do Senado que sabatinou Luiz Edson Fachin. Nem vou aqui discutir o mérito de FHC receber tal homenagem. Mas, vou lembrar que um comandante não deixa o campo de uma batalha importante para confraternizar em um país estrangeiro. Primeiro o trabalho, ou a obrigação; depois o lazer.

Cansado de tanta coisa errada o brasileiro se volta naturalmente para a instituição que é um baluarte de confiança: as Forças Armadas, sabendo que ali encontrará um porto seguro. Nem um único dos Presidentes militares enriqueceu na função, antes, ou depois dela. Todos são exemplos de probidade. As Forças Armadas, e seus integrantes, tem sido alvo de uma constante, cruel, aniquiladora campanha difamatória nos últimos anos. Por muito menos do que isso já vi homicídios acontecerem. E como reagem seus integrantes? Calados, como manda a hierarquia e a disciplina dos bons soldados profissionais. Alguns, após deixarem o serviço ativo, passam a expressar a sua opinião. E quando surgem as críticas, elas nem sequer de longe se assemelham ao caudal de insultos que recebem. E justamente por isso, tem sido agora alvo de impropérios também por parte dos chamados “intervencionistas” que não entendem porque os militares não atendem ao seu apelo e põem logo para correr quem está surrupiando as riquezas da nação.

Fato é que quando a população pede a intervenção militar o faz porque compara em termos éticos e morais o que foram os governos dos cinco presidentes militares e o que é o atual ciclo de governo petista. Veem o óbvio: naquela época, quem governava o Brasil se importava com o país. Preocupava-se com o nosso futuro. Houve falhas? Claro que sim. Seres humanos acertam e erram. Faz parte da nossa natureza. Mas, além dos erros estava o sincero desejo de acertar pelo bem comum. E um amor sincero e imorredouro pelo Brasil. Nossa Pátria. Não, a “pátria grande” pregada por quem hoje ocupa transitoriamente os corredores do Planalto. Hoje, o único desejo dos atuais governantes é o de se perpetuar no poder. Aparelhar o Estado. E ao contrário de Robin Hood, tiram dos pobres e servem aos ricos, eles mesmos (vide o ajuste fiscal sendo aprovado no Congresso através da mercantilização de cargos no governo). Para isso, fazem acordos espúrios, negociam mamatas, inventam esquemas, reinventam a corrupção.

Quem hoje ocupa o poder e mesmo uma parcela da população está se esquecendo de um detalhe ao não entender o aparente alheamento dos integrantes das Forças Armadas: o militar profissional é antes de tudo um cidadão brasileiro. E como cidadão acompanha par e passo o que ocorre no seu país. Sente-se constrangido quando vê um ex-presidente (que já foi seu comandante em chefe) ameaçar a população com uma guerra civil com um exército formado por milicianos. Entristece-se quando percebe que sua nobre profissão de defender a pátria lhe reduziu a um papel de polícia, mas, ciente de seu dever, obedece e vai apaziguar com sua autoridade o morro de onde o marginal expulsou a polícia. O militar, da ativa e da reserva – remunerada ou não – está ciente de seu dever e de seu solene juramento, de oferecer o supremo sacrifício da própria vida. Reza contrito pela paz, pois sabe das agruras da guerra. E sabe porque atualmente está em Angola, Haiti, Costa do Marfim, Libéria, Colômbia, Saara Ocidental, Congo, Sudão do Sul, Sudão, Líbano e Chipre com mais de 1700 soldados e oficiais das três Forças – Exército, Marinha e Aeronáutica. E mais de 27 mil homens já participaram de 30 missões de paz da ONU no exterior em locais conturbados por guerras e catástrofes. O militar ouve o clamor popular. Mas, percebe, que sua hora ainda não chegou. Ainda não se esgotaram todas as alternativas democráticas. Mas, vigilante e consciente de sua missão, aguarda o comando. E, no momento certo, saberá seguir o exemplo de três anônimos heróis brasileiros, os soldados Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Rodrigues e Geraldo Baeta, que durante uma das mais sangrentas batalhas que a Força Expedicionária Brasileira participou na sua vitoriosa campanha na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo isolados e sem contato com sua tropa, não se entregaram, atentos ao juramento de sangue que um dia fizeram e demonstram tamanha coragem no campo de batalha que foram homenageados pelo próprio inimigo alemão, que parou de guerrear por alguns momentos e enterrou os três soldados brasileiros, escrevendo sobre a tosca cruz de madeira a inscrição: “DREI BRASILIANISCHE HELDEN” (TRÊS HERÓIS BRASILEIROS).

Os heróis são assim mesmo: pessoas comuns, muitas vezes anônimos, mas quando chamados ao dever, no tempo certo, transformam-se e lutam ferozmente para defender aquilo em que acreditam.

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar”. Eclesiastes 3:1-3





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Robson Merola de Campos é advogado.

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