Por ucho.info
Corpo estranho – Há algo errado nas coxias do Partido dos
Trabalhadores. No último dia 3 de maio, em São Paulo, durante o XIV Encontro
Nacional do PT, o ex-presidente e agora lobista Lula disse diante de plateia
petista que a única candidata à Presidência pelo partido era Dilma Rousseff. A
declaração, nada convincente, serviu para estancar momentaneamente o movimento
“Volta Lula”, que saiu dos domínios petistas e conquistou alguns partidos da
chamada base aliada.
Manda o bom senso que uma declaração como a de Lula, feita
diante de Dilma e muitos integrantes da cúpula partidária, deve ser levada a
sério. Acontece que o prazo de validade da declaração do ex-metalúrgico era
curto e a cantilena retomou a cena política. É fato que isso não aconteceu na
seara política, propriamente dita, mas na mais recente pesquisa Datafolha sobre
a sucessão presidencial.
Em uma das simulações sobre quem venceria a corrida presidencial,
o instituto inseriu Lula como sendo o candidato do PT, no lugar de Dilma. Ora,
se o ex-presidente descartou oficialmente qualquer possibilidade de retorno ao
palácio do Planalto, não havia motivo para o Datafolha colher a opinião dos
eleitores sobre um cenário alternativo.
Que Lula trabalha diuturnamente contra a reeleição de Dilma
Rousseff todos sabem, mesmo depois da recente declaração negando o fato, mas
essa novidade na pesquisa do Datafolha tem duas interpretações: ou o
ex-presidente continua de olho no principal gabinete do Palácio do Planalto ou
o instituto de pesquisa abusou do non sense.
De uma forma ou de outra, a inserção do nome de Lula em um
dos cenários da pesquisa foi um ato de deselegância com Dilma e um sonoro
desrespeito à democracia, uma vez que as outras pré-candidaturas já estão
definidas. O máximo que se pode concluir é que o PT fomentará esse jogo duplo
por mais algumas semanas, sendo que ao final pedirá à sua militância que
despeje voto em Dilma.
Até 30 de junho, quando a candidatura petista será
oficializada, o Partido dos Trabalhadores poderá manter essa estratégia
rasteira e covarde, em Lula aparece como vilão e Dilma faz o papel de vítima.
Lula sabe que a essa altura, com a economia descontrolada e
os escândalos de corrupção brotando aqui e acolá, assumir o lugar de Dilma na
corrida presidencial seria um enorme tiro no pé, pois nem mesmo seus discursos
embusteiros seriam capazes de driblar os efeitos colaterais da crise.
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