Foto: Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Até os tufos de grama dos estádios superfaturados sabiam que
a Copa do Mundo tem tudo para virar um tremendo programa de índio. Mas nem o
mais finório dos cartolas poderia imaginar que, nesta terça-feira, os antigos
donos da terra conseguiriam piorar o que já parecia exemplarmente ruim. Como
informa o site de VEJA, a proeza foi consumada pelo inverossímil duelo que
opôs, nas cercanias do Estádio Mané Garrincha, uma tropa de 400 índios a um
pelotão formado por 500 integrantes da PM de Brasília.
Segundo os caciques de uma certa Mobilização Nacional
Indígena, os combatentes recrutados em 100 tribos distintas pretendiam apenas
“entregar uma taça de sangue” a algum figurão do governo federal, num ato de
protesto contra mortes de caciques atribuídas a policiais. Os planos mudaram
quando os guerreiros que misturavam cocares com tênis ou saiotes típicos com
calças jeans toparam com o bando de civis que marchavam sobre uma das arenas
mais caras do mundo para outra manifestação contra a gastança da Copa.
Para impedir que os inimigos se aproximassem do local onde
estava exposta à visitação pública a taça que será entregue ao vencedor do
certame, soldados a cavalo e índios pintados com as tintas da guerra
protagonizaram a versão brasileiríssima de um espetáculo que só pode ser visto
em velhos filmes de faroestes ou na Disneyworld. Com uma diferença essencial:
eram reais tanto as bombas de gás lacrimogêneo e as balas de borracha usadas
pela PM quanto os arcos e flechas sobraçados pela infantaria da selva. No
Twitter, a página do Conselho Indigenista Missionário garantiu que três índios
foram feridos. Uma foto exibida pela PM atesta que pelo menos um fardado foi
atingido por uma flechada.
As imagens do conflito, transmitido ao vivo por emissoras de
TV e noticiado com merecidíssimo destaque pela imprensa internacional, vão
exigir acrobacias retóricas especialmente ousadas dos espertalhões que miraram
nas urnas e acertaram o próprio pé. Principal responsável pela transformação do
Brasil em província provisória da Fifa, Lula logo estará recitando mais uma
vigarice panglossiana. Talvez enxergue no episódio uma prova contundente de que,
ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, aqui os índios são uma espécie
em expansão. Talvez prefira jurar que tudo não passou de uma inventiva
homenagem a Garrincha, o mais famoso descendente de índios da história do
futebol.
Foto: Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados
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Se os caçadores de votos são forçados a correr atrás do
prejuízo, os mais notórios caçadores de dólares já dormem em paz. “O que tinha
que ser gasto, roubado, já foi”, informou há poucas horas Joana Havelange. Eis
aí o que se pode qualificar de “fonte bem informada”. Mais que integrante do
comitê local da Copa, Joana é filha de Ricardo Teixeira, que hoje gasta em
Miami o que embolsou enquanto presidiu a CBF, e neta de João Havelange, o
ex-chefão da Fifa que transformou a dona do futebol mundial na Casa da Moeda
dos Supercartolas. Esses se afastaram da cena do crime antes da chegada do
camburão.
Continuam em ação os que, além de muito dinheiro, querem
ganhar a eleição. De olho na divisão do produto do roubo, podem perder a chance
de escapar. Eles nunca estiveram tão perto de cair fora do poder.
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