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sexta-feira, 28 de março de 2014

Meio século

Armando Luiz Malan de Paiva Chaves - Folha de São Paulo
Trinta e um de março de 1964 é uma data histórica. Interpretá-la cabe a historiadores, em pesquisa isenta, incluindo-se os testemunhos de quem a viveu. Como eu.

O povo enfrentava carestia. Havia ameaças à propriedade privada. Quem procurava informar-se via a tensão aumentar. Ninguém acenava com medida corretiva. João Goulart, então presidente da República, no comício da Central do Brasil, a 13 de março, acendeu uma fogueira. Embalou a facção governista e seus apoios sindicais e populares para a guinada à extrema esquerda havia muito esperada. Em contrapartida, a mídia reagiu, cobrando atitude das Forças Armadas. No meio político, expectativa, sem planejamento de ação colegiada. No militar, o legalismo começava a dar lugar à necessidade de reação.

Em São Paulo, a iniciativa foi das mulheres. Em impressionante convocação boca a boca, a Campanha da Mulher pela Democracia promoveu, em 19 de março, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Oitocentas mil pessoas em massa compacta caminhando pela cidade.

Castelo Branco, então chefe do Estado-Maior do Exército, decidiu-se, em 20 de março, por expedir um documento no qual dizia serem "evidentes duas ameaças": "O advento de uma constituinte para reformas de base e agitações generalizadas do CGT (Comando Geral dos Trabalhadores). A ambicionada constituinte é um objetivo revolucionário pela violência. Para talvez submeter a nação ao comunismo de Moscou? Isso sim é que seria antipátria, antinação e antipovo. Não, as Forças Armadas não podem atraiçoar o Brasil". Provocou impacto. Os militares, em maioria, incorporaram a lição.

Em 25 de março, marinheiros se revoltaram e entraram em greve. Em decisão política, foram imediatamente anistiados. Era a desmoralização da autoridade militar.

Em 30 de março, o presidente Goulart compareceu a uma assembleia do Clube dos Subtenentes e Sargentos. Após ouvir discursos que punham em xeque a hierarquia, usou a palavra para, ele mesmo, promover e apoiar a indisciplina.

Foi a gota que faltava para transbordar o cálice de fel acumulado com tantos desmandos. No dia seguinte, a tropa de Minas Gerais antecipou-se ao planejamento para pressionar militarmente o governo. Com apoio do governador Magalhães Pinto, marchou para o Rio de Janeiro decidida a depor o governo. Era o desembocar da contrarrevolucão e o abandono do cargo por Goulart.

Seguiu-se a indicação de Castelo Branco para a Presidência da República. Eleito com 361 dos 388 votos pelo Colégio Eleitoral formado no Congresso, foi empossado em 15 de abril. Era hora de recompor a ordem.

Os comandantes militares haviam editado ato institucional pelo qual assumiam autoridade revolucionária sobre os destinos da nação. O presidente eleito revelou liderança. Voltou-se a executar o plano de governo, auxiliado por renomados colaboradores. Criados o Banco Central, o Banco Nacional de Habitação, o Estatuto da Terra, o Instituto de Reforma Agrária e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Unificados os institutos de Previdência Social.

Cinquenta anos se passaram. Pessoas maduras à época, ainda lúcidas, têm gravado na memória o que viram, sentiram e como reagiram. Que os historiadores as consultem.





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Armando Luiz Malan de Paiva Chaves, 86, é general de Exército reformado

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