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quinta-feira, 5 de março de 2015

Levy ameaça se demitir, Dilma corre e envia projeto de lei com parte do conteúdo da MP devolvida

Por Reinaldo Azevedo – VEJA

Nunca, mas nunca mesmo!, incluindo o governo Collor, se viu tamanha incompetência na coordenação política do governo. Acreditem ou não, o Palácio do Planalto foi surpreendido com a decisão de Renan Calheiros de devolver a MP da reoneração da folha de pagamentos, embora ele próprio já tivesse dito há alguns dias que a parceria com o PT era capenga e já houvesse faltado, na segunda, a um jantar oferecido por Dilma a peemedebistas. O clima de barata-voa se instalou, e chegou à presidente o recado de Joaquim Levy: sem o ajuste fiscal, ele está fora do cargo. Vocês entenderam direito: na prática, o ministro da Fazenda se demitiu.

Dilma, então, imediatamente enviou um projeto de lei, com pedido de urgência, repetindo parte do conteúdo da MP, concentrando-se apenas no que chamo de reoneração. Vai passar pelo Congresso? O mar não anda para peixe. Como justificar a oneração da folha com desemprego crescente e com uma recessão que já não é mais uma possibilidade, mas um fato? Eis o busílis. Será que os senhores parlamentares estão dispostos a assumir esse ônus?

O governo faz um voo cego. Por incrível que pareça, no jantar do dia 23, no Palácio do Jaburu, da equipe econômica com líderes peemedebistas, o vice-presidente da República e sete ministros do partido, ninguém tocou no assunto. O petista Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, estava presente. Cabe a pergunta: que diabo de coordenação política é essa?

Eis o ponto: não existe! Um país com crescimento de 5%, inflação de 2,5%, os juros de 4% e Petrobras como exemplo de eficiência não poderia ter no comando político o seguinte Quarteto Fantástico: Mercadante, Pepe Vargas, Jaques Wagner e Miguel Rossetto. Dilma brinca com o perigo. Até eu acho que se encontra coisa melhor no próprio petismo.

Mas a presidente não tem uma virtude que, admito, Lula tem: ele costuma se cercar de pessoas mais capazes do que ele próprio. Podemos não gostar, mas isso é fato. Dilma, ao contrário, faz questão de exercer também a liderança intelectual. E, nesse caso, amigos, a coisa pode ser mesmo explosiva.


O governo não via a hora de Janot entregar a sua lista. Contava com ela para amenizar o peso sobre os ombros da presidente. Em vez disso, ela está com uma crise nova nas mãos.

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