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quarta-feira, 9 de julho de 2014

OS CÃES LADRAM E A CARAVANA PASSA

Por Weslei Antonio Maretti

Miriam Leitão entrevistou o diplomata Celso Amorim, Ministro da Defesa, em um programa da Globo News. Na entrevista criticou a resposta dos Comandantes das Forças Armadas à Comissão da Verdade. Para ela, os Comandantes deveriam assumir publicamente que houve desvio das organizações militares que enfrentaram as forças guerrilheiras que buscavam implantar no Brasil a ditadura do proletariado nas décadas de 60 e 70. Também criticou a postura dos Colégios Militares que adotam livros didáticos que respaldam o movimento cívico militar que implantou um governo autoritário para fazer frente à ameaça comunista à época. Finalmente, questiona o por que os militares não pedem desculpa à Nação Brasileira pela intervenção política em 1964 e pelos crimes que teriam cometido em nome da preservação da segurança nacional.

Miriam Leitão é uma repórter e consultora em economia da Rede Globo, por sinal uma empresa de comunicação social que conseguiu ter a supremacia da comunicação no Brasil por ter sido aliada e defensora dos governos militares. É uma jornalista que, enquanto os seus patrões permitirem, tem o direito de externar suas opiniões e tentar vender a sua visão de mundo. Aceitar essa visão ideologicamente comprometida com a ótica da revolução do proletariado é uma opção de quem a assiste. É bom lembrar que, na mesma empresa, Alexandre Garcia, repórter com maior visibilidade que a jornalista citada, tem opinião muito diversa sobre o que foi o período 64-85 e, vez por outra, externa suas ideias.

As respostas dadas pelo Ministro da Defesa foram coerentes com o que o mesmo representa e os interesses que defende que, certamente, não são compatíveis com os valores e crenças dos militares em geral. Por sinal, o Brasil é um país peculiar. Sem uma tradição republicana consolidada criou um presidencialismo de coalisão, tem um partido no poder que, em tese, deveria representar os trabalhadores e o mesmo se alia com o que mais podre existe na dita classe exploradora do proletariado. O partido que governa, em um estado democrático de direito, afronta abertamente a maior instância do poder judiciário e tem como ministro da defesa um diplomata.

A atividade militar e a diplomacia são, em princípio, complementares. O poder militar é uma forma de persuasão que auxilia a ação diplomática, porém esgotadas as possibilidade de resolução pacífica de um conflito internacional, resta a solução das armas. Por outro lado, a diplomacia auxilia o poder militar a buscar cooperação, equipamentos e parcerias que podem encurtar caminhos e evitar o agravamento de conflitos. Porém, são atividades que tem princípios e regras extremamente diversas. O absurdo de ter um diplomata à frente do Ministério da Defesa é o mesmo que ter um militar comandando o Itamaraty. Assim, as opiniões do Ministro da Defesa não devem ser consideradas por quem deseja ter uma visão equilibrada dos problemas militares no Brasil.

É importante salientar que as ações militares se dão em momentos de crise e como última opção política. Está implícito na opção do emprego militar o uso da violência por parte do Estado. Assim, esse emprego sempre é traumático e Instituições militares precisam de cultura sedimentada, confiança nos chefes, respeito da população e, principalmente, crença inabalável que ao cumprir as ordens recebidas estão cumprindo o seu dever para com a pátria. Em decorrência desses valores que são cultuados em qualquer exército, a cultura militar é vista como conservadora porque precisa manter crenças e valores não tão necessários para o meio civil. Não dá para ter um Exército de Sarney, outro de FHC e por fim o Exército do PT. Os governos são transitórios, atendem a interesse e conjunturas de momento, mas o Estado e as organizações militares permanecem no tempo e a nação sempre deve saber como elas reagirão em situações de crise.

A atividade política é sempre traumática e nunca terá a capacidade de atender a todos os interesses em jogo. É dito que a política é a arte de conciliar, momentaneamente, interesses contraditórios. Ressalta-se que essa conciliação dura até que o equilíbrio de forças seja rompido. Porém, é importante ficar claro que, institucionalmente, serão as Forças Armadas que deverão agir nas situações em que a ordem ou a manutenção do Estado esteja em risco.

Assim, sociedades que pagaram alto preço, em vidas humanas, em recursos e em desenvolvimento político e social preservam os seus Exércitos. Voltando os olhos para um passado recente, alguns países não pediram desculpas para seus nacionais, mesmo que durante operações militares tenha havido denuncias de abusos cometidos por forças militares. Podem ser citados a Grã Bretanha na intervenção na Irlanda, a França na Argélia, os EUA no uso da bomba atômica no Japão, nas guerras do Vietnam, nas invasões do Iraque e do Afeganistão, somente para citar alguns exemplos. Pode-se argumentar que os exemplos apresentados envolveram países com inimigos que não eram seus nacionais. É bom lembrar a conjuntura dos anos 60 e 70. Alguns nacionais, como os adeptos da luta armada no Brasil, buscavam a revolução internacionalista e o fim do Estado brasileiro como país independente. Daí surgiu o termo inimigo interno.

Bem, a Miriam Leitão e o projeto de ministro, ou sejam, os cães, podem ladrar quanto quiserem enquanto a caravana passa. Entre o que querem e pretendem e o que vai acontecer no mundo real há uma grande distancia. Mudanças efetivas no ensino militar, a revisão por parte das FFAA dos fatos históricos em que houve a participação de militares e o relacionamento com a tal Comissão da Verdade somente depende dos militares que estão no comando das Forças. Está mais que na hora de mostrarem os dentes. É fácil brincar com cachorrinhos de madame, mas com cães de guarda a brincadeira pode ter um desfecho não esperado. Desempenhar o papel de poodle ou rottweiler é uma opção para quem está no serviço ativo das FFAA e têm o controle das armas. Conforme um dito muito ouvido nos quartéis.

QUEM TEM ARMAS AUTOMÁTICAS NÃO PRECISA DAR MUITAS EXPLICAÇÕES.

SELVA!!!!!!!



Fonte: TERNUMA

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