Por Percival Puggina
Não vou escrever sobre o jogo. O futebol já tem cronistas em
quantidade e qualidade suficiente. Interessa-me o jogo entre Brasil e Alemanha
numa outra perspectiva.
Entendo que muitos ainda chorem ante o fracasso da turma do
Felipão. Mas é preciso ponderar: aquilo que assistimos foi, apenas, um jogo de
futebol. Não era o Brasil que estava ali. O Mineirão, na última terça-feira,
era uma ilha cercada pelo Brasil real, por um Brasil que tem muito mais com que
se preocupar. Pessoalmente, rezo para que as lágrimas que lavaram tantos rostos
pintados de verde e amarelo não levem consigo um amor à pátria comum que
habitualmente começa e termina em dois tempos de 45 minutos.
O Brasil perdeu. Perdeu? Não tenho tanta convicção assim.
Como escrevi em registro postado no facebook tão logo encerrou-se a partida, o
futebol não pode ser, em si mesmo, um objetivo nacional. O Brasil tem muito
mais a ganhar, por vias melhores. E tem muito a perder se continuar pelos caminhos
em que tem andado. Teremos aprendido isso? Se aprendemos, não perdemos.
Nos últimos meses, muito se discutiu, muito se escreveu
sobre a Copa e sobre a conveniência de sua realização no Brasil. Pois bem,
caros leitores, o momento da derrota se mostra oportuno para avaliarmos o
quanto o evento e suas circunstâncias são fúteis e transitórias. Hospedar o
circo da FIFA, a cadeia produtiva do futebol espetáculo, desembolsando para
isso recursos bilionários é um luxo a que só se podem entregar nações ricas onde
não falte o essencial para parcelas imensas de suas populações. A derrota de
terça-feira evidenciou que a festa, num átimo, deixou de ser nossa. Tornou-se
totalmente alheia a nós. Em extravagante inversão de prioridades, teremos
apenas assinado a nota e patrocinado a festa da FIFA.
O Brasil perdeu. Perdeu? Penso que não, se aprendemos a
lição segundo a qual devemos usar a democracia para: a) escalar bem nossa elite
dirigente; b) sermos internamente solidários; c) buscarmos a competência
necessária para que nossos acertos superem largamente nossos erros; d)
identificarmos tudo que nos amarra, que nos prende os pés, que limita nossa
velocidade, que nos faz ser menos objetivos e eficientes do que podemos e
devemos. São tantos, tantos mesmo, os fundamentos que faltaram à seleção! E,
não por coincidência, são os mesmos que faltam ao nosso país. Muita tatuagem,
muita brilhantina e pouco brilho, muita malandragem, muita publicidade. E pouco
futebol.
Mesmo sabendo disso tudo, tendo reprovado sempre a
imprudente decisão de trazer a Copa (e ainda importamos os Jogos Olímpicos para
o precário horizonte de 2016!), eu quis a vitória para o Brasil. Espero, agora,
que a constrangedora derrota tenha proporcionado à nação, envolta em ficção,
sob tanta fantasia publicitária, um sofrido mas proveitoso encontro com a
realidade.
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