Marta Suplicy e Fernando Haddad: adversários no ano que
vem
(Fernando Cavalcanti/VEJA)
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Saída de Marta Suplicy evidencia momento amargo do partido.
Eleições do ano que vem tendem a resultar no primeiro recuo da legenda desde
2000
Há quinze anos o PT elegia Marta Suplicy prefeita da capital
paulista - maior triunfo do partido nas eleições municipais de 2000. A sigla
ainda saía do pleito com 70% mais prefeituras do que conseguiu em 1996. Em todo
país, foram quase 15% dos votos totais, com destaque para o ganho de terreno da
sigla no interior. Depois do PPS, foi a legenda que mais cresceu na ocasião.
Oito eleições depois, o pleito do ano que vem tende a resultar no primeiro
recuo do PT desde 2000. Ironicamente, a mesma Marta Suplicy que representou o
avanço da legenda em 2000 é um dos símbolos do momento amargo que o partido
hoje vive.
A senadora, que foi ministra de Dilma Rousseff até novembro,
anunciou na última semana sua desfiliação do PT. Antes disso, Marta passou a
atacar o partido sistematicamente, em um gesto que pode soar oportunista, mas é
revelador do novo momento político do país: ser petista frequentemente traz
mais ônus do que vantagens. Para além de fatores circunstanciais, está claro
que o partido vive um momento de declínio que dificilmente deixará de
influenciar o pleito de 2016.
As eleições de 2014 já mostraram uma inflexão natural,
porque cíclica, no eleitorado. Não fossem as rasteiras aplicadas contra
adversários na campanha do ano passado, é muito provável que Dilma Rousseff
tivesse perdido as eleições.
Embora ainda não tenha confirmado, Marta deve integrar-se
aos quadros do PSB, que já assegura o espaço para que a ex-petista dispute a
prefeitura de São Paulo. "Ela vai ser ter uma candidatura ampla",
assegura Carlos Siqueira, presidente do PSB. A sigla é a principal candidata a
herdar os votos do eleitorado típico do PT. Mesmo hoje, os socialistas já
governam três dos maiores municípios brasileiros. O PT, apenas um.
O caso de São Paulo é novamente um bom exemplo do novo
cenário: Fernando Haddad tem índices baixos de popularidade e concorrerá em uma
eleição disputada: Marta é popular justamente na periferia, onde o eleitorado é
tradicionalmente petista. Celso Russomanno, que ficou perto de chegar ao
segundo turno na última disputa, deve voltar a concorrer. O candidato tucano,
seja qual for, terá a seu favor uma máquina partidária bem estruturada e cabos
eleitorais de peso.
Já no Rio de Janeiro, PMDB e PT dificilmente repetirão a
parceria das últimas eleições. O primeiro deve lançar o deputado federal Pedro
Paulo ou líder do PMDB na Câmara, Jorge Picciani. O segundo cogita concorrer
com o deputado federal Alessandro Molon. Em Belo Horizonte, o PT também
enfrenta uma forte resistência. Apesar de ter vencido a disputa para o governo
do Estado em 2014, o partido foi derrotado por uma margem expressiva na capital
mineira. Aécio Neves teve lá quase dois terços dos votos válidos contra Dilma
Rousseff.
Com processos correndo na Justiça e investigações contra
políticos no Supremo Tribunal Federal, é pouco provável que, até outubro de
2016, o escândalo do petrolão desapareça do noticiário. "O caso da
Petrobras pode comprometer a imagem do PT ainda mais", avalia o cientista
político Rui Tavares Maluf.
As incertezas para o PT aumentam porque é possível que a
disputa de 2016 já se dê sob um novo sistema eleitoral, atualmente em gestação
no Congresso. Dificilmente será o modelo defendido pelo partido, o do voto em
lista.
Além disso, outras forças políticas têm se aglutinado. PSB e
PPS estão em processo de fusão, o que deve resultar na quarta maior bancada do
Congresso - e mais perto da oposição do que do governo. PTB e DEM também
negociam unir-se, o que pode resultar em outra grande sigla independente e fora
da órbita do PT.
A maior parte das siglas que deu sustentação ao PT nos
últimos anos tem pouca identidade programática com o partido da presidente. A
aliança de ocasião tende a se desfazer conforme a aprovação da presidente e de
seus correligionários decresce. PMDB, PP, PR e PSD são exemplos de legendas que
tendem a caminhar para onde sopra o vento da política. "Há uma tendência
de fragilização da aliança entre o PT e esses partidos que têm mais dificuldade
em ter candidaturas próprias", avalia o cientista político.
A oscilação cíclica das preferências do eleitorado, o senso
de oportunidade de antigos aliados, o fortalecimento da oposição dentro e fora
do Congresso e, sobretudo, os sucessivos erros do Partido dos Trabalhadores
devem trazer surpresas nas eleições de 2016. Só não está claro ainda quem será
o maior beneficiário delas.
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