Por Alexandre Garcia
Fez porcaria e agora empurra para Deus? Deus vai ajudar.
Como assim? Você não se ajudou e agora quer que Deus resolva? Ah, os generais
vão resolver? Como assim? Eles resolveram, em 64, o Brasil cresceu a 11,2 em
média em três anos e devolveram o poder aos civis. Os civis e seus partidos
tiveram quase 30 anos para pegar um país pronto e concorrer com a China. O que
houve? Más escolhas na urna? Não é de Deus a culpa. Alguns choram de novo à
porta dos quartéis, achando que os generais devem voltar para socorrer os
pobrezinhos imaturos, com medo da maioridade, querendo ser tutelados. Ora,
danem-se. Resolvam vocês mesmo. Nem Deus nem os generais vão nos tutelar.
Fazemos as porcarias e depois choramos como uns bebês? Até parecemos jogadores
da seleção brasileira. Assumamos nossos votos nas urnas. Nossas atitudes
egoístas, nossas passividades, nossas alienações. Paguemos nossos pecados.
Deixemos de ser pueris. Sejamos adultos, responsáveis.
Pobre país que fica esperando pelos outros. O país somos
nós. Mês que vem é o mês do 7 de setembro, da Semana da Pátria, da
Independência. Será que vamos encher nossos carros de bandeirinhas, como na
Copa? Nem Deus nem os generais virão em nosso socorro. Em socorro de cidadão
indiferentes. O Brasil somos nós. Não é uma equipe de futebol, como nossa
infância tardia imagina. É um país em que vamos viver nossa velhice, com nossos
filhos e netos. Se continuar assim, nos estamos condenando ao nada, ao
não-futuro. Será que não vamos acordar, células que somos do gigante deitado
eternamente em berço esplêndido?
Sim, devemos ter mesmo complexo de vira-latas, como nos joga
na cara o governo. Quando o país vai dando certo, julgamos que não merecemos,
que estamos abaixo do cavalo do bandido, e damos um jeito de estragar tudo.
Damos um jeito de piorar o que está ruim. Nossa ignorância para a cidadania,
para o mundo, para a civilidade, para a civilização é gigantesca. Nossa
ignorância, por outro lado, nos permite suportar tudo, porque não conhecemos a
realidade e na tapera em que vivemos, imaginamos habitarmos num palácio.
É para isso que não somos mantidos longe da educação; que as
escolas estão caindo, que os professores são mal-formados e mal-pagos; é por
isso que o ensino é pífio, que ninguém lembra os pais de suas
responsabilidades, ninguém condena os pais pelo mau exemplo de sonegar, pagar
propina, passar o sinal fechado, não ensinar que a lei serve para que todos
sejamos livres e felizes. E vamos despencando. Volta e meia temos uma chance,
na urna. Mas, em geral, não aproveitamos. Preferimos esperar que tutores
imaginários um dia nos salvem. Podem esquecer. Não há força fora de nós.
Fonte: A Verdade Sufocada
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