Por Maria Lucia Victor Barbosa
Da morte trágica do candidato à presidência da República,
Eduardo Campos, emergiu a sobrevivente, Marina Silva, que tendo se abrigado no
PSB por não ter conseguido registrar o seu partido Rede Sustentabilidade seria
a vice na chapa.
Como escreveu Elias Canetti em sua magistral obra, Massa e
Poder: “O momento de sobreviver é o momento do poder”. “O espanto diante da
visão da morte se dissolve em satisfação, pois não se é o morto”. “O morto está
estendido e o sobrevivente está de pé”. “É como se um combate tivesse
antecedido aquele momento, e nós mesmo tivéssemos derrubado o morto”. Canetti
se referia às batalhas onde se mata e morre literalmente, mas não é uma
campanha eleitoral uma espécie de batalha?
Marina, a sobrevivente, se sente ungida pela “providência
divina”, segundo suas palavras. Na eleição de 2010 obteve 20 milhões de votos e
ficou em terceiro lugar. Neste ano viu frustrada sua intenção de voltar à
campanha presidencial por ter falhado a oficialização da Rede Sustentabilidade.
Agora, por um desses acasos que ela atribui a forças sobrenaturais ei-la no
centro do palco da política.
Alçada à cabeça de chapa Marina se transformou rapidamente
de hóspede em hospedeira do PSB e sua primeira providência foi a de substituir
os comandos da campanha por gente sua, enquanto alijava o pessoal de Eduardo
Campos. Portanto, o PSB pode dar adeus às ilusões. A Rede que ainda não existe
adonou-se da escalada ao Planalto e se Marina chegar lá tudo indica que não
sobrará nada para os socialistas de Campos. As aspirações pesebista foram
sepultadas junto com o líder morto.
Dizem em tom de brincadeira que Marina é verde por fora e
vermelha por dentro. Toda brincadeira tem um fundo de verdade e não se duvide
que no peito de Marina bata ainda um coração petista. A sobrevivente ungida é
como o avatar de um PT já longínquo que se dizia puro, ético, a verdadeira
esquerda que vinha para mudar o que estava errado.
À frente do PT a estrela barbuda, que na quarta tentativa
chegou lá depois de vestir terno Armani, aparar a barba e fazer publicar uma
Carta na qual se comprometia a manter os fundamentos da nossa economia
capitalista de Terceiro Mundo.
No poder os éticos e puros mostraram a que vieram e foram na
nossa endêmica corrupção os mais corruptos. Incompetentes, reeditaram a
inflação, a inadimplência e nos fizeram o país dos pibinhos, dos descalabros na
Educação e na Saúde, da Petrobras arrebentada, da diplomacia vergonhosa que
defende e custeia os mais nefastos ditadores mundiais. Para piorar o País é o
lanterninha dos Brics.
O Brasil como paraíso é uma fraude gerada pela propaganda
enganosa. O que de fato se tem é a herança maldita dos quase 12 anos de governo
Lula, pois a bem da verdade, nos últimos desastrosos quatro anos foi o criador
que mandou e a criatura somente obedeceu.
Note-se que a sobrevivente já iniciou sua metamorfose ao
incorporar como vice o gaúcho Beto Albuquerque, ex-petista que agora é citado
como defensor do agronegócio. Marina, como se sabe, sempre foi contra o
agronegócio. Será que mudou? Afinal, ela apoia os sem-terra.
A candidata da Rede também já aceita a ideia da autonomia do
Banco Central. É o que afirma a herdeira do Banco Itaú, Maria Alice Setubal,
amiga e coordenadora do programa de governo da sobrevivente. Sem dúvida, um
truque da candidata com o intuito de agradar o mercado, que se antes temia Lula
agora a teme. Só falta a Rede lançar uma Carta para apaziguar certos ânimos.
Marina está fortalecida. Leva vantagem sobre Rousseff porque
além de ser mulher representa com seu aspecto frágil um perfil bem mais
feminino. E ganha de Lula porque teve como ele origem humilde, mas, como já foi
dito é mulher e negra. Daqui a pouco vão dizer
de modo politicamente correto que é mulher, negra e índia. Então, aí de
quem criticá-la. Tal coisa será considerada não como preconceito, mas como
crime de racismo, portanto, inafiançável.
A sobrevivente, que se esclareça, não é terceira via e sim o
Lula de saias abanando uma bandeira vermelha. Com relação ao PT ela pode dizer:
“eu sou você amanhã”. Mas, quais são seus planos de governo? Já se sabe que seu
programa incluirá os tais conselhos populares idealizados pelo PT e outros
canais de democracia direta. Uma quinada e tanto à esquerda que talvez o PT
faça caso Rousseff ganhe.
Quanto ao PSDB nunca foi oposição ao PT por temer a
popularidade do demagogo Lula. Se agora os tucanos continuarem abúlicos por
conta do medo da “santa da floresta” e seguirem sacudindo seus punhos de renda
contra a borduna do PT e o arco e flecha da Rede, podem jogar a toalha. Então,
ecoará da Papuda a profecia de José Dirceu: “Viemos para permanecer 20 anos”.
“Muito mais”, dirá Lula, “meu modelo é Fidel Castro”.
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Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga - www.maluvibar.blogspot.com.br -
mlucia@sercomtel.com.br
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