Por Percival Puggina
O preceptor de um jovem imperador chinês acompanhava seu
divino discípulo num passeio pelo campo. Em certo momento, avistando um grupo
de animais, resolveu verificar o conhecimento da criança e indagou: “Que
animais são aqueles?”. O menino observou atentamente a cena e disse que eram
carneiros. “O Filho do Sol respondeu com exatidão”, admitiu o mestre. “Contudo,
devo acrescentar que esse tipo específico de carneiro é mais conhecido como
porco”.
Lembro-me dessa
estória frequentemente ao acompanhar notícias sobre as incessantes idas de
nossos governantes a Cuba e ao observar a iconografia vermelha dos eventos
promovidos pelos partidos e movimentos de esquerda. Deixando de lado os
retratos de Lênin, as foices e os martelos – por demais óbvios – bem como as louvações
ao MST e seus métodos e os aplausos às FARC, atenho-me, especificamente, ao
mais disseminado de tais símbolos: a estampa de Che Guevara.
Todo mundo sabe que
Guevara foi um guerrilheiro comunista, com atuação internacional. E todo mundo
sabe que ele não era ator, nunca foi a Hollywood, não cantava, não jogava bola,
não dançava funk nem era de pagode, nunca apareceu em novelas da Globo e jamais
disputou eleições. Ele era exatamente isto: um guerrilheiro comunista com
atuação na América Central, na América do Sul e na África. Por conseqüência,
assim como ninguém pode ser admirador de Pelé detestando futebol, todo culto a
Che Guevara só pode significar uma adoração aos objetos de sua ação: o
comunismo e a revolução como instrumento para chegar ao comunismo. Outras
explicações para o mesmo fato precisariam ser buscadas num divã de analista de
linha freudiana.
Nessas
circunstâncias, todo aquele que ande por aí exibindo sua veneração a Che
Guevara, ou que, não sendo cubano, desfralde a bandeira de Cuba (gesto
equivalente), pode falar quanto quiser sobre democracia. Nesse caso, porém, o
interlocutor, seguindo a prudente fórmula do mestre chinês, deverá observar: O
dileto amigo tem toda razão em expressar suas convicções democráticas pois
democracia faz bem. Devo adverti-lo, contudo, para o fato de que esse tipo
específico de democracia que tanto o seduz é vulgarmente denominado
totalitarismo.
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