Se os indianos tiveram a Madre Teresa de Calcutá, nós temos
a Madre Marina de Xapuri. Cansado da “mamãe” Dilma, o povo agora quer sonhar
novamente. Afinal, democracia que compara projetos e propostas, histórico e
alianças é mesmo algo muito monótono. O brasileiro é mais afeito às utopias
messiânicas, a um “salvador da Pátria”, ou salvadora, no caso.
Se tiver um passado da agruras, uma infância miserável, uma
bela narrativa de vítima para contar, aí fica imbatível. O ex-operário que
passou fome ia acabar com a fome no Brasil. Seu “Fome Zero” foi um fiasco, mas
isso é detalhe. O crescimento chinês veio lhe salvar, e o povo carente logo o
enxergou como o novo Padim Ciço.
Não teve mensalão que o fizesse acordar do feitiço. Lula
iluminou seu poste e Dilma, que era ele mesmo em forma mais feminina, foi
eleita. A “mãe do PAC”, o Programa de Auxílio a Cuba, seria a “gerentona”
eficiente. Entregou apenas recessão e inflação. Dilma foi a pior presidente que
o Brasil já teve. Mas justiça seja feita: foi a melhor para a ditadura cubana.
Cansado — com razão e muito atraso — do PT, o povo
brasileiro quer uma nova esperança. Não quer o candidato mais bem preparado,
com a equipe mais robusta, com as ideias mais estruturadas. Nada disso tem
charme. Quer uma solução definitiva, alguém que represente a “nova política”,
que carregue uma aura de santidade e paire acima dos reles mortais.
Viva Marina! Uma espécie de Curupira de saias, a guardiã das
florestas e dos animais, que representa a “terceira via” contra a polarização
entre petistas e tucanos. Foi do PT por décadas, ministra de Lula, e seu marido
era do PT do Acre até “ontem”. Detalhes bobos, sem importância. A “nova
política” significa entrar para o PSB, partido com socialista na sigla e membro
do Foro de São Paulo, ao lado do próprio PT e da ditadura cubana. Mais dados
insignificantes.
Com postura de quem recebeu um chamado divino, Marina pode
tudo, não há contradição que grude nela. Goza do mesmo “efeito Teflon” de Lula.
Ela pode, por exemplo, afirmar que vai governar usando o melhor tanto do PT
como do PSDB, que ninguém questiona o que isso quer dizer na prática, se é um
ou o outro. Afinal, não parece viável misturar Mercadante e Armínio Fraga.
Segundo Eduardo Giannetti, seu assessor para economia, o
viés na área estaria bem mais para o lado tucano, o que é um alívio para quem
entende do assunto. Resta saber: Marina vai mesmo escutar Giannetti? Ou seu
assessor será Leonardo Boff? Ou será o MST, entidade da qual já vestiu,
literalmente, o boné? Suas décadas de PT, partido do qual saiu triste e com
“profundo respeito”, terão que tipo de influência em sua gestão? Você pode
tirar alguém do PT, mas será que é possível tirar o PT de alguém?
De boba Marina não tem nada. Antes, representava um grito de
protesto; agora, pelas artimanhas do destino, é a favorita na corrida
presidencial. Quando o poder se aproxima e se torna factível, o candidato
abandona certos radicalismos “sonháticos” e flerta com o pragmatismo. Ao
defender em seu plano de governo um Banco Central independente e o tripé
macroeconômico, Marina sinaliza que fará como Lula em sua “Carta ao Povo
Brasileiro”.
Lula, de fato, respeitou a herança bendita da era FH no
primeiro mandato, com Henrique Meirelles e Palocci. Mas em seguida traiu o povo
brasileiro e abandonou o legado deixado pelos tucanos. Fez “o diabo” para
eleger Dilma, e agora estamos aqui, nesse quadro de estagflação. Marina será
fiel aos eleitores pragmáticos? Ou deixará vir à tona seu DNA esquerdista?
Saberemos a resposta em 2015, ao que tudo indica. A “onda”
cresceu e se transformou num tsunami. Marina já é a grande favorita, com dez
pontos à frente de Dilma no segundo turno, de acordo com o Datafolha. Mas, se é
cedo para saber se os pragmáticos vão quebrar a cara com Marina, uma coisa é
certa: a decepção dos “sonháticos” será total. Quem está à espera de um
milagre, de uma mudança revolucionária na forma de se fazer política, vai cair
feio do cavalo.
Dito isso, algo ao menos será motivo de regozijo para os
mais esclarecidos: a derrota do PT. É verdade que, desesperados com a
possibilidade real de perder suas tetas estatais e ter de trabalhar, os
petistas farão de tudo para permanecer no governo Marina. Os vermelhos vão se
pintar de verdes, até porque Marina está mais para “melancia”: verde por fora,
vermelha por dentro. Mas ela seria eleita com um claro discurso de oposição, e
ficaria muito feio compor com o PT depois. Portanto, adeus, PT. Já vai muito
tarde!
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