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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Gatunocracia ou Roubocracia?

Por Márcio Accioly
 
Apesar de todos os pesares (e malgrado distorções e diferenças), forçoso é reconhecer a enorme contribuição oferecida pelo Brasil no ramo da ciência política. Somos país admirável, com uma economia que por vezes se apresenta como a sétima do mundo, mas que, em ocasiões, aparece como garantida em sexto lugar. Tudo isso, num rincão onde pouquíssimos são os que estudam ou leem, país dominado pela ignorância crônica e analfabetismo funcional que servem como modelo e exemplo ao mundo.

O Brasil é, talvez, o único lugar do planeta onde o sistema democrático foi revirado e adaptado, traduzindo-se de forma concreta e clara, ao bom observador, numa gatunocracia ou roubocracia que se expõe com toda clareza àqueles que conseguem chamar as coisas pela correta designação. Vivemos num sistema de faz-de-conta, onde os que se mostram no comando administrativo nada mais fazem do que se locupletar de maneira clara e direta, mascarando ações deletérias na maior cara de pau!

Recentemente, nos EUA, um cidadão que foi presidente de uma sociedade de investimento, Bernard Lawrence Madoff, praticou uma fraude financeira de 65 bilhões de dólares, sendo preso pelo FBI, em dezembro de 2008, e condenado pelo juiz federal Louis L. Stanton a uma pena de 150 anos.

Morasse no Brasil, o larápio norte-americano de 76 anos de idade seria perdoado pela presidente, Dilma Roussef, que indultou o juiz Nicolau dos Santos, vulgo Lalau (na última semana), preso por ter desviado R$ 169,5 milhões da obra de construção do fórum do TRT de São Paulo. Com 85 anos de idade, Lalau ficou com mais da metade do dinheiro surrupiado. Madoff morrerá na cadeia, submetido às mesmas regras vigentes para os condenados por crimes assemelhados.

O que dizer de Maluf, larápio do mesmo naipe, detentor de mandato parlamentar e passaporte diplomático, mas sem poder colocar o pé fora dos limites nacionais, pois será preso e recambiado para Nova York onde a Justiça norte-americana quer submetê-lo a julgamento por lavagem de dinheiro? Quando uma sociedade determina que todos são iguais perante a lei, a segurança das instituições torna a qualidade de vida mais palatável, na certeza de que regras e determinações devem ser cumpridas.

No Brasil, é público e notório que o contínuo assalto aos cofres públicos enriquece os que se situam em todos os escalões da esfera administrativa, na absoluta certeza da impunidade. Os casos flagrados e documentados pululam nas prateleiras do Judiciário, favorecidos por recursos intermináveis. A maioria significativa dos que elaboram as leis se especializaram em criar brechas que fazem processos se arrastarem por anos sem fim, criando sentimento de frustração social que qualquer dia irá eclodir em desordem generalizada. Eles não perdem por esperar.

Os nossos gatunocratas (ou roubocratas) conseguiram ficar tão parecidos no modus operandi que, em qualquer disputa eleitoral, a grande dificuldade é adivinhar quem irá roubar menos, permitindo, dessa forma, escolha que reduza sobressaltos. As alternativas são pobres. As eleições se processam na compra aberta de votos e concessão de favores, com o aparato estatal patrocinando crimes e falcatruas. Ninguém é punido.

As CPIs que se anunciam falecem em acordos espúrios nos quais o cipoal de ações desonestas encaminha barganhas vergonhosas em todos os quadrantes. Os principais envolvidos desconhecem o nível de saturação da sociedade massacrada e humilhada por aqueles que deveriam apresentar soluções e oferecer exemplos.

A roubocracia brasileira vai sucumbir no esgotamento da caixa de truques de irresponsáveis protagonistas. As pilastras se esfarelam e já ameaçam ruir.


Fonte: Alerta Total


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Márcio Accioly é Jornalista.

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