Guilherme Fiuza – Revista Época
Mais atrasados que os preparativos para a Copa do Mundo, só
os protestos contra a Copa do Mundo. Enquanto o vexame era gestado, não houve
passeata. Foram sete anos de preparação para a bagunça com requintes de
exibicionismo - como a gerente de negociatas Rosemary Noronha cuidando dos
aeroportos brasileiros. Ninguém foi para a rua gritar contra nada disso, estava
tudo bem. Terminada a feira de omissões, desvios, picaretagem implícita e
explícita, desmentidos mentirosos e remendos constrangedores, os
revolucionários avisam que não vai ter Copa.
Alguém precisa avisar aos quixotes retardatários que vai ter
Copa. E a Copa começará em 12 de junho, Dia dos Namorados. Os rebeldes contra
tudo isso que aí está terão mais chances de êxito se forem desfilar na porta
dos motéis, no dia 12, gritando: "Não vai ter cópula".
Onde estavam esses brasileiros indignados quase um ano
atrás, quando o Congresso Nacional, num de seus biscates para o governo
popular, engavetou o pedido de CPI da Copa? Não se viu um mascarado, um ninja,
um sindicalista, um grupelho do Facebook interrompendo o trânsito ou a rotina
tranquila dos nobres parlamentares. No golpe do corintiano Luiz Inácio, de mãos
dadas com as distintas CBF e Fifa -que desclassificou o Morumbi e arrancou R$ 1
bilhão do BNDES para erguer um Itaquerão novo em folha -, também não se ouviu
um único justiceiro gritando que não teria Copa. Ali, ainda havia três anos
pela frente para melar a competição internacional por improbidade
administrativa.
Mas não havia o essencial: o circo da Copa montado para os
revolucionários desfilarem diante dos flashes e holofotes, com o Brasil e o
mundo vendo. Mobilização na baixa temporada dá muito trabalho e pouca mídia. É
bem melhor chutar e socar o ônibus que leva a Seleção Brasileira para a
preparação final na Granja Comary, a duas semanas do início da Copa. Aí, a
revolução não tem como passar despercebida.
O mais interessante no vandalismo contra o ônibus da Seleção
no Rio de Janeiro foi a comissão de frente do protesto: os autores dos socos e
chutes eram professores. É a imagem-síntese dessa corrente "Não vai ter
Copa". Que outra cena poderia expressar melhor a estupidez e a ignorância
de um movimento do que professores falando o idioma da pancada? O slogan
poderia ser até substituído por "Não vai ter aula", ou "Aulas
nunca mais", porque não se pode conceber que essas criaturas sejam capazes
de ensinar nada de útil a ninguém. No máximo, poderão ensinar seus métodos ao
sindicato dos leões de chácara.
Dilma Rousseff declarou que os aeroportos nacionais não são
"padrão Fifa", mas "padrão Brasil", É comovente ver uma
governante (ou governanta), num jato de sinceridade, admitir publicamente que
seu projeto nacional é a pindaíba. Ou melhor: a pindaíba para a população
ordinária que não tem estrelinha no peito - porque o caixa do PT, como se sabe,
está forrado, e os companheiros passam muito bem, obrigado. Saibam os críticos
que os aeroportos padrão Brasil não chegaram a esse nível de excelência do dia
para a noite, não. Foi necessário um longo trabalho de parasitismo comandado
por Rosemary na Agência Nacional de Aviação Civil, para postergar a
privatização do setor, de modo que ele não prejudicasse o balcão de negócios
privados e o tráfico de influência, sob o comando firme da protegida de Lula e
Dilma.
A conquista do padrão Brasil/PT para os aeroportos e para a
infraestrutura nacional como um todo - incluindo as ruínas do setor elétrico e
da Petrobras - tem, como sócios fundadores, os militantes do movimento
"Não vai ter Copa". Se sua revolta contra o derrame de dinheiro
público nos estádios bilionários é real, se sua ira contra a vagabundagem
governamental na preparação viária do país é real, eles contribuíram
decisivamente para o desastre com sua omissão nesses anos em que ele foi
gestado. Mas, se o movimento for um rebotalho de oportunistas, lunáticos,
malandros sindicais e espíritos de porco em geral, está no seu papel perfeito.
Depois de toda a permissividade do país com a orgia da
montagem da Copa, vêm essas almas penadas querer embargar o único inocente da
história - o futebol. Viva Neymar, e abaixo os parasitas padrão Brasil!
Fonte: A Verdade Sufocada
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