Por Carlos I. S. Azambuja
Este é um tema complexo, que pode ser abordado de várias
maneiras. Eis uma síntese das idéias que se combinam na teoria marxista da
revolução proletária
Inicialmente, a de que o caráter opressor da sociedade
capitalista, é assentada, segundo Marx, em uma economia baseada na exploração
do homem pelo homem, sujeita a crises cíclicas e com tendência ao declínio. Uma
economia que não pode ser reformada e que deve ser suprimida.
Em segundo lugar, a definição de que a luta de classes é o
motor da História, pois a Historia, desde os primórdios da civilização, nada
mais tem sido do que o relato da luta de classes; que o sujeito revolucionário
fundamental, o proletariado, jamais obterá uma melhoria global e definitiva em
suas condições de vida e trabalho a não ser pela supressão do capitalismo.
Pelos seus interesses históricos objetivos e pela sua força social, a classe
operária foi definida por Marx como o sujeito revolucionário fundamental, capaz
de emancipar-se e a toda a humanidade.
Outro aspecto da teoria marxista revolucionária é o que se
refere ao Estado da sociedade capitalista, que Marx definiu como um aparato de
dominação a serviço da burguesia, que não pode ser reformado, transformado ou
utilizado pelo proletariado. Tem que ser destruído pela revolução proletária,
que construirá outros organismos – administração pública, órgãos policiais,
Forças Armadas e aparelhos ideológicos do Estado – que permitirão o exercício
do poder pelos trabalhadores e conduzirão à passagem do capitalismo ao
socialismo. Esse novo Estado foi definido por Marx como “ditadura
revolucionária do proletariado”, do mesmo modo que no capitalismo o Estado é
uma “ditadura da burguesia”.
Outra questão central na teoria marxista da revolução
proletária é a necessidade da construção de um partido revolucionário que
introduza, desde fora, no proletariado, a consciência de classe, pois, sozinho,
ele é incapaz de adquirir essa consciência.
Posteriormente, a obra de Lênin implementou, de forma
decisiva, a teoria marxista do Estado e do partido.
Finalmente, temos a concepção de Marx do que seria a
sociedade comunista: uma sociedade sem classes, sem Estado, sem divisão social
do trabalho, onde este deixaria de ser um meio de ganhar a vida para tornar-se
uma fonte de realização dos indivíduos. Uma utopia...
A teoria marxista da revolução proletária define, assim,
como necessidade objetiva a supressão da sociedade capitalista, a ser realizada
por uma revolução proletária, dirigida por um partido revolucionário, que daria
origem a um Estado de novo tipo e iniciaria a construção da sociedade
socialista, preâmbulo da sociedade comunista.
Após mais de 150 anos do Manifesto Comunista, esse projeto
não se tornou viável nos países capitalistas. Pelo contrário, o comunismo ruiu
onde quer que tenha sido implantado pela força das armas, restando Cuba e
Coréia do Norte para demonstrar o que, segundo a doutrina marxista, não é o
comunismo.
E mais: nos países capitalistas o modo de produção não
marxista foi sedimentado e a classe operária – apontada como sujeito revolucionário
fundamental – obteve sensíveis e constantes melhorias em suas condições de vida
e trabalho, está organizada em sindicatos e nunca teve perspectivas
revolucionárias, apesar da insistência do partido da classe operária e de seus
militantes de classe média predominantemente urbana.
Todavia, o fato mais inquietante e questionador das idéias
de Marx e seus epígonos é o de que, onde quer que o capitalismo tenha sido
momentaneamente suprimido – sempre pela força das armas e não pela força dos
argumentos da doutrina e nem pela força do voto – não se seguiu o regime de
democracia operária imaginado por Marx e nem, pelo menos, um processo de
construção do socialismo que tenha avançado em direção a ele.
O tal partido revolucionário do proletariado expropriou o
proletariado do poder político, a burocracia apropriou-se do partido
revolucionário e dos meios de produção e impediu qualquer progresso no sentido
do dito socialismo. Em lugar da liberdade e da fonte de realização dos
indivíduos, foram erigidos os gulags e os hospitais psiquiátricos.
Fonte: Alerta Total
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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
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