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segunda-feira, 17 de março de 2014

Mendigos Tupiniquins

Por Flavio Quintela

Bolsa-Família, Bolsa-Leite, Bolsa-Casa, Bolsa-Geladeira, 
Bolsa-Presidiário, Bolsa-Eletrodomésticos, e por aí vai: 
somos o país dos Mendigos Tupiniquins.

O ser humano é extremamente frágil ao nascer. Chegamos ao mundo nus, analfabetos, desprovidos de linguagem articulada, quase sem mobilidade e totalmente dependentes dos adultos à nossa volta. A única coisa que sabemos fazer é chorar, na esperança de conseguir uma mamada a mais para saciar nossa fome. Ou seja, sabemos como pedir comida, e dormimos durante a maior parte do tempo, aquela em que não estamos pedindo ou mamando. É uma situação provisória (ou deveria ser); afinal, nascemos, crescemos, nos reproduzimos e morremos, como qualquer outro ser vivo.

Um adulto tem o físico muito mais desenvolvido do que o de um bebê. De pequenos seres imóveis enrolados em mantas da galinha pintadinha passamos a seres enormes que andam, correm, pulam, dançam etc. Até mesmo os portadores de deficiências físicas têm muito mais mobilidade que um bebê recém-nascido.

Mas e nossa mente? Ela também evolui bastante, pelo menos no caso de pessoas normais, não petistas. Nosso raciocínio, que se resumia a “teta = comida”, pode chegar a níveis de genialidade nas mais diversas áreas. Quem poderia imaginar que o bebê Einstein, que só sabia chorar, dormir e mamar, faria uma diferença tão grande na história da ciência?

Não podemos nos esquecer da linguagem. Aqueles sons indecifráveis, que depois passam a “gus” e “dás”, são incomparáveis à riqueza de vocabulário e à capacidade de comunicação e articulação de um adulto. Passamos de zero para milhares de palavras, que além de faladas podem ser escritas e lidas.

Agora quero fazer duas perguntas muito importantes:

1. Por que é que evoluímos em todos esses aspectos que mencionei quando crescemos e amadurecemos, mas muitos de nós não evoluem no que diz respeito ao hábito de pedir?

2. Por que o brasileiro pede tanto?

Embora eu não seja um expert no assunto, creio que posso esboçar uma única resposta para ambas as perguntas. Na verdade não é bem uma resposta, mas uma análise sob minha ótica, que desejo compartilhar com você. Nesta análise usarei como comparativo os Estados Unidos, país de um povo com uma cultura e uma mentalidade bastante distintas das nossas, mas poderia ter usado diversos outros exemplos de nações desenvolvidas.

Quando eu era criança, eu nunca recebi mesada. Mas alguns de meus amigos recebiam, e nenhum deles precisava fazer nada em troca, a não ser se comportar um pouco. E pelo que tenho visto na juventude de hoje, a coisa vai por aí: a mesada não exige uma contrapartida para ser dada, mas pode ser cortada momentaneamente em caso de mau comportamento. Se compararmos esta situação com o que acontece nos Estados Unidos, veremos uma tremenda diferença na mensagem que um pai passa a seus filhos – lá o dinheiro é geralmente fruto de tarefas caseiras que as crianças têm de fazer. Ajude sua mãe com a louça, arrume seu quarto, recolha as folhas no quintal, e você receberá um dinheirinho. O legal é que isso não fica somente dentro da família da criança (ou adolescente), que acaba fazendo essas tarefas também para vizinhos, descobrindo desde cedo como empreender e criar sustento próprio. A mensagem é clara: você não está ganhando, você está merecendo. E antes que alguém venha argumentar que não se pode condicionar o amor aos filhos, já digo que mesada não é ato de amor e nem obrigação dos pais para com os filhos.

Outra diferença muito interessante entre os dois países está na concepção linguística do trato com o dinheiro. Aqui no Brasil perguntamos “quanto você ganha?” e respondemos “eu ganho cinco mil por mês”, enquanto um americano utiliza equivalentes bem diferentes; lá se pergunta “quanto você faz?” (how much do you make?) e se responde “eu faço cinco mil por mês”. Ou seja, aqui nós ganhamos dinheiro, lá eles fazem dinheiro. Percebe a diferença? Ganhar não traz consigo a obrigação, o merecimento e o esforço. Fazer é diferente, é algo que requer a ação direta da pessoa, que denota atitude. Lá eles aprendem desde crianças que não se ganha dinheiro do nada, mas que toda remuneração é decorrência de nossos esforços e trabalho, evoluindo assim da condição de bebê pidonho para adulto realizador. Vale mencionar que o Obama tem tentado de todas as maneiras acabar com essa mentalidade, mas que ainda não conseguiu. Já aqui…

O governo petista sabe muito bem que o brasileiro é assim. Ou você acha que é apenas uma coincidência que tenhamos tantos programas assistenciais eleitoreiros? Bolsa-Família, Bolsa-Leite, Bolsa-Casa, Bolsa-Geladeira, Bolsa-Presidiário, Bolsa-Eletrodomésticos, e por aí vai: somos o país dos Mendigos Tupiniquins. Pede-se o tempo todo, em todos os lugares, para qualquer pessoa, mas principalmente para o governo. E assim vive o brasileiro: gente pedindo de um lado, e o governo dando (uma miséria) do outro; no meio ficam todos aqueles que trabalham todos os dias para pagar os impostos que irão sustentar o pessoal das pontas. Como consequência, quem pede vota em quem dá, e quem paga vota em quem não ganha. E assim se usa a democracia da forma mais perniciosa possível, comprando as pessoas pelo preço miserável que elas mesmas se atribuem. Não é difícil perceber que esse não é um ciclo virtuoso, muito pelo contrário.

O mais triste de tudo isso é que hoje o povo brasileiro pede dinheiro e recebe esmola, pede comida e recebe pasto, pede justiça e recebe afronta. A continuar assim, não demorará muito para que peçamos liberdade e recebamos o cárcere, que peçamos a paz e recebamos a morte. Temos que parar com isso – chega de pedir! Que me desculpem o clichê, mas precisamos de gente que faz.

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Flavio Quintela, escritor, edita o blog Maldade Destilada e está lançando, pela Vide Editorial, seu primeiro livro: Mentiram (e muito) paramim.

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