Três senadores da Comissão de Direitos Humanos (CDH)
conversaram na manhã desta terça-feira com o caseiro Rogério Pires, que,
segundo a Polícia Civil do Rio, teria confessado participação no assalto que
resultou na morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães. De acordo com
os senadores, Pires apresentou uma versão diferente daquela prestada à Divisão
de Homicídios da Baixada Fluminense (DH-BF) no dia 29 de abril. Na conversa com
os senadores, o caseiro negou ter participado do assalto à casa do coronel.
“Ele demonstrou firmeza. Vamos solicitar uma cópia do
inquérito e do depoimento dele à Polícia Civil”, disse a senadora Ana Rita
(PT-ES), que estava acompanhada do presidente da Comissão da Verdade do Rio,
Wadih Damous, e dos senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP). “Ele (o caseiro) é analfabeto e não tem advogado. Vamos pedir um
defensor público para ele”, disse Damous.
De acordo com a versão apresentada aos senadores, Pires não
participou nem planejou o crime, mas reconheceu os irmãos Anderson e Rodrigo
Pires como autores. Segundo ele, os dois chegaram ao sítio, na área rural de
Nova Iguaçu (cidade na Baixada Fluminense) por volta das 10h no dia do
assassinato (24 de abril). Malhães só teria chegado ao imóvel três horas
depois. Durante o assalto, os criminosos teriam se comunicado por telefone com
uma pessoa que estava fora da casa, disse o senador Randolfe Rodrigues. Os
parlamentares pedirão proteção para o caseiro e a família dele, além da viúva
Cristina Batista Malhães.
Os senadores contestam a condução da Polícia Civil sobre o
caso. Para os parlamentares, a hipótese de queima de arquivo também deve ser
investigada. “Entendemos que este assassinato, após o depoimento (na Comissão
da Verdade, em março), tem indícios de que foi em função disso e que ele tinha
muitas informações a prestar. Não descartamos a possibilidade de queima de
arquivo”, disse Ana Rita.
Antes de receber autorização para conversar com o caseiro, o
senador Randolfe afirmou que “é evidente a má vontade do Estado do Rio com este
caso”. Para Ana Rita, “é fundamental ouvir o preso” porque Pires teve contato
direto com Malhães, torturador confesso de presos políticos durante a ditadura
militar. Ainda nesta terça, o grupo
conversará com o chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso. Eles
reiteraram o pedido feito ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para
que o caso seja acompanhado pela Polícia Federal. Para o presidente da Comissão
da Verdade do Estado, Wadih Damous, “falta boa vontade da Polícia Civil do
Rio”.
“A participação da Polícia Federal ampliará o
escopo da investigação. Continuamos entendendo que não é um crime banal, mas de
um importante agente da ditadura que nos últimos tempos começou a revelar
coisas até então desconhecidas da população”, afirmou. ”Malhães foi o primeiro dos mais importantes
torturadores que expôs as mazelas da ditadura e, inclusive, falou sobre o
comando, mostrando que as ordens para desaparecer com os corpos vinham
diretamente do Palácio do Planalto”, disse o senador João Capiberibe
(PSB-AP). Um mês antes de ser
assassinado, no dia 24 de abril, Malhães prestou depoimento para a Comissão da
Verdade em que confessou ter participado do desaparecimento do corpo do
ex-deputado Rubens Paiva.
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