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terça-feira, 1 de abril de 2014

A caricatura do “reaça” como espantalho para fugir do debate


Há quem, incapaz de debater ou argumentar de verdade, esconde-se atrás do humor (ou tentativa de) e cria espantalhos para atacar os oponentes de ideologia. É o caso de Gregório Duvivier, o Greg. Em sua coluna de hoje na Folha, o comediante faz uma caricatura do “reaça” que, confesso, não despertou risos em mim, que sou uma pessoa com bastante senso de humor. É porque foi fraquinho mesmo o texto.
Mas a tentativa de fazer comédia com essa caricatura do “jovem reaça” acabou colocando em evidência a visão real que a esquerda caviar tem do jovem branco, heterossexual, cristão de classe média. É tempo demais vivendo em bolhas da elite “progressista”, no Leblon, no meio global, e a pessoa perde o contato com a realidade, adota uma visão totalmente distorcida do cidadão comum. Vamos ao ping-pong, ele em vermelho, eu em azul:

Aproveitando essa onda reaça que tá super-mega tendência, a gente está lançando toda uma coleção pra você, jovem reacionário, que quer gastar o dinheiro que herdou honestamente na sociedade meritocrática – apesar dos impostos, é claro.

Em primeiro lugar, de onde ele tirou que são todos herdeiros? Claro, não há mal algum em herdar bens, pois é um direito de quem cria riqueza escolher para quem deixar, e ninguém trabalha duro para deixar para o estado (duvido que o próprio Greg queira deixar sua fortuna em formação para os burocratas e políticos). E quem gosta de pagar altos impostos, ainda mais a fundo perdido? Duvido, novamente, que o Greg goste.

Mas mesmo assim, não é uma incrível falta de contato com a realidade? Os maiores herdeiros que conheço são da esquerda caviar, como o próprio Greg, como Verissimo, Chico Buarque e tantos outros. A direita que ele ataca com seu sarcasmo é basicamente formada pela classe média trabalhadora, espremida por tantos impostos e esmolas estatais.

Pode guardar a camiseta fedida do Che Guevara e raspar essa barba de Fidel. A moda guerrilheira é muito 2002. Quem tá com tudo neste outono é o jovem reaça. A moda é cíclica, gatinhos! Nesta estação, vamos aproveitar o aniversário da revolução democrática e tirar do armário a fardinha verde-oliva do vovô. E o melhor: não precisa nem limpar as manchas de sangue. Super orna.

A moda guerrilheira com camisas do porco assassino Che Guevara infelizmente nunca desaparece. Mas fardinha verde-oliva, caso o Greg não saiba, é a cara de outro porco assassino: Fidel Castro. Infelizmente, também é adorado ainda por uma legião de idiotas úteis, muitos deles herdeiros e da elite que Greg frequenta. Duvida? Pergunte à Letícia Spiller, ao Wagner Moura, etc.

O último grito do outono fascistão é defender os valores tradicionais e ressuscitar velhos chavões: direitos humanos para humanos direitos, bandido bom é bandido morto, Deus não fez Adão e Ivo.

Então defender valores tradicionais, como a importância da família (algo que o Clodovil, por exemplo, fazia), e demandar punição severa para criminosos é coisa de “fascistão” agora? É essa a visão que Greg tem da direita? A pessoa não pode, também, achar que homem e mulher é uma combinação mais natural e normal, ainda que aceite os casos de homossexualidade como parte da vida? É preciso enaltecer o gay, como se a pessoa fosse melhor só por gostar de gente do mesmo sexo?

Nossa coleção – que será lançada amanhã, no prédio do DOI-Codi- foi feita pensando em você, cidadão de bem, branco, católico, heterossexual, rico, com as pernas no lugar, funcionando direitinho. Você é o homem da minha coleção. Olha só esse soco inglês: é a sua cara. Vestiu bem, homem da minha coleção. Combina com sua correntinha.

O mais engraçado – e o humor do Greg é melhor quando involuntário – é o preconceito da esquerda caviar que finge não ter nenhum preconceito. O cidadão de bem, para essa gente, não existe, pois somos todos “iguais”, e o relativismo moral é sua marca registrada. O branco, católico, heterossexual, aquele que não goza de privilégio algum, que não tem nenhuma bolsa ou subsídio por não ser das “minorias”, esse é o vilão do Greg, o fascista violento.

Já o soco inglês Greg deveria vender para os black blocs, para a turma mascarada contra o “sistema”, defendida pela esquerda caviar. Se bem que eles preferem coquetéis Molotov e rojões assassinos mesmo…

O homem da minha coleção anda armado e se algum viado der em cima dele ele diz que atira na testa. O homem da minha coleção transa com travesti mas se arrepende logo em seguida e enche a bicha de porrada. O homem da minha coleção casou na igreja com a mulher da minha coleção num casamento celebrado pelo padre da minha coleção, homofóbico, racista e com um sotaque ininteligível apesar de nunca ter saído do Brasil.

A visão que Greg tem da direita é incrível. O estereótipo do “machão” que não passa de um gay enrustido, que transa com travecos escondido, ou um padre homofóbico e racista. Casal de classe média, fiel, cansado de tantos impostos, que frequenta a igreja aos domingos, isso não existe para nosso humorista Greg.

A mulher da minha coleção critica periguetes porque elas não se dão valor – chama isso de feminismo. Saia curta, nem pensar. “Depois reclama quando é estuprada…” A mulher da minha coleção acha que mulher gorda devia evitar sair de casa. “Ninguém é obrigado a ver gente obesa.”

Criticar piriguetes é coisa de “reaça” agora, viram só? Achar que meninas de 12 ou 13 anos não deveriam rebolar até o chão seminuas em bailes funks é coisa de “reaça” agora, viram só? Greg deveria estar tão desesperado para criar seu espantalho, no afã de fazer humor, que apelou até para a mentira de que essas mulheres “reaças” culpam a própria vítima pelo estupro. Quem? Onde?

Sobre as gordas, seria bom o Greg lembrar que a paranoia pelo corpo perfeito vem da própria esquerda caviar, das suas colegas globais, da turma do “detox”, dos “fascistas do bem” que vão, por meio do estado, cuidar de todos nós em prol da “saúde perfeita”. Quem condena “junk food” como se fosse coisa do capeta? Pois é…

A mulher da minha coleção finge que não sabe que é traída pelo homem da minha coleção e se vinga estourando o limite do cartão de crédito do homem da minha coleção que por sua vez finge que não sabe e se vinga saindo com outras mulheres da minha coleção.

Claro, o típico casal classe média é assim: traição o tempo todo. Os atores globais da esquerda caviar é que são diferentes, sempre fieis, com casamentos duradouros. Quem o leitor acha que preenche melhor o perfil desse espantalho criado pelo Greg: uma moça da esquerda caviar, rica e encantada com Che, ou a típica mulher da classe média brasileira?

Nosso it boy, claro, é o coronel Paulo Malhães, torturador chiquerésimo que deu depoimento à Comissão da Verdade usando um puta óculos escuros Prada de aro dourado, onde assumiu ter perdido a conta de quantos cadáveres ocultou. Divo. Viva a revolução – democrática.

Tinha que terminar com chave de ouro, lógico. Dar nome aos bois. Quem é o ícone dos “reaças”? O maluco com cara de Saddam Hussein que confessou ter torturado pessoas sem resquício de culpa. Notem bem: não é Ronald Reagan um potencial ídolo da direita democrática, mas um assassino obscuro da época do regime militar.

Eu sei que tudo isso era para ser apenas humor (pena que fracassou). Poderia ter ficado engraçado. Mas não sejamos ingênuos: o pessoal da festiva, incapaz de reagir com argumentos em debates sérios com a nova direita que surge no país, após tanto tempo de hegemonia da esquerda, apela para o humor como arma de ataque. Tenta criar espantalhos, fazer uma caricatura do “inimigo”, pois dessa forma não precisa mais lidar com os oponentes reais, de carne e osso, dessa direita.


Tenta, enfim, ridicularizar toda a direita como se fosse dessa forma descrita acima, um bando de malucos, hipócritas, traidores, reacionários e potenciais assassinos. O mais hilário, claro, é que devem fazer isso diante de um espelho, pois acabam descrevendo com muito mais fidelidade a própria turminha autoritária e hipócrita da esquerda caviar, gamada num uniforme verde-oliva e num cartão de crédito…

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