Por Percival Puggina
Se você reparar bem,
a cada abalo que o governo da presidente Dilma registra em sua sacolejada
escala Richter, segue-se algum plano mirabolante ou algum anúncio bilionário
destinado a acalmar as ondas. Seja o abalo moral ou político, a reação oficial
vem sempre de um ou de outro modo. Ora o governo anuncia providências
estruturais que não funcionam (como essa de intervir no futebol e estancar a
evasão de atletas para o exterior), ora reúne o ministério, os governadores, a
imprensa, o empresariado, os movimentos sociais e informa que está destinando
bilhões de reais para isto ou para aquilo.
Convenhamos, é um modo estranhíssimo de governar. É
injustificável que, completados 93% de seu mandato e enquanto transcorre o 12º
ano de gestão petista, o país ainda esteja sendo governado aos trambolhões, ao
arbítrio do momento e seguindo o juízo das necessidades impostas pelas
oscilações do Ibope. De modo especial, tais improvisações parecem incompatíveis
com o perfil segundo o qual a presidente foi repassada aos votantes no mercado
eleitoral de 2010. São bilhões para cá e para lá, saídos do nada e conduzindo,
na vida real, a coisa alguma. É o que se poderia chamar de capital volátil. Faz
lembrar aquelas maletas pretas dos filmes de ação, que supostamente deveriam
conter vultosas quantias, mas estão recheadas de jornais com notícias antigas.
De fato, são eventos que, a despeito da pompa e circunstância, logo se tornam
coisas esquecidas, cuja função se exauriu no momento de cada anúncio. E de nada
vale ficar cobrando serventia maior para algo concebido apenas para ser
divulgado.
Em plena campanha de 2010, a presidente anunciou para Porto
Alegre o atendimento das duas principais reivindicações do Rio Grande do Sul: a
duplicação da Travessia do Guaíba e o metrô. Nada. Só muito recentemente,
quando seu governo já olha para inexorável ampulheta, ocorreu (solene, sempre
solene) a assinatura do contrato para construção da Travessia. Ou seja, no
Brasil, coisa alguma. E o metrô? Saiu de pauta para retornar, provavelmente,
durante a campanha eleitoral. Não foi diferente, país afora, com o conjunto que
se tornou conhecido como "as obras da Copa". O quadro é o mesmo em
todas as 12 capitais distinguidas com privilégio de sediar os jogos do já
malvisto torneio. O adjetivo "malvisto" se aplica à sua realização
aqui, com dinheiro do povo brasileiro. Em qualquer outro lugar é um bem
aguardado evento. No Brasil, representa uma inversão na escala das prioridades
nacionais, que transcorre em meio a obras paradas, atrasadas, incompletas por
motivos técnicos e financeiros.
Em fevereiro deste ano, o jornalista Augusto Nunes desfiou
em comentário o extenso conjunto de não-realizações do governo Dilma. Entre
elas o também malvisto trem-bala, que - felizmente! - dorme em alguma gaveta
muito antes de entrar na fase dos dormentes. Entre muitas outras, também
sesteiam nas prateleiras as anunciadas seis mil creches, as seis mil casas para
os flagelados de cheias no Rio de Janeiro, os seis mil caminhões-pipa para
resolver a falta de água de beber na região da seca e o fim da miséria com data
marcada para terminar no início de 2015.
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