Por Percival Puggina
Doutor Honoris Causa significa "doutor por causa da
honra". Nosso ex-presidente Lula abiscoitou, em Salamanca, o 27º desses
diplomas. Todos por causa da honra. De Salamanca foi a Lisboa, comemorou os 40
anos da Revolução dos Cravos e concedeu uma entrevista à RTP - Rádio e
Televisão de Portugal que deve ter escandalizado seus companheiros na Papuda.
Vão-se os amigos, mas se conservam os dedos, ora pois.
Em trecho da matéria (basta procurar no YouTube por
"entrevista de Lula à RTP"), a repórter o indaga sobre o fato de
"pessoas de sua confiança" terem sido presas. E Lula buscou salvar a
própria pele: "Não se trata de gente de minha confiança". Acrescentou
à fala um gesto como que afastando de si os condenados e tentou arredondar:
"Tem companheiros do PT presos". Ele estava falando de Dirceu,
Genoino, Delúbio! E por aí foi desandando o grande ídolo do petismo nacional,
acusando o STF de haver produzido um julgamento 80% político e concluindo com
uma frase bem ao gosto do seu auditório caseiro: "Essa história ainda vai
ser recontada, para saber o que aconteceu na verdade". Pelo jeito vem aí
outra comissão da verdade...
No entanto, a melhor frase em toda a entrevista foi: "O
que eu acho é que não houve mensalão". Pronto! Com essa sacada no
repertório das esquivas afastou de si a sombra do maior escândalo da história
da República. Ele estava afirmando que não pode ser atingido por algo que
"acha" que não houve. Entretanto, vejamos como ficam as coisas se o
mensalão não aconteceu. Os muitos milhões que circularam por agências de
publicidade e bancos durante quase dois anos não teriam chegado aos líderes de
bancada que atualmente estão presos. Se o dinheiro não chegou a eles e, por
meio deles, a parlamentares dos respectivos bancados, então o ervanário se
desfez no ar porque, materialmente, existiu. Existiu, foi lavado, foram
assinados cheques e recibos, foram transportados valores, e há banqueiros e
empresários condenados a penas ainda maiores do que as que atribuídas aos réus
políticos.
Mais, se há no STF um ministro cuja lealdade ao governo
ninguém põe em dúvida é o Dias Toffoli. Pois mesmo ele, com a parceria de
Ricardo Lewandowski, ao apreciar o crime de corrupção passiva imputado a nove
réus do mensalão, condenou sete dos acusados! E assim foram os dois ministros,
em relação aos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, peculato e
evasão de divisas. Sempre condenaram a vários no processo do Mensalão. Por um
crime que não aconteceu, doutor Lula?
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