Por Percival Puggina
Seria muita ingenuidade supor que, subitamente, agora e só
agora, durante os 13 anos de governos petistas, os comunistas se
desinteressassem por infiltração nas Forças Armadas. Elas sempre estiveram
entre suas prioridades ao longo de nossa história republicana. Por outro lado,
no mundo inteiro, a infiltração e o controle do sistema educacional é meta
necessária da estratégia de dominação comunista. Nas últimas semanas, motivado
pelas iniciativas da organização Escola sem Partido, escrevi vários artigos e
gravei comentários mostrando como essa dominação está em pleno curso e que a
meta já foi alcançada do topo à base do sistema de ensino público e privado no
Brasil. Há exceções? Claro. Só não há exceções em Cuba, China, Laos, Vietnã e
Coréia do Norte.
É fato de conhecimento geral que História é a disciplina
preferida dos corruptores de mentes juvenis. Tenho recolhido, ao longo dos
anos, inúmeros relatos de alunos que, suficientemente esclarecidos, se
contrapõem às interpretações e relatos históricos de seus professores e acabam
sofrendo verdadeiro bullying por parte destes e de colegas. A preferência
ideológica se manifesta tanto em quem fala de pé quanto em quem ouve sentado. O
fenômeno, nos cursos de História, faz-se especialmente surpreendente porque
nada é mais demolidor para a propaganda comunista que a narrativa histórica.
Por isso, os comunistas precisam tanto de poesia para encantar no presente e de
versões para retificar o passado.
Recebi, outro dia carta de uma senhora cuja filha estuda no
Colégio Militar do Rio de Janeiro. Publiquei no meu site sua mensagem e, em
dois dias, o carta teve mais de 20 mil acessos, seguidos, no Facebook, de
longas listas de discussões. E calorosos desmentidos que, inclusive, estariam
disponíveis no site do CMRJ. Não os encontrei.
Eis a carta que recebi da referida senhora:
"Olá Percival,
Queria lhe comunicar algo, ou mesmo pedir ajuda pois sei que muitos o escutam.
Bom, minha filha estuda no CMRJ que hoje inclusive faz aniversário - o famoso 6
de Maio do Colégio Militar - e até Jacques Wagner, o Ministro da Defesa, veio
para festa. No entanto o exército enfrenta uma verdadeira guerra silenciosa
contra suas escolas, e os CMs são os primeiros a sentir seus efeitos. Há anos,
os colégios adotam livro de História e Geografia escritos por historiadores
militares e publicados pela BibliEx. Os livros eram ótimos e atendiam
perfeitamente a crença da grande maioria dos famílias cujos filhos frequentam o
Colégio Militar.
Pois bem, uma professora concursada e com forte tendência marxista veio a
público em 2014 reclamar sobre o termo contra-revolução de 64 ao invés de golpe
militar usado nos livros adotados até então nos CMs. O governo, que já vinha
pressionando, aproveita a oportunidade, faz uso da força que tem e impõe aos
colégios a adoção de material bem diferente para 2015. O fato é que minha filha
está sendo educada no Colégio Militar, desde fevereiro do corrente ano, a
acreditar que o capitalismo é a mal do mundo e o socialismo só caiu por força
da pressão americana. Esse é o conteúdo do livro de geografia, mas já o de
história é muito pior, é nauseante! O autor consegue a proeza de transformar
todo e qualquer conteúdo em luta de classes.
Estou muito triste e não sei o que fazer. Já passei
mensagens para vários amigos cujos filhos estudam lá pedindo que na sexta dia
8/5, reunião de pais e mestres, discutam com os professores, avisem aos mesmos
que não aceitaremos gramscismo na sala de aula de nossos filhos. Sei que muitos
profissionais não compactuam com essas ideias; há alguns professores que
inclusive não estão usando o material imposto pelo governo. Mas infelizmente há
profissionais que abraçam o marxismo e que devem estar usando e abusando dos
livros esquerdistas impostos a todos nós, alunos e seus familiares. Esses
professores marxistas são nada mais nada menos que capitalistas vulgares que se
vendem ao contra-cheque e permanecem atuando em uma instituição centenária a
qual repudiam. São hipócritas vendidos. O que fazer? Será que o Exército está
perdendo essa guerra? Estou muito preocupada. Claro que gostaria muito que você
escrevesse sobre isso alertando a todos. Posso lhe mandar o nome dos livros
adotados. Mas preferia que não mencionasse meu nome. Tenho receio que minha
filha fique estigmatizada no colégio. Muito obrigada."
Imaginar desinteresse comunista em relação à formação dos
nossos militares seria puerilidade. A propósito, recebi do valoroso Jorge B.
Ribeiro este depoimento:
"A tentativa de introduzir ideias marxistas
nos colégios militares, por intermédio de professores daquele tradicional
educandário, é coisa da antiga. O Coronel Nelson Werneck Sodré, aluno do
Colégio Militar do Rio de Janeiro nos anos 1920 e cadete de Realengo nos anos
1930, num dos seus escritos relata que sua introdução ao marxismo se deu
através de um professor de História do Colégio Militar, o Coronel Isnard Dantas
Barreto, que criticava com veemência o ensino do colégio, por ele considerado
medíocre. Ensinava que o papel de um professor de História era ser
revolucionário.
Entrei para o Colégio Militar em 1948 com 12 anos de
idade. Ainda no curso ginasial (hoje Fundamental) tive dois professores, muito
competentes no ensino de suas matérias, porém ligados ao Partido Comunista
Brasileiro (PCB). Entremeavam suas aulas com proselitismo ideológico marxista,
o que vim a descobrir muitos anos depois, quando encontrei seus nomes nas
páginas do minucioso INQUÉRITO POLICIAL MILITAR 709 (4 volumes), onde foram
examinadas as atividades dos comunistas que resultaram na reação da NAÇÃO
BRASILEIRA QUE SALVOU A SI MESMA e que foi para as ruas saudar as Forças
Armadas que protagonizaram o Movimento Cívico Patriótico de 1964.
Posteriormente esta honesta peça histórica foi editada pela Biblioteca do
Exército (BIBLIEX) e distribuída para todas unidades militares do País. Muitos
dos assinantes da BIBLIEX adquiriram a obra.
Em artigo, publicado em 1997, no extinto jornal
alternativo, OMBRO A OMBRO, denunciei a aflição das famílias de militares que
tinham filhos no Colégio Militar de Brasília. Em anexo, segue o inteiro teor
desse meu escrito.
Nesta oportunidade, não me custa lembrar um triste
episódio que bem caracteriza a perenidade do intento de fazer cabeças
comunistas nas escolas de formação das Forças Armadas. Quando ministro da
Defesa, Nelson Jobim que conheço desde sua militância política esquerdista, no
Diretório Estudantil da Faculdade de Direito da cidade de Santa Maria da Boca
do Monte/RGS, envidou seus melhores esforços para modificar o ensino de
História Militar na Academia Militar das Agulhas Negras. Felizmente, não foi
bem sucedido nessa empreitada. No seu pronunciamento na Academia Militar das
Agulhas Negras, em dezembro de 2010, durante a formatura da “Turma General
Emílio Garrastazu Médici”, ao criticar indiretamente o patrono da turma –
elogiado antes pelo comandante do Exército pela “honradez, dignidade e
patriotismo” - foi bem claro: o Exército “deve esquecer o passado”. E desde o
governo FHC, e mesmo antes com menor intensidade, várias investidas foram
realizadas para modificar o currículo da AMAN, de forma que o passado fosse
esquecido." Jorge B. Ribeiro
Finalizando. A carta-denúncia da senhora mãe de uma aluna do
CMRJ recebeu desmentidos e eu não tenho como averiguar a veracidade do relato
que me foi feito. Retirei o texto original, em forma de denúncia e o converto
neste artigo, em modo de pergunta. Há enorme interesse por parte da opinião
pública. Que se manifestem os que tiverem informações. Essa extraordinária
e histórica instituição merece nosso zelo e respeito.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista
de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra
o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do
grupo Pensar.
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