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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As mentiras 'verdadeiras'

Por Ives Gandra da Silva Martins
O Estado de S.Paulo - 19 de abril de 2014

"Comparados ao carniceiro profissional do Caribe, os militares brasileiros parecem escoteiros destreinados apartando um conflito de subúrbio" In O Homem Mais Lúcido do Brasil - as melhores frases de Roberto Campos, p. 53, organização Aristóteles Drummond (Ed. Resistência Cultural, 2014)

Na memória dos 50 anos do Movimento de 1964, que derrubou o governo Jango, tem sido ele criticado pelos que fizeram guerrilha, muitos deles treinados na sangrenta ditadura de Cuba e que objetivavam implantar um regime semelhante no Brasil, ao mesmo tempo que se vangloriam como sendo os únicos e verdadeiros democratas nacionais. Assim é que a própria Comissão da Verdade se negou a examinar os crimes dos que pegaram em armas - muitos deles terroristas, autores de atentados a shoppings e de homicídio de inocentes cidadãos -, procurando centrar-se exclusivamente nos praticados pelo governo militar, principalmente nas prisões onde houve tortura.

Com a autoridade de quem teve um pedido de confisco de seus bens e abertura de um inquérito policial militar (IPM), nos termos do Ato Institucional n.º 5, em 13/2/1969, pertenceu à época à Anistia Internacional, combatendo a tortura perpetrada pelo governo, foi conselheiro da OAB-SP, opondo-se ao regime, e presidiu o Instituto dos Advogados de São Paulo na redemocratização, quero enumerar algumas "mentiras verdadeiras" dos adeptos de Fidel Castro recém-convertidos à democracia.

A primeira é a de que foram os militares que quiseram a derrubada do governo. Na verdade, foi o povo que saiu às ruas, com o apoio da esmagadora maioria dos jornais, como se pode ver pelas fotografias do dia 19 de março de 1964 na Praça da Sé, diante das sinalizações do governo de que pretendia instalar o comunismo no Brasil. Depois do fatídico 13 de março, em que Jango incitou os sargentos a se rebelarem contra a hierarquia militar, até mesmo nomeando um oficial-general de três estrelas para comandar uma das Armas, os militares apenas atenderam ao clamor popular para derrubá-lo.

A segunda mentira é a de que a repressão militar levou à morte de milhares de opositores. Entre combatentes da guerrilha, mortes nas prisões ou desaparecimentos, foram 429 os opositores que perderam a vida, conforme Fernão Lara Mesquita mostrou em recente artigo publicado no Estado. Por sua vez, os guerrilheiros, entre inocentes mortos em atentados terroristas e soldados em combate, mataram 119 pessoas.

Comparados com os paredóns de Fidel Castro, que sem julgamento fuzilou milhares de cubanos, os militares foram, no máximo, aprendizes desajeitados.

A terceira mentira é a de que o movimento militar prejudicou idealistas, que só queriam o bem do Brasil. Em comissão pelos próprios opositores do governo de então organizada, foram indenizadas 40.300 pessoas com a fantástica importância de R$ 3,4 bilhões.

Eu poderia ter requerido indenização, pois o pedido do confisco de meus bens e a abertura de um IPM contra mim prejudicaram, por anos, minha carreira profissional. Mas não o fiz, pois minha oposição, à época, ao regime não era para fazer, mais tarde, um bom negócio, com ressarcimentos milionários.

A quarta mentira é a de que os democratas recém-convertidos queriam uma plena democracia para o Brasil. A atitude de "admiração cívica" da presidente Dilma Rousseff ao visitar o mais sangrento ditador das Américas, Fidel Castro, em fotografia estampada em todos os jornais, assim como o inequívoco apoio ao aprendiz de ditador que é Nicolás Maduro, além de aceitar o neoescravagismo cubano, recebendo médicos da ilha - tratados, no Brasil, como prisioneiros do regime, sobre ganharem muito menos do que seus colegas que integram o programa Mais Médicos -, parecem sinalizar exatamente o contrário. Apesar de viverem sob as regras da democracia brasileira, há algo de um saudosismo guerrilheiro e uma nostalgia que revela a atração inequívoca por regimes que ferem os ideais democráticos.

E para não me alongar mais neste artigo, a quinta mentira é a de que o Brasil regrediu naquele período. Nada é menos verdadeiro. Durante o regime militar os ministros da área econômica eram muito mais competentes que os atuais, tendo inserido o Brasil no caminho das grandes potências.. Tanto que, ao final, o Brasil estava entre as dez maiores economias do mundo. Hoje, com o crescimento da inflação, a redução do PIB, o estouro das contas públicas, o desaparecimento do superávit primário do início do século, os déficits do balanço de pagamentos e a destruição dos superávits da balança comercial, além do aparelhamento da máquina pública por não concursados - amigos do rei -, o País vai perdendo o que conquistara com o brilhante Plano Real, do presidente Fernando Henrique Cardoso.

O ministro Torquato Jardim, em palestra em seminário na OAB-SP, que coordenei, sobre Reforma Política (2/4), ofereceu dados alarmantes. O presidente Barack Obama, numa economia quase oito vezes maior que a do Brasil, tem apenas 200 cargos comissionados. A presidente Dilma tem 22 mil!

Tais breves anotações - mas já longas para um artigo - objetivam mostrar que, em matéria de propaganda, Goebbels, titular de comunicação de Hitler, tinha razão. Uma mentira dita com o tom de verdade, pela força da propaganda que o poder oferece, passa a ser uma "verdade incontestável".

Espero que os historiadores futuros contem a realidade do período, a qual não pode ser contada fielmente por "não historiadores" que se intitulam mentores da "verdade", ou por comissões com esse estranho nome criadas.




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Ives Gandra da Silva Martins é Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/ Estado de S. Paulo, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é Presidente do Conselho Superior de Direito da FECOMÉRCIO-SP, Fundador e Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária.

A morte de Eduardo Campos



Lula qualifica de homem público "de rara e extraordinária qualidade" o pernambucano que em março comparou a Collor.

Caixa Preta da Eleição sem Eduardo: Quem decola?


Eduardo Campos (1965-2014)
A eleição presidencial brasileira se transformou em uma caixa-preta mais enigmática que a do fatal jatinho Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, que caiu no bairro do Boqueirão, em Santos, e matou o presidenciável socialista Eduardo Campos, de 49 anos, que deixa mulher, cinco filhos e uma viúva política. A candidata a vice Marina Silva deve assumir a cabeça de chapa, em convenções e decisões partidárias tomadas após o luto do neto de Miguel Arraes – que, por coincidência macabra, também morreu em um dia 13 de agosto, em 2005. O destino às vezes é cruel.

A pergunta feita no meio político, abalado ou espantado com a tragédia é: quem se beneficia ou se prejudica com a saída de Eduardo da sucessão presidencial? Em princípio, Marina Silva deve herdar os votos que seriam dados a Eduardo – cuja candidatura vinha em ligeiro crescimento de intenções de voto nas pesquisas, principalmente em Pernambuco. Agora, com o chamado efeito “ninguém vence morto no Nordeste”, a “viúva” Marina tende a ficar com o legado do falecido. Marina pode não decolar – e sofrer uma queda na sonhada arremetida – porque o empresariado, sobretudo o agropecuário, não a tolera.

Se o voo de Marina não se tornar viável, mesmo explorando a morte de Eduardo Campos, o cenário fica ainda mais no estilo de uma imprevisível caixa-preta aeronáutica. A saída de Eduardo pode beneficiar Dilma? Petistas otimistas já apostam que sim. Outros, mais realistas, duvidam que isto ocorra. A vivacidade nordestina de Eduardo vinha tirando votos do PT em Pernambuco. Agora, por força psicológica da tragédia, Eduardo pode tirar ainda mais - estando morto. A dúvida mortal é se tal voto migra para Marina ou se Aécio Neves consegue herdar alguma fatia.

Estrategistas tucanos se mostravam preocupados no luto por Eduardo. A tendência natural é que a campanha ganhe um tom emotivo, saudosista. Nos próximos três a cinco dias, enquanto durarem as especulações sobre as causas do acidente, o velório de Eduardo e o sepultamento de seu corpo, nenhum tema polêmico, ofensivo, ganhará destaque na campanha eleitoral. Lava Jato e outros escândalos que podem surgir, junto com os problemas econômicos imediatos (carestia, risco de subida dos combustíveis e das tarifas de energia), vão para o segundo plano.

Temporariamente, o clima fúnebre concede um alívio nos ataques da “oposição” contra Dilma Rousseff – cabra marcada para morrer nas urnas eletrônicas, a não ser que o fantasma da fraude reeleitoral eletrônica a ressuscite. Aliás, Dilma posará de velha amiga do falecido Eduardo, que foi colega dela no governo Lula, na tentativa de herdar uns votinhos a mais dos nordestinos. Aécio Neves tende a ser posto em terceiro plano no cenário imediato pós-Eduardo. O clima pesado não recomenda posar de carpideira falando mal da Dilma, enquanto vigorar o luto de Eduardo – que Marina e Dilma tenderão a prolongar, por motivos contrários ou não.

A campanha de 2014 continua aberta. Ainda é forte a chance de derrota de Dilma Rousseff – implodida pela Oligarquia Financeira Transnacional e por grande parte do empresariado brasileiro, incluindo alguns que lucraram durante a desgovernança petista. Aécio Neves ainda precisa mostrar mais poder ofensivo, principalmente nas propostas concretas para a área econômica – o ponto fraco contra Dilma. A petista arrependida Marina fará a parte dela no teatrinho do João Minhoca eleitoral. Se conseguir crescer nas pesquisas de intenção de voto, tem chances de contar com o mesmo apoio que Aécio tem dos controladores globalitários. Novamente, a ressalva contra Marina é seu discurso radicalóide contra o agronegócio – que vinha digerindo o estilo light de Campos, mas que não consegue engolir a “verde-apimentada”.

Campanha eleitoral é um perigoso sobe e desce. De candidaturas, viáveis e inviáveis, ou de jatinhos forçados a aturar toda sorte de condição climática, geográfica e aeroportuária, no pousa e decola dos vários compromissos de campanha em um dia que só tem 24 horas. Acidentes acontecem. O Brasil já vive um acidente histórico com a turma do PT (Perda Total) infestando a máquina federal há quase 12 anos. Os brasileiros querem mudanças. Mas o risco de tudo mudar, para ficar a mesma coisa (como no provérbio francês) parece uma ameaça constante.

O velho Karl Marx já pregava que tudo que é sólido desmancha no ar. A maldição marxista vale para jatinhos e candidaturas. Tão doloroso quanto o drama da família de Eduardo Campos, que se foi para sempre do nosso mundo profanado pela politicagem, é o drama do eleitorado brasileiro. Ao menos na via eleitoral, não temos opções políticas seguras, de comprovada qualidade, com compromissos claramente definidos para mudar o Brasil para melhor, em substituição urgente à desastrosa Dilma – que o desgastado Lula deve chamar, carinhosamente, de “meu poste”.

O PTitanic afunda em alta velocidade. Mas, antes dele, foi o avião do Eduardo Campos que se espatifou a cerca de 240 Km/h, aparentemente em uma falha (humana ou mecânica) na tentativa de arremetida no pouso abortado, por causa do tempo ruim, na Base Aérea de Santos. Eduardo e outros seis tripulantes perderam a vida nos quinze segundos após a manobra – que, se fosse bem sucedida, levaria mais 15 minutos até um pouso seguro em Congonhas ou no Campo de Marte, em São Paulo.

Eduardo Henrique Accioly Campos morreu. Outros serão vitimados na campanha eleitoral. Que Deus nos acuda e livrai-nos do mal que desgoverna o Brasil – que um dia já foi a Terra de Santa Cruz.

E, por falar em clima de luto: Ricardo Lewandowski foi eleito Presidente do Supremo Tribunal Federal... Eita 13 de agosto...   

Tragédia com Campos deve levar Marina à cabeça de chapa e torna eleição ainda mais incerta

Por Alexandre Caverni
 
SÃO PAULO (Reuters) - A trágica morte do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, nesta quarta-feira causa um terremoto político inédito na corrida presidencial e traz um grau de incerteza muito forte a poucos dias do início da propaganda no rádio e TV, considerado o ponto real de partida da campanha eleitoral.

Qualquer cálculo político feito tão em cima dos eventos desta manhã tem uma grande chance de cometer erros, mas é possível vislumbrar o cenário mais provável e tentar imaginar alguns de seus desdobramentos.

Quando a ex-senadora Marina Silva decidiu se filiar ao PSB em outubro do ano passado, o ex-governador de Pernambuco foi muito elogiado pela inesperada manobra política, que reforçava a candidatura do partido à Presidência.

Por outro lado trazia a possibilidade, remota, de ser Marina a cabeça de chapa, já que ela disputara a Presidência em 2010, tendo quase 20 milhões de votos. Nos primeiros meses deste ano, as pesquisas eleitorais traziam vários cenários de candidatos, incluindo Marina. Sempre com melhor desempenho do que Campos.

Mas com o passar do tempo ficou claro que o candidato do PSB seria mesmo Campos. Sua aposta era se apresentar como um candidato alternativo à polarização PT X PSDB, que vem se repetindo nas eleições presidenciais desde 1994, defender o que ele chamava de "nova política" e aproveitar a presença de Marina para atrair eleitores que estiveram com ela há quatro anos.

A aposta não estava funcionando. Campos aparecia num distante terceiro lugar da corrida liderada pela presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo senador Aécio Neves, do PSDB.

Para ser justo com ele, em 2010, Marina só cresceu na reta final da campanha e talvez isso fizesse com que Campos mantivesse um discurso otimista sobre suas chances de vencer.

Embora o bom senso muitas vezes não prevaleça na política, o mais sensato agora seria o PSB lançar Marina como candidata à Presidência. E possivelmente com mais chances de chegar ao segundo turno do que Campos teria.

GANHANDO ELEITORES

Recuperando os ideais de sua campanha de 2010, o clima das manifestações populares de junho de 2013 --quando havia um grande repúdio à política tradicional--, junto com os slogans de Campos, Marina pode emplacar com mais força do que o ex-governador a ideia da terceira via e da "nova política".

Ela tem uma boa chance de manter os eleitores que até agora se mostravam dispostos a votar no pernambucano e atrair parcelas dos indecisos que talvez não vissem nele um candidato com chances de vitória.

A esses, existe espaço para se juntarem ainda eleitores que podem ser influenciados pelo clima de comoção que certamente cercará a campanha por um tempo difícil de prever.

Num primeiro momento, não é fácil prever se Dilma ou Aécio perderiam eleitores, mas se Marina se tornar a presidenciável do PSB e começar a crescer em cima dos indecisos e daqueles que planejavam votar em branco ou anular seus votos, sua candidatura ganha um impulso que pode se retroalimentar, a ponto até de roubar eleitores dos líderes.

Para a eleição em geral, é fácil prever a consequência disso: se ainda pudesse haver esperanças de definição da eleição no primeiro turno, um quadro com Marina candidata traria imediatamente a certeza da segunda rodada.

Mais complicado é projetar o resultado do novo cenário para Aécio e Dilma. Se Marina crescer e a dupla se mantiver mais ou menos onde está, o perigo maior num primeiro momento parece ser para Aécio, que poderia ver em algum momento ameaçada sua ida para um segundo turno.

Mas se Marina vier a chegar ao segundo turno contra Dilma, diante das circunstâncias trágicas de sua candidatura e o forte desejo de mudança da população, talvez ela venha a ter ainda mais chances de derrotar Dilma do que Aécio.

NEGOCIAÇÕES COM A REDE

O fato de Marina ter se filiado ao PSB apenas porque o partido que tentou criar, a Rede Sustentabilidade, não conseguiu o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia trazer algumas complicações. Isso porque é sabido que a ex-senadora e o grupo que a acompanhou ao PSB pretendiam deixar o partido assim que conseguissem tornar legal a Rede.

Esse movimento não era contraditório com uma eventual vitória de Campos, já que nesse caso a diferença seria apenas que haveria mais um partido na coligação governista.

Mas a tragédia que foi a morte de Campos e as chances eleitorais de Marina abrem espaço para alguma negociação que mude de algum modo o quadro inicial. Como por exemplo, acertar que Marina, se eleita presidente da República, durante seu mandato continuaria no PSB mesmo que a Rede fosse legalizada.

Nada disso pode vir a acontecer e Marina pode continuar apenas como candidata a vice-presidente de um outro nome do PSB ou até desistir de participar da corrida. No limite, o próprio PSB pode decidir sair da disputa. Se assim for, porém, seria difícil falar apenas em falta de bom senso. Soaria mais como tolice.



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O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, mais cedo nesta quarta-feira, 13 de agosto.

Coligação de Eduardo Campos tem dez dias para indicar substituto

 
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esclareceu que, em caso de morte de candidato, os partidos têm prazo de dez dias para fazer substituição. Com a morte do candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB), em um acidente aéreo hoje (13), a coligação Unidos para o Brasil pode escolher a candidata a vice, Marina Silva, para substituí-lo.

Em caso de morte do candidato que for de coligação, a lei eleitoral dá preferência à substituição por outro do mesmo partido, neste caso, o PSB, e orienta para que a mudança seja definida por maioria absoluta dos partidos coligados. A legislação também diz que é obrigação do partido dar ampla divulgação à troca de nomes e esclarecer o eleitorado sobre as mudanças da coligação.

As regras para substituição de candidatos constam da Resolução 23.405, de fevereiro deste ano, e também permitem a troca de candidato caso o registro da candidatura tenha sido indeferido - inclusive por  ineligibilidade - cancelado ou cassado. Nesses casos, a coligação tem até 20 dias antes do pleito para indicar o nome do substituto na chapa concorrente.


Integram a coligação Unidos para o Brasil PSB, Rede Sustentabilidade, PPS, PPL, PRP e PHS.

Dilma lamenta morte de Eduardo Campos e declara luto oficial de três dias

Por TVNBR


A presidente Dilma Rousseff, em declaração à imprensa nesta quarta-feira (13), disse que o Brasil perdeu “uma jovem liderança e com um futuro extremamente promissor pela frente”. Dilma considerou o político pernambucano um exemplo. A presidenta desejou “os mais profundos pêsames” à família do Eduardo Campos e disse que a morte dele entristeceu todos os brasileiros e brasileiras. Dilma estendeu as condolências a todos os assessores que acompanhavam Campos e a suas famílias. De acordo com Dilma, o político era um homem “que poderia galgar os mais altos postos do País”. Ela disse, ainda, que para além das divergências, mantinha “forte relação de respeito mútuo” com Eduardo Campos. A presidente decretou luto oficial de três dias no governo.

Ex-contadora de Alberto Youssef diz que Luiz Argôlo recebeu dinheiro do doleiro

Por Sílvia Mugnatto

Em depoimento no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Meire Poza afirmou que Youssef, preso pela Polícia Federal, fazia pagamentos a diversas pessoas e empresas, entre elas o deputado Luiz Argôlo.

Oitiva da Senhora Meire Bonfim da Silva Poza, Testemunha Arrolada pelo deputado Marcos Rogério, Relator dos processos N°s 14/14 e 15/14, referentes as representações N°s 26/14 e 27/14
Meire Poza afirmou que não viu Youssef 
pagar Argôlo, mas que entregou dinheiro 
ao doleiro para isso. 
A ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza, disse nesta quarta-feira (13) ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara que o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) recebeu dinheiro do doleiro. O deputado é investigado pelo seu relacionamento com Youssef, que foi preso na operação Lava Jato, da Polícia Federal.

A reunião foi encerrada antes do depoimento de uma testemunha de defesa de Argôlo em virtude da morte do candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos.

Meire, que já havia feito acusações pela revista Veja desta semana, disse que só falaria sobre Argôlo e que, em outra ocasião, trataria de outros nomes.

A contadora disse ao relator do processo contra Argôlo no conselho, deputado Marcos Rogério (PDT-RO), que Youssef “era um banco” e explicou como ele atuava. “Ele pagava contas, dava dinheiro, dava presentes, emprestava. Eu fazia TEDs (transferência eletrônica disponível) e pagamentos que não tenho conhecimento do que se tratava. Às vezes vinha algum pagamento em que ele falava só para eu pagar", afirmou. No entanto, ela declarou que não tem a relação das pessoas para qual o doleiro emprestava dinheiro.

Meire disse que seu escritório prestou serviços para Youssef por quatro anos. Segundo ela, a GFD, uma holding de Youssef, emitia notas para empresas sem que serviços fossem prestados. Com intermediação do deputado Luiz Argôlo, teria sido repassado mais de R$ 1 milhão para duas empresas do Ceará.

Versão do advogado
O advogado de Argôlo, Aluisio Lundgren, perguntou a Meire se ela tinha visto dinheiro vivo sendo entregue ao deputado. Ela respondeu que não, mas que entregou dinheiro a Youssef para ser repassado a Argôlo. O advogado ressaltou que o deputado vendeu um terreno a Youssef, o que foi confirmado por Meire.

Ao final do depoimento, Meire afirmou que os negócios de Argôlo com Youssef eram ilícitos. Mas Aluisio Lundgren rebateu. "Para mim, o depoimento foi bastante consistente. É claro que tem alguns pontos que a própria testemunha não tem conhecimento total. Mesmo para dizer que as relações do deputado com o senhor Youssef seriam ilícitas, eu vi uma certa hesitação inicial da própria testemunha. Eu vou reafirmar: as relações eram lícitas e esses dados, que a testemunha não tem conhecimento, no interrogatório do deputado eu vou esclarecer todos os pontos", destacou.

Meire Poza também afirmou que Youssef disse ter um "bom acesso" a prefeituras do PT. No entanto, ela contestou trecho da reportagem da revista Veja, segundo o qual ela saberia de algum esquema irregular com o partido.


"Nunca tinha visto tanto dinheiro"

Por Robson Bonin, de Curitiba – VEJA
Com reportagem de Adriano Ceoun e Hugo Marques

A contadora do doleiro Alberto Youssef revela como funcionava o esquema de pagamento de propina a políticos do Congresso — e dá o nome de parlamentares, de empreiteiras e dos partidos envolvidos

É um clássico. As organizações mafiosas caem com maior rapidez quando alguém de dentro decide contar tudo. O que se vai ler nesta reportagem é justamente a história de alguém que, tendo participado do núcleo duro da quadrilha que girava em torno do doleiro Alberto Youssef, pego na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, resolve contar tudo o que fez, viu e ouviu. Meire Bonfim Poza participou de algumas das maiores operações do grupo acusado de lavar 10 bilhões de reais de dinheiro sujo, parte desviada de obras públicas e destinada a enriquecer políticos corruptos e corromper outros com o pagamento de suborno. Meire Poza viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras, sendo embarcadas em aviões e entregues às mãos de políticos. Durante três anos, Meire manuseou notas frias, assinou contratos de serviços inexistentes, montou empresas de fachada, organizou planilhas de pagamento. Ela deu ares de legalidade a um dos esquemas de corrupção mais grandiosos desde o mensalão. Meire sabe quem pagou, quem recebeu, quem é corrupto, quem é corruptor. Conheceu de perto as engrenagens que faziam girar a máquina que eterniza a mais perversa das más práticas da política brasileira. Meire Poza era a contadora do doleiro Alberto Youssef — e ela decidiu revelar tudo o que viu, ouviu e fez nos três anos em que trabalhou para o doleiro.

Nas últimas três semanas, a contadora prestou depoimentos à Polícia Federal. Ela está ajudando os agentes a entender o significado e a finalidade de documentos apreendidos com o doleiro e seus comparsas. Suas informações são consideradas importantíssimas para comprovar aquilo de que já se desconfiava: Youssef era um financista clandestino. Ele prospectava investimentos, emprestava dinheiro, cobrava taxas e promovia o encontro de interesses entre corruptos e corruptores. Em outras palavras, usava sua estrutura para recolher e distribuir dinheiro e apagar os rastros. Entre seus clientes, estão as maiores empreiteiras do país, parlamentares notórios e três dos principais partidos políticos. Os depoimentos da contadora foram decisivos para estabelecer o elo entre os dois lados do crime — principalmente no setor tido como o grande filão do grupo: a Petrobras. As empreiteiras que tinham negócios com a estatal forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro. Nas últimas semanas, Meire Poza forneceu à polícia cópias de documentos e identificou um a um os contratos simulados e as notas frias, como no caso da empreiteira Mendes Júnior (veja o documento na página 54), que nega ter relacionamento com o doleiro. Os corruptores estão identificados. A identificação dos corruptos está apenas no início.

A polícia já sabe que, para garantirem contratos na Petrobras, as empresas contribuíam para o caixa eleitoral de partidos ou pagavam propina diretamente a políticos — os mesmos que controlam cargos na administração pública e indicam diretores de empresas estatais. Quem são eles? VEJA localizou a contadora Meire Poza. Em uma entrevista exclusiva, ela revela que tem gente do "PT, do PMDB e do PP" envolvida com os negócios clandestinos de Youssef. "Havia um fluxo constante de entrada e retirada de malas de dinheiro em pelo menos três grandes empreiteiras", disse a contadora. Segundo ela, além de buscar e entregar o dinheiro pessoalmente, Youssef se ocupava de fortunas vindas de paraísos fiscais e da sua distribuição aos integrantes da lista de "beneficiários". Meire relata que encabeçavam a lista cinco parlamentares. Eles recebiam pagamentos em dinheiro vivo, diretamente das mãos do doleiro ou por meio de depósitos bancários que a própria contadora fazia. "Fiz muitos pagamentos, não diretamente na conta dos políticos, mas para os familiares deles".

Dois dos integrantes da lista de Youssef respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados — o ex-petista André Vargas e Luiz Argôlo (ex-PP, hoje no Solidariedade). Ambos já tinham aparecido nas investigações como usuários dos serviços clandestinos do doleiro. A parceria, porém, é muito mais profunda. Em abril passado, VEJA revelou que Vargas havia formado uma sociedade com o doleiro para fraudar contratos no Ministério da Saúde. Um negócio que, segundo o próprio Youssef, representaria a "independência financeira" do deputado. O envolvimento de Vargas com Youssef ficou conhecido quando se soube que ele usou um jatinho pago pelo doleiro para fazer uma viagem de férias com a família — um inocente presente de amigo. O presente, descobre-se agora, não tinha nada de inocente. Meire conta que, em dezembro passado, André Vargas ajudou Youssef a lavar 2,4 milhões de reais por meio de uma empresa do Paraná. Como retribuição pelo serviço, o doleiro usou parte desse dinheiro, 115 000 reais, para fretar o jato que levou Vargas para as férias na Paraíba, em janeiro deste ano. O deputado destacou o irmão, Leon Vargas, para cuidar da operação. Lembra Meire: "Tenho várias mensagens trocadas com ele combinando o contrato. Depois que o dinheiro caiu na conta, o Beto (Youssef) mandou pagar o aluguel do jato e outras despesas do deputado".

Uma das figuras mais assíduas do escritório de Youssef era o deputado Argolo, que, segundo Meire, também era sócio do doleiro em negócios na área de construção. Antigo colega de partido de Argôlo, o ex-ministro Mário Negromonte era cliente do esquema: "O irmão dele, o Adarico, trabalhava com a gente transportando as malas, levando e buscando dinheiro nas construtoras". Meire confirma que Alberto Youssef depositou 50 000 reais na conta do senador Fernando Collor a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, um ex-assessor do ex-presidente também envolvido com a quadrilha. "O Beto guardava esses recibos como troféu." Segundo ela, outro conviva era o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que contou com a ajuda de Youssef para quitar dívidas de campanha: "Um assessor do Vaccarezza me procurou em 2011 para apresentar um negócio com fundos de pensão no Tocantins". Meire guarda uma relação de números de contas bancárias de parentes e assessores de políticos que receberam dinheiro do doleiro.

"O Beto era um banco de dinheiro ruim. As empreiteiras acertavam com os políticos e ele entrava para fazer o trabalho sujo, levando e trazendo dinheiro, sacando e depositando. Tinha a rede de empresas de fachada para conseguir notas e contratos forjados", diz. Um dos botes mais ousados de Youssef, segundo ela, tinha como alvo prefeituras comandadas pelo PT. O doleiro pagava propina de 10% a cada prefeito que topasse investir em um fundo de investimento criado por ele. "E era sempre nas prefeituras do PT. Ele falava que, onde tivesse PT, a gente conseguia colocar o fundo." André Vargas era considerado um parceiro fiel. O deputado estava empenhado em fazer com que dois fundos de pensão de estatais, o Postalis (dos Correios) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal), injetassem 50 milhões de reais em um dos projetos do doleiro. Meire conta que Youssef chegou a viajar para Brasília para acertar o aval do PMDB ao negócio. Segundo ela, o doleiro teria tratado do assunto até com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Era do PP, porém, que Alberto Youssef tirava a maior parte de seus lucros, principalmente os oriundos das transações que envolviam a Petrobras. Velho conhecido dos parlamentares do PP, Youssef comandou no início deste ano uma operação milionária de interesse do partido. A contadora narra que, numa tarde de sexta-feira, foi chamada à sala do doleiro. " "Meire, entraram 5 milhões no partido. A gente precisa tirar 4,5 milhões lá de dentro. Eu preciso que você emita três notas de 1 milhão e meio". Eu falei: "Logo em ano de eleição você vem me pedir um troço desses?"" As empreiteiras prestadoras de serviço à Petrobras eram, segundo Meire, protagonistas dos negócios. "Uma parte dos recursos que chegavam da OAS era para caixa dois político. O dinheiro era todo entregue ao Beto, e só ele separava o que saía para os políticos e o que era negócio da empreiteira", diz Meire. A contadora lembra que, em janeiro deste ano, foi convidada pelo doleiro a fazer uma visita à sede da companhia. "Quando entrei no carro, ele me disse: "Vou ali na OAS para entregar isso aqui" — e apontou para o banco de trás do carro. Quando eu olhei para trás, tinha uma mala no banco. Eu tomei um susto, nunca tinha visto tanto dinheiro junto", relata Meire. Outra construtora que recorria aos serviços do doleiro era a Camargo Corrêa. A parceria tinha relação direta com a atividade do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. "A Camargo era um esquema exclusivo de dinheiro das comissões do Paulo Roberto Costa. O dinheiro que entrava nesse esquema de pedágio era uma coisa que não dava para controlar. Eram malas e malas de dinheiro", afirmou. Todos os envolvidos negaram a VEJA manter qualquer relação com o doleiro.


Por que razão Meire Poza decidiu contar tudo e se autoincriminar? Ela explica que demorou algum tempo para entender a natureza clandestina das operações de Youssef. A ficha só teria caído para ela quando recebeu ordens de Youssef para fazer um contrato pelo qual a empreiteira Mendes Júnior pagaria 2,6 milhões de reais à GFD Investimentos, de propriedade do doleiro, a título de consultoria sobre a viabilidade de plataformas de petróleo. "A GFD só tinha que fornecer os contratos." A contadora relata que tem sido procurada por pessoas que se dizem representantes das empreiteiras. Essas pessoas invariavelmente prometem ajuda financeira em troca de seu silêncio. De outros integrantes do esquema menos sutis ela recebeu o conselho de "sumir do mapa". Diz Meire: "Depois da operação, me ligou um advogado dizendo que iria cuidar de tudo. As empreiteiras queriam saber o que eu sei para ver até onde a água ia chegar nelas". Falharam todas as tentativas: "Tentei sair do esquema três vezes, e a reação deles não foi nada boa. Essa decisão foi muito pensada. Estou colaborando com a polícia para esclarecer tudo o que eu puder. Se tiver que responder pelo que fiz, eu vou responder". Com uma testemunha-chave tão vital e disposta a ajudar, será um mistério se a Operação Lava Jato não ajudar a limpar parte da corrupção no Brasil.


Ativistas do Rio vão aguardar julgamento em liberdade


Rio de Janeiro - A ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, deixa a 17 DP após prestar depoimento sobre o caso do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Elisa  Quadros,  a Sininho, está  entre os beneficiados pela 
decisão do TJRJ Fernando Frazão/Agência Brasil
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) decidiu hoje (12) que 21 dos 23 ativistas apontados pelo Ministério Público Estadual (MP-RJ) como responsáveis por atos violentos em manifestações públicas responderão ao processo em liberdade. A decisão de manter o habeas corpus concedido pelo desembargador Siro Darlan no mês passado foi unânime entre os desembargadores da 7ª Câmara Criminal do TJRJ.

Os ativistas Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, que também estão na denúncia oferecida pelo MP-RJ, continuarão presos, já que são apontados como responsáveis pela morte do cinegrafista da Rede Bandeirantes Santiago Andrade, em fevereiro deste ano. Os 23 ativistas, incluindo Fábio e Caio, respondem pelo crime de associação criminosa. Outro manifestante, Edgreisson Ferreira de Oliveira, que não está incluído no processo e, portanto, não tinha prisão preventiva decretada, também foi beneficiado pela decisão, já que sua defesa tinha entrado com pedido de habeas corpus preventivo.

No último dia 29, o procurador de Justiça Riscalla Abdenur, do MP-RJ, entrou com agravo regimental dirigido ao desembargador Siro Darlan pedindo para reconsiderar o habeas corpus concedido para 21 ativistas. Na época, os ativistas Elisa Quadros, conhecida como Sininho, Camila Jourdan e Igor D'Icarahy, estavam presos no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio.

Os beneficiados com a decisão são Camila Aparecida Rodrigues Jourdan; Igor Pereira D’Icarahy; Elisa de Quadros Pinto Sanzi; Luiz Carlos Rendeiro Junior; Gabriel da Silva Marinho; Karlayne Moraes da Silva Pinheiro; Eloisa Samy Santiago; Igor Mendes da Silva; Drean Moraes de Moura Correa; Shirlene Feitoza da Fonseca; Leonardo Fortini Baroni Pereira; Emerson Raphael Oliveira da Fonseca; Rafael Rego Barros Caruso; Filipe Proença de Carvalho Moraes; Pedro Guilherme Mascarenhas Freire; Felipe Frieb de Carvalho; Pedro Brandão Maia; Bruno de Sousa Vieira Machado; André de Castro Sanches Basseres; Joseane Maria Araújo de Freitas e Rebeca Martins de Souza, além de Edgreisson Ferreira de Oliveira.

Enquanto responderem ao processo, os ativistas têm que cumprir uma série de medidas cautelares, entre elas a proibição de deixar o país sem autorização, o comparecimento regular ao juízo e a proibição de participar de novas manifestações.


O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro informou, em nota, que o procurador de Justiça Riscalla João Abdenur, da 8ª Procuradoria de Justiça de Habeas Corpus do MPRJ, vai recorrer da decisão proferida hoje pela 7ª Câmara do TJRJ no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.

“Comissão da Verdade do Rio afirma que preso foi torturado em hospital durante ditadura”

Observações do site A Verdade Sufocada

A Comissão da Verdade está perdendo a credibilidade:

São tantas  afirmações  baseadas em depoimentos não comprovados, alguns desmentidos !..
Como acreditar que o preso foi torturado e morto dentro de um Hospital ?
Como acreditar em laudos modificados  40 anos depois ou mais?
Como acreditar em uma comissão que diz  pretender contar a história recente do país, e investiga apenas um lado da luta armada nas décadas de 60 a 85 ?
Como disse  Pérsio Arida a Mário Sérgio Conti,  em entrevista ao Globo News, recentemente, porque investigar tantos anos depois do fato ocorrido e apenas um lado ?
Um  dos inúmeros exemplos deste procedimento é a matéria “Comissão da Verdade do Rio afirma que preso foi torturado em hospital durante ditadura”, que segue a seguir:

“Comissão da Verdade do Rio afirma que preso foi torturado em hospital durante ditadura”

Foto do prontuário de Raul Amaro Ferreira: na imagem, preso 
aparece sem nenhuma lesão - Arquivo Nacional / Reprodução
“ Raul Amaro Nin teria sofrido lesões dentro de centro hospitalar do exército"



RIO — A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), em audiência realizada nesta segunda-feira, apresentou provas que mostram que Raul Amaro Nin Ferreira, de 27 anos, foi torturado até a morte no Hospital Central do Exército durante a ditadura. De acordo com as informações divulgadas pela manhã na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, é a primeira vez que há comprovação destas práticas dentro de um centro hospitalar no Brasil.

— Mesmo nas piores situações de violações de direitos humanos que a humanidade enfrenta, as pessoas não são mortas dentro de um hospital. O triste da história que temos para revelar é exatamente isso: Raul Amaro foi torturado e morto dentro do Hospital Central do Exército — afirmou a presidente da CEV-Rio, Nadine Borges, em sessão que contou com a participação do ex-preso político Álvaro Caldas e de Felipe Nin, sobrinho de Raul.

O engenheiro Raul Amaro foi preso no dia 1º de agosto de 1971 em uma blitz montada em Laranjeiras. Ele foi levado ao Dops e, no dia seguinte, transferido para o DOI-Codi. Segundo a versão desta segunda, no dia 4 de agosto ele foi levado para o Hospital Central do Exército (HCE) com vários ferimentos no corpo. Em seu prontuário de entrada no Dops, o preso aparece em foto sem nenhuma lesão. A justificativa para os ferimentos, registrada na caderneta nº 6.400 da 13ª Enfermaria, era de que teria acontecido uma briga durante a revista na casa de Raul. Durante os oito dias que esteve no hospital, o preso foi interrogado duas vezes, como apontam documentos produzido pelos militares, e nessas ocasiões foi torturado, como afirma relatório do médico-legista Nelson Massini.

Em julho de 2012, O GLOBO noticiou que documentos mostravam que Raul teria chegado vivo ao Dops. A informação serviu para que a família retomasse a investigação e elaborasse um relatório com 262 páginas que evidenciam que o preso foi interrogado dentro do HCE. Em um dos documentos, o general Rubens do Nascimento Paiva “apresenta o comissário Eduardo Rodrigues e o escrivão Jeovah Silva, ambos do DOPS, que vão a este hospital a fim de interrogarem o preso Raul Amaro Nin Ferreira”.

— O Hospital Central era usado como uma extensão do DOI-Codi, para lá eram levados presos feridos na rua, em alguma ação de combate, ou por terem chegado ao limite de resistência da tortura — afirmou o ex-preso político Álvaro Caldas.

Além dos documentos autorizando interrogatórios, a investigação contou com uma análise do médico-legista Nelson Massini que confirmou que Raul foi torturado durante o período em que esteve no hospital. Utilizando uma metodologia que consiste em compreender a datação das lesões através de suas tonalidades — conhecida como espectro de equimoses de Legran Du Salle — o legista utilizou os documentos da época para chegar a conclusão.

— Ao vermos a descrição das lesões, vimos que ele as sofreu enquanto estava no hospital. Esta afirmação desmente a versão oficial de que ele teria tido uma briga antes de ser preso, e é confirmada quando comparamos com as informações que conseguimos com os levantamentos nos arquivos — analisou Massini.

A família de Raul emitiu uma nota manifestando o “horror” diante da hipótese de que Raul Amaro chegou a ser torturado nas dependências do Hospital Central do Exército (HCE).

“A família se sente chocada com a contradição entre o que já é público sobre o caso de Raul Amaro e as versões oficiais de que a instituição militar desconhece as torturas ocorridas em pessoas mantidas sob sua responsabilidade durante a ditadura militar e manifesta a expectativa de algum pronunciamento das autoridades competentes sobre o caso”, diz o texto.”

(Publicado no O Globo - 11/08/2014)




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A editoria do site A Verdade Sufocada volta a comentar a matéria:

A presidente da CEV-Rio, Nadine Borges, baseada nos depoimentos abaixo afirmou, segundo O Globo de 12/08/14  que Raul Amaro Ferreira Nin foi morto no Hospital Militar

1-Testemunhas : um ex-preso político Álvaro Caldas e Felipe Nin, sobrinho de Raul.
2- Relatório do legista Nelson Massini que afirma que durante os oito dias  Raul Amaro Ferreira Nin  esteve no hospital, foi interrogado duas vezes,  quando foi torturado,  "como apontam documentos produzido pelos militares".

O perito  Nelson Massini é o mesmo que fez a perícia nos corpos dos dez militantes, mortos no "Massacre de Eldorado dos Carajás", durante o confronto entre policiais e militantes do MST.

Segundo ele os sem-terra teriam sido executados.

Esta afirmação até hoje é discutida, pois existem vídeos onde nota-se, claramente,  que os  militantes, armados com seus “intrumentos de trabalho”, partiram para cima da polícia, que reagiu e revidou  ao ataque para não serem trucidados.