Por Percival Puggina
No Correio do Povo do
dia 20 deste mês, o jornalista Juremir Machado da Silva recordou o quanto era
difícil, nos anos 80, encontrar nas bibliotecas exemplares do livro Veias
Abertas da América Latina. Esse era o livro mais indicado pelos professores e
mais procurado pelos alunos. E continua muito recomendado, ao que me informam.
Malgrado seja um amontoado de asneiras, Veias Abertas tornou-se o texto
introdutório ideal da pregação marxista, objetivo primeiro de grande parte do
mundo acadêmico nacional.
Talvez ninguém expresse melhor do que o próprio autor o que
acabei de afirmar a propósito de seu louvado trabalho. No dia 11 de abril
passado, o uruguaio Eduardo Galeano concedeu uma entrevista em Brasília. Ele
era o homenageado da 2ª Bienal do Livro e da Leitura. O destaque que recebia
tinha tudo a ver, por certo, com a popularidade que lhe adveio desse livro
(alguém conhece outra obra de Galeano?). Na entrevista, com todas as letras,
ele declarou: "Veias Abertas tentou ser um livro de economia política, só
que eu não tinha ainda a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo
escrito, mas é uma etapa superada. Eu não seria capaz de ler de novo esse
livro. Cairia desmaiado. Para mim, essa prosa de esquerda tradicional é
chatíssima. Meu físico não aguentaria. Teria que ser internado em
Pronto-Socorro. 'Tem alguma cama livre', perguntaria".
Nesse trem do qual Galeano já saltou fora ainda existe muita
gente embarcada, com o livro dele na mochila. Pois bem, para quem leva Veias
Abertas a sério, Cuba vive, há 55 anos um modelo mais do que perfeito. Todo o
patrimônio das espoliadoras empresas norte-americanas caiu, de um dia para o
outro, nas mãos do Estado cubano sem que o Estado tivesse que pagar um centavo por
ele, cessando, também, a remessa de qualquer lucro. Dois anos mais tarde, Fidel
estabeleceu com a URSS uma aliança altamente vantajosa: os soviéticos passaram
a lhe prestar ampla ajuda técnica, militar e científica, se responsabilizaram
pelo seu superávit comercial comprando açúcar e níquel cubano a preços
superiores aos de mercado e vendendo seus produtos a preços inferiores aos de
mercado. Um negócio da China, segundo o qual o regime não só fechou suas veias
como cravou a seringa na artéria dos russos.
Contudo, para absoluto espanto, malgrado a massiva
expropriação que procedeu, malgrado as veias fechadas, malgrado quase três
décadas favoráveis no balanço hematológico com a URSS, malgrado 55 anos de um
padrão de consumo que faria padecer um monge franciscano, Cuba é, ainda hoje,
um país tão pobre quanto você imagina um povo obrigado a enquadrar suas
necessidades numa renda mensal inferior a 12 dólares e onde as atividades mais
estimuladas batem num teto de 30 dólares. Um exército de policiais e informantes
vigiam a vida privada e coontrolam o procedimento, nas ruas, dessa multidão de
carentes.
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NOTA: Atendendo muitas solicitações, para mais fácil uso
pelos leitores que o desejam reproduzir, transformei em artigo dois textos
anteriores sobre esse tema .
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