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domingo, 6 de abril de 2014

NA VEJA DESTA SEMANA – Tchau, ex-deputado André Vargas! Vai renunciar agora ou aguarda a cassação do mandato?

Em seu blog, André Vargas exibe suas amizades influentes; acima, em companhia de Dilma
Em seu blog, André Vargas exibe suas amizades influentes; acima, em companhia de Dilma
 Como lembra a “Carta ao Leitor” da edição de VEJA desta semana, costuma haver uma relação diretamente proporcional entre o ódio à liberdade de imprensa e o apreço pela lambança. Ou por outra: os que têm muito a esconder costumam ser os mais entusiasmados com a censura. E não seria diferente com o deputado André Vargas (PT-PR), ex-secretário nacional de Comunicação do PT, entusiasta do “controle social da mídia” (que é a expressão a que recorrem vigaristas para designar a censura), membro da tropa de choque que saiu em defesa dos mensaleiros e, por um bom tempo, chefe político da rede do subjornalismo delinquente que chama a si mesma, num rasgo de sinceridade, de “blogs sujos”. Pois é… O meteórico André Vargas meteu os pés pelos pés e foi flagrado pela Polícia Federal prestando serviços àquele que pode ser chamado, sem favor, de seu sócio: o doleiro Alberto Youssef, preso na operação Lava-Jato. O plano era encher o bolso de dinheiro, fazer a “independência financeira” às custas dos cofres públicos. Reportagem na edição de VEJA desta semana põe um ponto final na questão e, tudo indica, na meteórica carreira de Vargas. Parece que a questão agora é saber se ele renuncia já ou espera a cassação do mandato. Como se sabe, não existe mais voto secreto para proteger gente da sua estirpe.

Amigão de Youssef e “homem muito influente no PT”, Vargas era, nas hostes do governismo, como posso adequar o adjetivo à sua prática?, um fuçador de oportunidades de negócio para o doleiro, que sabia ser grato. Como informou a Folha, alugou um jatinho para levar o deputado e a família em viagem de férias à Paraíba. Custo do mimo: R$ 100 mil. O deputado folgazão definiu o agrado como “coisa de irmão”. Nem diga!

“Empresário” de múltiplos talentos, Youssef é dono de uma “empresa” de nome imponente: “Labogen Química Fina e Biotecnologia”. É um troço que existe no papel, não na vida real. Nem mesmo chega a ter planta industrial. Seu feito mais notável, até agora, segundo a Polícia Federal, é ter enviado para o exterior, de forma irregular, US$ 37 milhões.

Muito bem! Vargas, o parceirão de Yousseff, detectou no Ministério da Saúde, então sob o comando de Alexandre Padilha — agora candidato ao governo de São Paulo pelo PT —, a chance de um contrato milionário para fornecimento de remédio, coisa, assim, de R$ 150 milhões. Mas como é que a Labogen, uma biboca com capital social de R$ 28 mil e folha de pagamentos de R$ 30 mil, poderia se candidatar a tamanha grandeza? É para isso que servem os amigos. É nesse ponto que entrou André Vargas — leiam a reportagem da revista.

A síntese é a seguinte: a Labogen, mera empresa de fachada, conseguiu se associar à EMS, uma gigante na produção de genéricos, o que lhe conferiria um ar de seriedade, e pronto! Tudo resolvido. O diálogo captado pela Polícia Federal entre Vargas e Youssef não deixa a menor dúvida. O deputado petista relata a Youssef sua conversa com Pedro Argese, da Labogen e ouve um prognóstico do interlocutor:

VARGAS – Estamos mais fortes agora. Vi documento com o Pedro. Ele estava no voo de volta de Brasília. Ele estava com o documento da parceria com a EMS.
YOUSSEF – Cara, estou trabalhando. Fique tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro!

É claro!

Eis aí. Esse é o doleiro “irmão”, cujas atividades ilícitas Vargas dizia desconhecer. Da parceria estimada em R$ 150 milhões, uma já estava em curso, de R$ 31 milhões — suspensa pelo Ministério da Saúde quando o escândalo veio à tona: a de fornecimento de citrato de sildenafila, a substância ativa do Viagra, que é o remédio oficialmente empregado pelo sistema público de saúde para o tratamento de uma doença grave: a hipertensão pulmonar. Esse contrato contou com a ajuda do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Calos Augusto Gadhelha — a quem Vargas se refere, carinhosamente, num telefonema, como “Gadha”. Padilha, pessoalmente, assinou o contrato.
Relatório da PF fala do parceiro de Youssef que atuava no Ministério da Saúde. Depois ficou claro: era Vargas! 
Relatório da PF fala do parceiro de Youssef que atuava no Ministério da Saúde. Depois ficou claro: era Vargas!
Relatório da PF fala do parceiro de Youssef que atuava no Ministério da Saúde. Depois ficou claro: era Vargas!
Leiam a reportagem. A coisa vai longe. Youssef está preso, como sabem. O deputado está tentando se virar. Já mandou um emissário ao doleiro afirmando que, se ele, Vargas, cair, gente mais graúda vai junto, “gente de cima”. Huuummm… Quem estaria acima de Vargas nessa operação? Eis uma boa questão. E por que Youssef deveria temer essa “gente de cima”? Temer o quê?

Vargas não é o único interlocutor de Youssef no PT. Há outros, como o deputado Vicente Cândido (SP). Vocês já o conhecem. É aquele senhor que ofereceu “honorários“ para um conselheiro da Anatel livrar a Oi de uma multa bilionária. Disse, então, que falava em nome de Lula. Tudo gente fina.

Segunda-feira é bom dia para André Vargas pegar o boné e ir pra casa, refletir sobre os males da liberdade de imprensa. Afinal, até onde se sabe, ele já tem garantida a “independência financeira”. Leiam a reportagem na edição impressa na revista.

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