As cenas de prisões superlotadas, cercadas de violência e maus-tratos,
que foram vistas recentemente no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no
Maranhão, refletem os problemas de todo o sistema carcerário brasileiro. Dados
do Ministério da Justiça (MJ) mostram o ritmo crescente da população carcerária
no Brasil. Entre janeiro de 1992 e junho de 2013, enquanto a população cresceu
36%, o número de pessoas presas aumentou 403,5%.
De acordo com o Centro Internacional de Estudos
Penitenciários, ligado à Universidade de Essex, no Reino Unido, a média mundial
de encarceramento é 144 presos para cada 100 mil habitantes. No Brasil, o
número de presos sobe para 300. Essas estatísticas fazem parte da primeira
reportagem da série Prisões Brasileiras – Um Retrato sem Retoques, do Repórter
Brasil, que vai ao ar hoje (24), às 21h, na TV Brasil.
Ao Repórter Brasil, o diretor-geral do Departamento
Penitenciário Nacional (Depen), do MJ, Augusto Eduardo Rossini, explicou que o
aumento de esforços de segurança pública é um dos fatores determinantes para o
grande número de presos no Brasil. “Houve um esforço grande no sentido do
aparelhamento das polícias, para elas terem mais eficácia, não só eficiência”.
Atualmente, são aproximadamente 574 mil pessoas presas no
Brasil. É a quarta maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos
Estados Unidos (2,2 milhões), da China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil).
“Estamos inseridos em uma sociedade que, lamentavelmente, tem aquela sensação
de que a segurança pública depende do encarceramento. Se nós encarcerarmos mais
pessoas, nós vamos conseguir a paz no país. Se isso fosse verdade, já teríamos
conquistado a paz há muito tempo”, criticou Douglas Martins, do Conselho
Nacional de Justiça.
Dentro dos presídios, a reportagem constatou condições
precárias, como falta de espaço e de higiene, o que leva a uma série de
doenças, além de poucos profissionais de saúde para tratá-los. A violência é,
sobretudo, um dos grandes desafios dos gestores do setor. “O preso sofre
violência sexual, não recebe a alimentação adequada, morre no sistema
prisional. E como é que ele se sente mais seguro? É se associando a uma facção
do crime organizado. E isso transformou as facções, hoje, em verdadeiros
monstros no país”, explicou Martins.
Na outra ponta do problema estão aqueles que mantêm os
presídios funcionando, e que também têm queixas a fazer. “Fica uma categoria
sem valorização, sem prestígio, sem uma atribuição definida. Cada estado pode
inserir ou retirar atribuição, passar a atribuição para uma outra categoria que
não deveria fazer. Então, nós precisamos de uma organização maior, em nível
federal, do sistema prisional do país”, analisou o presidente do Sindicato dos
Agentes de Atividades Penitenciárias do Distrito Federal, Leandro Allan.
A série Prisões Brasileiras – Um Retrato sem
Retoques será exibida durante toda esta semana. Amanhã (25) e quarta-feira
(26), a reportagem abordará a superlotação, procurando entender sua estrutura,
motivos e a lentidão do Sistema Judiciário, que contribui para o inchaço nas
celas. Já na quinta-feira (27), a reportagem vai falar das mulheres presas e,
na sexta-feira (28), dos processos de ressocialização de ex-detentos no país.
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